Análise Arkade – The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom, uma pequena grande aventura!
Demorou quase 40 anos para Zelda protagonizar um jogo da série que empresta seu nome. Felizmente, a espera valeu a pena: The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom é um “pequeno grande jogo” cheio de carisma e criatividade!
Zelda: Echoes of Wisdom não é grandioso e expansivo como Tears of the Kingdom. Em muitos aspectos, ele olha para trás, e busca inspiração em jogos mais antigo da franquia.
De fato, em termos de apresentação, ele lembra muito o que vimos no remake de Link’s Awakening (não por acaso, ambos foram produzidos pelo mesmo estúdio, Grezzo). Mas, antes de nos aprofundarmos muito neste assunto, falemos da trama
Salvando o reino (e o Link!)
Zelda: Echoes of Wisdom “começa pelo fim” do que seria um jogo tradicional da série Zelda: controlamos o intrépido Link desbravando uma dungeon para salvar a princesa Zelda das garras do malvado Ganon.
Até aí, tudo normal. Quando Ganon é derrotado, porém, surge uma fenda sinistra, que suga o herói para suas profundezas. Em um último esforço, Link liberta Zelda do cristal que a aprisionava.
Quando escapamos da dungeon — que estava sendo engolida pela fenda –, descobrimos que fendas semelhantes se espalharam por todo o reino. E o pior: o Rei, pai de Zelda, foi tragado por uma dessas fendas, bem como diversos outros personagens, que acabam sendo substituídos por clones sombrios enquanto suas versões reais ficam aprisionadas no “mundo inerte” que existe dentro das fendas (e corresponde às principais dungeons do jogo).
Felizmente, uma criaturinha mágica chamada Tri une forças com Zelda, prometendo ajudá-la a resgatar seus amigos e selar as fendas de uma vez por todas. Juntos, Zelda e Tri vão viajar pelos quatro cantos de Hyrule, acabando com essas fissuras e ajudando a população.
Os ecos da sabedoria de Zelda: Echoes of Wisdom
Em termos de gameplay, o destaque de Zelda: Echoes of Wisdom é justamente o sistema de ecos. Graças ao cetro mágico recebido de Tri, Zelda é capaz de absorver a essência de inimigos e objetos, podendo então, criar cópias (ecos) deles para ajudá-la.
E isso é útil tanto no combate quanto na resolução de puzzles. Zelda é praticamente indefesa, mas pode summonar as criaturas que absorve para lutar por ela. E nos puzzles, prepare-se para conjurar os mais variados objetos — camas, rochas, vasos, estátuas, pisos voadores — para ajudá-lo a chegar à solução do enigma.
Parece simples, mas há centenas de possibilidades (o que torna o menu de objetos/criaturas conjuráveis um tanto caótico). Nem sempre o jogo espera que você seja super criativo, e isso é ótimo, pois permite que o jogador se expresse da forma que quiser.
Em minha análise de Tears of the Kingdom, eu pontuei que não gosto de jogos que me obrigam a construir coisas. Echoes of Wisdom, felizmente, não nos obriga a nada: ele nos dá as ferramentas, mas a gente escolhe como e onde usar.
Ser criativo pode render boas surpresas e é parte da diversão, mas você nunca será penalizado se quiser simplesmente empilhar meia dúzia de camas para fazer uma escada. Inclusive, empilhar coisas é uma maneira simples e eficiente de “trapacear” no jogo, pois nos permite, por exemplo, subir nas copas das árvores para cortar caminho.
Claro que há uma limitação: Tri possui uma “rabiola”, que vai aumentando ao longo da campanha e define quantos elementos simultâneos podemos conjurar. Criaturas mais poderosas consomem mais partes dessa “rabiola”, de modo que você precisa ser estratégico (e econômico) na hora de escolher o que vai summonar.
Quando a Zelda vira Link…
Um recurso do jogo que não acho particularmente bem implementado — ainda que seja bastante útil — é a possibilidade da Princesa literalmente tornar-se o Link por alguns segundos, o que a torna bem menos indefesa, uma vez que passa a poder atacar diretamente os inimigos com espada e arco.
