Análise Arkade: The Sinking City e suas complexas investigações

10 de julho de 2019
Análise Arkade: The Sinking City e suas complexas investigações

Os contos de H. P. Lovrecraft mais uma vez invadem o mundo dos vídeo games em uma nova aventura investigativa. The Sinking City é o mais novo game a mergulhar mais profundamente na mitologia de terror cósmico criada pelo lendário escritor, e é hora de conferirmos como o game acabou se saindo!

O terror da cidade alagada de Oakmont

Análise Arkade: The Sinking City e suas complexas investigações

The Sinking City está ambientado em Oakmont, uma cidade litorânea no estado de Massachusetts, que está passando por uma terrível catástrofe. Após um intenso período de tempestades, a cidade foi irreparavelmente devastada, com várias ruas destruídas e invadidas pela água do mar, a cidade começou a afundar, estando sua maior parte completamente alagada e desolada.

Não bastasse isso, a cidade ainda fica próxima de Innsmouth, uma das lendárias cidades criadas por Lovecraft em seus contos, sendo o palco principal do conto A Sombra sobre Innsmouth. Essa cidade também passou por uma catástrofe, que resultou em sua completa destruição, fazendo com que seus habitantes buscassem refúgio em Oakmont, os mesmos habitantes de pele escamosa e rostos com feições de peixes e sapos do conto original.

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Um dos habitantes de Innsmouth, com suas terríveis feições

A história é protagonizada pelo detetive particular Charles Reed, um ex-marinheiro que após sofrer um naufrágio, passou a ter terríveis visões e pesadelos. Logo ele descobre que todo o estado de Massachusetts está sofrendo com histeria e alucinações. E de alguma forma, Oakmont está no centro de tudo isso. E então ele vai até a cidade para tentar entender a loucura que se espalha por todo lado, bem como para encontrar uma cura para seus próprios pesadelos.

Um thriller investigativo

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The Sinking City é um game de investigação e exploração. Mas diferente de Call of Cthulhu, lançado no final do ano passado, esse novo game apresenta uma cidade inteira para se explorar e gameplay em terceira pessoa, contando ainda com combates.

O game consiste em resolver vários casos ao redor de toda a cidade para ir descobrindo pistas e informações que vão desvendando os mistérios da cidade. O game oferece casos principais, que vão dando seguimento na narrativa e casos secundários, que expandem o lore da cidade.

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Como uma aventura investigativa, o game é muito bem sucedido, talvez bem sucedido até demais. Aqui, o jogador deve ir atrás das pistas para conseguir desvendar casos. Diferente de Call of Cthulhu que era bem linear e fácil.

Aqui vai um exemplo: Na missão do vídeo abaixo, Charles está procurando uma expedição perdida que estava investigando a loucura na cidade. Após buscar muitas pistas, enfim o jogador descobre onde a expedição está e vai até lá. Porém as coisas estão estranhas, e o jogador deve vasculhar os cenários, conversar com NPCs e montar as informações para descobrir o que aconteceu.

Podemos definir o game superficialmente como sendo “burocrático”. Sendo um game de investigação, para avançar nos casos você deve conversar com pessoas, vasculhar cenários em busca de pistas, coletar informações de diferentes fontes e cruzar todas as informações para achar uma solução.

Por exemplo, em um caso, você estará vasculhando um lugar e descobrirá que ele foi saqueado por um bandido conhecido da cidade. Então, você terá que ir até a delegacia e pesquisar delitos através de tópicos-chave. Então, você descobrirá o endereço do assaltante, aí deverá ir até lá e tentar encontrar a pessoa para descobrir quem a contratou, porque ela invadiu tal lugar e etc. E após isso você precisará organizar as informações que colheu e chegar a uma conclusão no Palácio da Mente, um menu que serve para você cruzar as informações que coletou.

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No Palácio da Mente você deve dar sentido às pistas que coletou em cada caso

O game tem uma progressão bem lenta, pois você precisará ir pra cima e pra baixo na cidade de Oakmont, uma cidade difícil de se transitar por diversos motivos, e terá que fazer isso em todos os casos que trabalhar. Se o jogar gostar de investigações, certamente vai se divertir com o game, porém, The SInking City não é um jogo para todos. Quem não gostar de precisar seguir vários caminhos em busca de pistas, ou quem gosta de ir direto ao ponto, dificilmente progredirá muito aqui.

