Análise Arkade: The Sojourn tem puzzles, estátuas e quase nada além disso
Quem gosta de puzzle games com um tom mais idílico agora tem uma nova opção: The Sojourn é um jogo muto bonito, que nos coloca para interagir com estátuas para avançar por um mundo que está em constante transformação.
Estátuas, puzzles e portas
The Sojourn não perde tempo apresentando uma narrativa densa: o jogo já começa nos apresentando um puzzle. Ao resolvê-lo, uma porta se abre. Nesta nova área, um novo puzzle nos aguarda. Resolva-o para abrir mais uma porta, resolver mais um puzzle… e assim sucessivamente.
Sei que isso pode parecer um tanto resumido, mas a verdade é que essa é exatamente a experiência que The Sojourn entrega. Não há missões para cumprir, lugares diferentes para ir, nem personagens com quem conversar.
O que vemos de diferente são basicamente estátuas de pessoas vendadas, que parecem ter sido petrificadas no meio de seus afazeres. Sem muito o que fazer com elas, o que nos resta é simplesmente seguir em frente, resolvendo puzzles que abrem portas para novos puzzles.
Resolvendo puzzles
O gameplay é bastante simples, mas utilizado de forma engenhosa na composição dos enigmas. O core do jogo envolve a interação com estátuas, que possuem propriedades “mágicas” e afetam o mundo ao seu redor.
Para interagir com as estátuas, adentramos uma versão “sombria” do mundo, na qual temos um número limitado de passos para dar. Ou seja, devemos — no intervalo destes passos — dar um jeito de levar estátuas até certos lugares, para que elas ativem mecanismos e nos permitam prosseguir.
Ao invés de ficar explicando com palavras, vou mostrar aqui a resolução de um dos primeiros puzzles do game para você entender mais ou menos qual é a vibe do jogo:
Este puzzle envolve basicamente a primeira habilidade do jogo, que é a de “trocar de lugar” com esse tipo de estátua. Conforme mais portas vão sendo abertas, as coisas vão ficando mais complexas, e novos elementos vão sendo introduzidos. Há estátuas em forma de harpa, por exemplo, que reerguem pontes e passarelas arruinadas só pelo tempo que sua música toca.
Posteriormente, teremos que redirecionar fachos de luz, desativar “tentáculos” de escuridão que bloqueiam passagens, e cumprir diversas etapas distintas para resolver apenas um puzzle. Os quebra-cabeças são relativamente simples, mas bem elaborados, e exigem atenção e raciocínio para serem totalmente desvendados.
Uma jornada rumo a lugar nenhum
O maior problema de The Sojourn é sua falta de propósito. Eu costumo gostar de jogos com histórias vagas e interpretativas — tipo Journey ou Inside — mas a verdade é que aqui mal temos o que interpretar. O jogo é uma sucessão de puzzles que vão ficando gradativamente mais complexos, mas não necessariamente mais interessantes.
Senti que falta recheio, propósito, motivação. Se você não gosta de puzzles, vai ficar entediado após 5 minutos, pois puzzles são só o que temos aqui. Há jogos que contam histórias através de seus puzzles, ou mesmo aqueles que, apesar de vagos e abstratos, possuem um senso de evolução — como The Witness, por exemplo, ou The Gardens Between.
Aqui não há nada disso, de modo que, se o jogador não for cativado pelo desafio puro e simples dos puzzles do jogo, não há nada para mantê-lo minimamente interessado em continuar. Sua motivação deve ser única e exclusivamente “resolver o próximo puzzle”.
Por um lado, entendo que há alguma coragem nesta decisão — afinal, os produtores mantém jogo e jogador focados na experiência que eles criaram. Por outro, acho que quando a experiência em si é tão repetitiva e sem atrativos, fica aquela sensação de “por que estou jogando isso?”, saca?
A verdade é que há dezenas de puzzle games mais interessantes — e com boas histórias — por aí, que, comparativamente, tornam a jornada deste The Sojourn vazia, apática, sem graça. Um jogo repetitivo, que corre o risco de ficar chato rapidamente.
Audiovisual
O que não necessariamente tira os méritos do jogo por sua apresentação. The Sojourn é muito bonito, e seu estilo “fantasia com um traço meio cartunesco” entrega lindos cenários e paisagens caprichadas. A forma como certos elementos vão sendo construídos conforme nos aproximamos deles (em um esquema meio Bound) é lindo, e dá um ar surreal que cai como uma luva no game.
A trilha sonora segue a mesma pegada, tons etéreos e relaxantes que são tão suaves e idílicos que correm o risco de deixar o jogador sonolento. Estamos falando de um jogo sem mortes, confrontos ou punições, e todos os elementos audiovisuais do game conversam para criar essa atmosfera “good vibes”.
Conclusão
Enquanto há jogos por aí que trazem conteúdos demais e tornam-se quase infinitos, The Sojourn vai no sentido oposto, e traz conteúdo “de menos”. Sua jornada é curta, linear e pautada por puzzles que tomam como base um punhado de mecânicas simples, que rapidamente tornam-se repetitivas.
Então, acho sinceramente que fica difícil indicar The Sojourn para qualquer pessoa que não seja viciada em puzzles, e gosta de exercitar seu cérebro com algo novo sem se preocupar com história, motivação, desenvolvimento.
Não sei quantas pessoas que se encaixam nessa descrição existem por aí, mas ouso dizer que são poucas. Videogames têm um potencial ludo-narrativo tão rico, e pode ser utilizado para contar histórias de tantas maneiras, que quando um jogo bonito como esse abre mão da narrativa em prol de algo puramente mecânico, a sensação que fica é a de que o potencial da mídia foi desperdiçado.
Dito isso, há alguns ótimos puzzles aqui, e o jogo tem uns (poucos) momentos de deslumbramento… mas, sem uma história, um propósito, isso é tão pouco que só o que posso fazer é relembrar a você que existem puzzle games melhores — e com ótimas narrativas — disponíveis por aí.
The Sojourn foi lançado em 20 de setembro, com versões para PC, Playstation 4 e Xbox One. O jogo possui menus e legendas em português brasileiro.