Veja bem: tornar-se o Link é essencial em diversos combates, especialmente os chefes. Porém — e por favor, não venha me taxar de lacrador por dizer isso –, sinto que fazer a Zelda transformar-se no Link para tornar-se capaz de lutar parece um pouco “machista”, saca? Como se, mesmo sendo a protagonista, ela ainda fosse apenas uma “donzela em perigo”.
Porque não permitir que ela simplesmente empunhe a espada e lute por si mesma? E, para manter a limitação de uso, ela poderia tomar uma poção de força, ou algo do tipo. De fato, há todo um sistema de criar sucos que nos curam e potencializam nossos atributos por algum tempo que serviria muito bem a este propósito. Vimos a Princesa Peach muito mais empoderada e independente quando ganhou seu próprio jogo.
Deixando o sexismo de lado, há outro ponto: este recurso de tornar-se o Link para “resolver as coisas na porrada” me parece uma decisão de game design que visa “camuflar” quão monótonos e demorados podem ser os combates quando não podemos atacar diretamente os inimigos.
Digo isso porque, como não controlamos os guerreiros que conjuramos, ficamos à mercê da inteligência artificial deles fazer um bom trabalho (ou não). E em geral eles eles não têm muita vida, e possuem basicamente um ataque. Considerando o tempo do monstrinho surgir, localizar os inimigos e atacar, cria-se um loop de comportamento que deixa a cadência dos combates mais lenta do que deveria.
Audiovisual & Zelda: Echoes of Wisdom em português!
Zelda: Echoes of Wisdom traz o visual fofinho similar ao remake de Link’s Awakening. O que meio que remete aos Zeldas clássicos, com visão de cima, e ao mesmo tempo concede ao jogo um ar de diorama. O fato dos personagens parecerem bonequinhos aumenta ainda mais essa impressão.
Ainda que não ofereça a mesma experiência grandiosa de Breath of the Wild e Tears of the Kingdom, Echoes of Wisdom é grande à sua maneira. A Hyrule é um “pequeno grande” reino: todas as áreas são interligadas, e a navegação ocorre sem divisões ou telas de loading. Há um eficiente sistema de fast travel (inclusive dentro de dungeons) que otimiza a exploração.
Li por aí que a performance do jogo dá umas engasgadas feias, como se o Switch estivesse “pedindo arrego” para rodar o jogo. Joguei a campanha tanto pela TV quanto em modo portátil, e não identifiquei nada realmente incômodo na performance. Claro que rolam alguns slow downs em chefes gigantes, ou com muita coisa acontecendo na tela, mas no geral, achei a experiência satisfatória.
O departamento sonoro mantém a qualidade que se espera de um jogo do calibre de Zelda, com belas músicas orquestradas e muitos efeitos sonoros nostálgicos. E, é importante ressaltar, pela primeira vez na história da franquia, temos um The Legend of Zelda totalmente em português, e a Nintendo segue fazendo um ótimo trabalho de localização, adaptando de forma criativa e divertida termos clássicos da franquia.
Conclusão
The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom é o ponto de encontro entre o clássico e o novo. É um jogo que parece muito os “Zeldinhas” de antigamente, mas que também brinca com a liberdade (tanto criativa quanto de exploração) que vimos nos títulos mais recentes da saga.
Eu realmente acho que a Zelda merecia ser capaz de lutar sem precisar “virar um homem” — ou mesmo que o sistema de summonar criaturas fosse mais efetivo, para se sustentar por si só — mas esta dicotomia acaba alcançando um meio-termo que, se não é perfeito, é funcional.
E o mais interessante, no fim das contas, é notar como a franquia Zelda pode coexistir em diferentes formatos. Tears of the Kingdom é de maio de 2023 e agora, no último trimstre de 2024, já temos um novo Zelda, que oferece uma experiência totalmente diferente — mas, ao mesmo tempo, familiar.
E isso é ótimo. Fale o que quiser da Nintendo, mas ela é uma empresa que diversifica bastante suas franquias, e no geral faz isso sem comprometer a qualidade. Mario consegue ser bom no 2D e no 3D. Metroid consegue ser bom tanto 2D quanto FPS. E Zelda, sem dúvida, consegue ser bom tanto na grandiosidade da terceira pessoa quanto na fofura da visão isométrica.
The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom está disponível exclusivamente para Nintendo Switch. O game possui menus e legendas em português brasileiro.