A dificuldade de se recriar as obras de Lovecraft

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The Sinking City é um game altamente inspirado na obra de Lovecraft, possuindo vários elementos de seus contos, como a já mencionada cidade de Innsmouth e seus habitantes. O game ainda contém sombria Ordem Exotérica de Dagon inserida em sua narrativa, o que é algo muito legal para quem é fã do escritor, porém o game não se aprofunda ainda mais nessa mitologia de terror cósmico, mas a usa como base para sua própria mitologia.

Isso é ao mesmo tempo um ponto positivo e negativo. Positivo pois segue seu próprio caminho sem se basear demais nas obras em que se inspira. E negativo pois apresenta várias coisas provindas dos contos, mas o desenvolvimento final deixa a desejar.

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Um dos maiores desafios da mídia atual é recriar visualmente o horror concebido por Lovecraft, tanto que se você parar para pensar, não há muitos filmes grande baseado em sua obra (ou pelo menos não muito conhecido). O horror criado por Lovecraft tem o intuito de ser maior do que a mente humana pode processar. São monstros sem forma, inimigos invisíveis e impossíveis de se definir, entidades tão poderosas que nenhum personagem pode derrotar e etc.

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Assim, quando uma obra se propõe a se aprofundar na obra de Lovecraft, o que mais se espera é ver o que até então só se pôde imaginar através da leitura. Ver os monstros gigantescos e de formas grotescas, ver os eventos cataclísmicos difíceis de entender se tornando coerentes, ver o horror que Lovecraft tanto escreveu mas deixou somente na imaginação. E bem aí a maioria das obras falha, pois não mostra o que mais se deseja ver.

Talvez seja uma forma de imitar a escrita de Lovecraft, que muitas vezes faz com que seus monstros apareçam somente na última página de seus contos, ou por meros segundos. Ainda assim, temos suas descrições (ou a tentativa delas), sabemos como essas criaturas devem mais ou menos aparentar. É quase como aquele caso no cinema de filme de monstro que não mostra o monstro. Isso é frustrante.

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O game oferece apenas pequenas cenas dos grandes terrores do game

The Sinking City mostra os horrores que infestam a cidade de Oakmont, isso preciso dar crédito ao game. Porém, o final da aventura acaba sendo um tanto insatisfatório. São três opções de finais, cada um com poucos minutos de cutscenes, e após passar por todos os casos e toda a demorada burocracia para chegar ao final, os finais acabam não correspondendo a expectativa. Faltou mais terror, desespero e visual nesses finais.

Gameplay e sistema de decisões

The Sinking City tem uma jogabilidade padrão de um game de tiroteio em terceira pessoa, apesar de tiroteio e combate ser algo secundário. O game foca em investigações, então a maior parte do tempo você estará andando pelas ruas, ou navegando num pequeno barco motorizado por ruas alagadas, conversando com pessoas e procurando pistas em cenários.

Como Oakmont é uma cidade separada do continente por conta do alagamento, a cidade regrediu ao ponto do dinheiro não ter mais valor, assim todos os recursos do game são muito escassos, e munição é o artigo mais valioso da cidade. Aliás, se acostume a usar o mapa, pois para encontrar onde ir você terá que se guiar por nomes de ruas, pois não há nenhum ponto indicando para onde ir. É você que deve descobrir o caminho.

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Esse é um dos monstros que o jogador encontrará no game

Muitas ruas da cidade e muitas residências estão infestadas de monstros, e para sobreviver o jogador terá que saber quando encarar o perigo, pois cada tiro conta. Munição e recursos só são encontrados ao se vasculhar caixas e latas de lixo pela cidade, e também são recebidos como recompensa ao se terminar casos.

Para sobreviver, o jogador pode criar munições, itens de cura, granadas e etc com recursos coletados, por isso, o jogador deve sempre ficar atento para encontrar caixas com itens para coletar. E é claro, não deverá desperdiçar recursos.

