Análise Arkade: The Gardens Between é uma jornada nostálgica, mas repetitiva
Prepare-se para uma jornada cheia de nostalgia e significado em The Gardens Between, game que acompanha a trajetória de dois amigos em busca de suas memórias e da origem de sua amizade.
Jardins de nostalgia
The Gardens Between nos apresenta a dois amigos — Arina e Frendt — que estão inseridos em uma realidade surreal, onde pequenas ilhas reúnem elementos que foram marcantes na infância deles.
Como este é mais um daqueles jogos com narrativa não-verbal, vou tomar a liberdade de pegar um pedacinho da descrição do game na página oficial do Steam:
“Juntos, eles embarcam em uma jornada emotiva que os leva a ver a importância de sua amizade: memórias construídas, o que vale a pena ser lembrado e o que deve permanecer no passado”.
Ou seja, é uma jornada bastante introspectiva na qual iremos passear pelas memórias de dois amigos que se conhecem há bastante tempo, e construíram muitas memórias juntos — umas boas, outras ruins.
Ao revisitar um número específico de memórias, criamos uma constelação inspirada nelas. Não há diálogos ou explicações, mas o tom pacífico e suave da aventura consegue ser tão envolvente quanto uma narrativa elaborada.
Rebobinando o tempo
Mecanicamente, The Gardens Between é um jogo bastante simples: a realidade em que o jogo se passa possui conceitos temporais bastante… incomuns, de modo que podemos ir para frente ou para trás no tempo livremente, acompanhando o trajeto dos personagens e as coisas que acontecem ao redor deles enquanto manipulamos o tempo.
Na verdade, sequer controlamos os personagens: cada jardim é meio que uma animação, que “assistimos” se desenrolar, podendo interagir com alguns poucos elementos aqui e ali. Um dos garotos carrega uma espécie de lampião — que deve obrigatoriamente chegar aceso ao final de cada fase –, enquanto o outro é capaz de acionar certos mecanismos.
Na prática, o papel do jogador resume-se mais ou menos a operar um bom e velho videocassete, adiantando e rebobinando a fita (que aqui é o tempo). Porém, há coisas que mudam neste ir e vir, e descobrir o que muda — e, principalmente, como essas mudanças podem nos ajudar a prosseguir — é o verdadeiro (único, na verdade) desafio do jogo.
Acho que fica mais fácil de entender se eu mostrar um pouco de gameplay, não é? Então, clique no play aí embaixo e confira os primeiros 8 minutos e pouco de The Garden Between, com a resolução de 3 jardins:
Vimos apenas 3 ilhas ali em cima, mas o jogo todo se resume a isso: cada jardim é um grande environmental puzzle animado, que deve ser resolvido com atenção, um pouquinho de raciocínio lógico e o uso desta habilidade de adiantar/rebobinar o tempo. Algumas ilhas são mais complexas, outras menos, mas geralmente achar a solução é mais questão de atenção do que de inteligência.
Repetitividade
Ainda que eu tenha gostado de minha experiência com The Gardens Between, não se pode negar que ele é um bocado repetitivo. Ele se apoia em uma única mecânica por toda sua duração, de modo que não há um real senso de progressão, apenas uma sucessão de ilhas/puzzles, uma após o outra.
Como se isso não fosse o bastante, a própria mecânica de rebobinar o tempo acaba tornando as coisas (ainda mais) repetitivas: você “assiste” a uma cena até não poder prosseguir, então rebobina o jogo e tenta descobrir o que pode fazer para liberar o caminho. Muitas vezes é preciso inclusive avançar e retroceder o tempo mais de uma vez para que algo significativo aconteça.
Nada é realmente complexo, mas em algumas fases a própria movimentação da câmera dificulta a visibilidade, exigindo que a gente “vá e volte” várias vezes. Uma fase particularmente complexa envolve cubinhos saltitantes sujos de tinta — fica bem difícil acompanhar a trajetória deles por conta do movimento da câmera, que se move conforme o ir e vir do tempo.
Assim, a gente passa algum tempo indo e vindo na mesma fase até conseguir levar os dois amigos até o topo. É uma mecânica interessante e engenhosa, mas que por estar sozinha no jogo, acaba evidenciando este feeling de repetitividade latente.
Audiovisual
The Gardens Between é um jogo muito bonito. Vê-lo em movimento é quase como assistir a uma animação especialmente bem produzida, cheia de detalhes e com muitas coisas acontecendo simultaneamente. Podermos controlar o tempo para apreciar o efeito borboleta que se desenrola em cada jardim é uma experiência deveras relaxante.
Ajuda a gerar empatia o fato de muitos elementos mostrados no game terem feito parte da infância dos próprios jogadores: os amigos velejam em uma casa da árvore, e há jardins com TVs de tubo, videogames antigos, brinquedos, guloseimas e cestas de piquenique. Não estamos revisitando a nossa própria infância, mas sem dúvida há bastante em comum para gerar alguma nostalgia catártica.
O áudio não chega a se destacar, mas seu tom etéreo combina com a proposta serena do game, e ajuda a potencializar a imersão. Os efeitos são cheios de ecos, e há barulhos intermitentes que reforçam a ideia de que estamos em uma realidade paralela, na qual o tempo é algo muito mais elástico.
Vale ressaltar que, por mais que não tenha uma narrativa tradicional, The Gardens Between chega com menus e legendas em português brasileiro. Não há muito o que ler aqui, mas pelo menos o pouco que a gente vai ler, será em um idioma que compreendemos.
Conclusão
Eu gosto do conceito de The Gardens Between, mas acho que ele carecia de mais conteúdo para ser realmente recomendável. O jogo sem dúvida cria situações engenhosas, mas seu escopo é tão limitado que, passado o deslumbramento inicial, o que sobra é a repetição, e uma mecânica que a gente mais assiste do que joga.
Esse é aquele tipo de jogo para ser jogado de forma homeopática: jogue um pouquinho de cada vez. Crie uma constelação de cada vez, antes de dormir. É simples, lúdico e relaxante, ótimo para desestressar.
Se você inventar de “maratonar” The Gardens Between, sem dúvida ficará de saco cheio dele depois de uma meia hora. Mas, se jogado de leve, um pedacinho de cada vez, ele se torna muito mais aprazível.
The Gardens Between será lançado amanhã (20/09), com versões para PC, Playstation 4 e Nintendo Switch. Este review foi feito com base na versão PS4 do game, com um código de acesso antecipado que recebemos da produtora.