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Charles Reed possui uma habilidade especial de investigação chamada Olho da Mente, ao ser ativada, o jogador consegue ver coisas ocultas nos cenários, como marcas que indicam casas que podem ser acessadas e locais de itens, além de conseguir ter visões sobre cenas de crimes, conseguindo derrubar ilusões e descobrindo coisas escondidas.

Porém, usar o Olho da Mente consome sanidade, assim como ao olhar diretamente para os monstros, o que torna as batalhas ainda mais difíceis, pois você precisa mirar neles para atirar, mas se olhar muito para eles perderá sanidade. Se sua sanidade acabar, Charles recebe uma grande quantidade de dano, chegando a morrer instantaneamente em dificuldades elevadas. Além disso, sua visão fica distorcida, com ilusões aparecendo diante de si, deixando tudo escuro, ou fazendo tudo parecer estar derretendo.

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Usar o Olho da Mente revela segredos ocultos e ilusões

O game possui diversas decisões para o jogador tomar, que afetam de forma leve o andamento da narrativa. Em muitos casos você será obrigado a escolher um lado e nunca será uma escolha fácil, ficar do lado de um assassino que pode ter ajudar, ou do lado de alguém envolvido com o culto de Dagon, que pode te ajudar de outra forma?

Suas escolhas afetam pouco a narrativa do game, tendo mais impacto dentro dos casos e em alguns poucos diálogos, não influenciando os finais. Porém, as decisões realmente importantes do game acabam não tendo peso. Você pode escolher salvar ou não um personagem, mas o resultado vai ser exatamente o mesmo, o que prejudica o próprio sentido de oferecer uma escolha.

Audiovisual

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The Sinking City possui um visual com bastante sujeira e água, porém muita repetição. Os NPCs possuem poucos modelos diferentes, com muitos rostos iguais apenas com cabelos ou roupas diferentes.

O mesmo para interiores de casas e mansões, todas são iguais, muitas vezes sem qualquer diferença entre si, apenas com interiores levemente diferentes em pontos importantes, como casas de NPCs ricos e etc.

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Você encontrará muitas casas idênticas a essa

O que predomina no game é a água, todo lugar que você vai tem água, seja em ruas alagadas ou na chuva incessante que cai do céu. Aliás, toda essa água torna a exploração do game bem cansativa. Pois você precisará andar, pegar um barco, sair do barco, andar e o ciclo se repete. O game oferece alguns pontos de Fast Travel, mas você precisa interagir com um para ir até outro. Isso torna ir do ponto A ao B muitas vezes muito entediante.

Os monstros do game possuem um visual interessante, apesar de também rolar muita repetição, com corpos formados por cadáveres fundidos, aranhas formadas por braços humanos, corpos deformados que vomitam ácido e etc. O fundo do mar do game é especialmente bem feito, com muitas ruínas e criaturas imensas nadando a distância.

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O game possui uma boa trilha sonora, com músicas bem sombrias que combinam perfeitamente com a atmosfera do game. Aliás, o game possui uma atmosfera bem feita. Há transição de dia e noite no game, além de momentos de chuva forte e fraca e até mesmo neblina. Andar por Oakmont na neblina até lembra levemente de Silent Hill.

Conclusão

Análise Arkade: The Sinking City e suas complexas investigações

Como já dito antes, esse é um game muito burocrático. Não é um game que se termina rápido, pois você deve ir pra cima e pra baixo pra buscar informações para montar suas pistas e conseguir progredir na história. Sendo assim, esse não é um game para todos os públicos.

Mas como um game de investigação é bem sucedido no que se propõe, fazendo o jogador quebrar a cabeça para entender e solucionar os casos que ir pegando pelo caminho. Porém peca na hora de apresentar todo o potencial da obra de Lovecraft, ainda que use de forma bem interessante muitos de seus elementos.

The Sinking City foi lançado no dia 27 de junho com versões para PC, Playstation 4, Xbox One e Nintendo Switch.

Renan do Prado

Amante de Metal Gear, platinador de Soulsborne e exímio jogador online (quando o lag não atrapalha).

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