Análise Arkade: The Town of Light mistura realidade e ficção em um sanatório perturbador

21 de junho de 2017

Análise Arkade: The Town of Light mistura realidade e ficção em um sanatório perturbador

Prepare-se para um passeio sombrio pelas ruínas de um sanatório que existiu de verdade. The Town of Light é um jogo atmosférico e envolvente, que mistura realidade e ficção para contar uma história sombria.

Uma viagem ao passado

The Town of Light apresenta uma narrativa fragmentada, que vai sendo apresentada conforme nos aprofundamos pelas sinistras instalações abandonadas do hospital psiquiátrico de Volterra, instituição que existiu de verdade e teve sua imagem manchada por acusações de maus tratos a pacientes e outras polêmicas.

Análise Arkade: The Town of Light mistura realidade e ficção em um sanatório perturbador

Nossa protagonista é Renee, mulher que foi uma paciente do local na década de 30, e teve sua vida marcada pelos traumas e acontecimentos que viveu ali. Décadas depois, ela revisita as ruínas do sanatório, disposta a enfrentar seus fantasmas do passado e aprender mais sobre si mesma e sobre tudo o que aconteceu ali.

Confira abaixo os 23 minutos iniciais do game:

Algo que o próprio release do game faz questão de afirmar é que “não há zumbis nem eventos sobrenaturais” aqui. Ainda segundo o press kit, “o único horror que você irá encontrar nesse jogo é a verdade, e ela é bem mais assustadora do que qualquer presença sobrenatural”.

Em busca da verdade

Na prática, The Town of Light é um “walk simulator” de gameplay simples, onde basicamente andamos para lá e para cá, abrindo portas e interagindo com certos objetos. Embora não seja um jogo tão aberto quanto Gone Home ou Everybody’s Gone to the Rapture, ele oferece bastante liberdade, pois o sanatório em si é grande e cheio de segredos.

Análise Arkade: The Town of Light mistura realidade e ficção em um sanatório perturbador

Conforme explora as diversas áreas do complexo, Renee vai relembrando de coisas que aconteceram por ali. Documentos, formulários e prontuários médicos são como peças de um grande quebra-cabeça, que vão se encaixando conforme ela vai descobrindo novas coisas e se aprofundando em sua própria memória.

Certos objetos e lugares despertam lembranças jogáveis, onde tudo assume um ar preto-e-branco distorcido e etéreo. Geralmente estas cenas vêm acompanhadas de revelações um tanto quanto chocantes sobre a “rotina” do sanatório e das questionáveis formas de “tratamento” que eram colocadas em prática ali.

Confira um destes momentos perturbadores no vídeo abaixo:

Por mais que boa parte dos horrores do game seja apresentado em forma de ilustrações, não deixa de ser impactante, afinal, este é um jogo que mistura ficção e realidade, ou seja, há boa dose de verdade em tudo o que é retratado ali, de métodos de tratamento questionáveis a assédio de funcionários e outras bizarrices.

Tomando decisões

Ainda que seja um jogo relativamente linear, pode acabar acontecendo de você simplesmente não saber direito para onde ir ou o que fazer. Geralmente a personagem solta comentários que dão pistas, mas caso você perca estas pistas, basta pressionar o touchpad do controle (jogando no PS4, claro), para que uma nova dica apareça no rodapé da tela. Não é nada que te diga explicitamente o que fazer, mas um norte para ninguém ficar perdido, então use este recurso sempre que necessário.

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A experiência como um todo é bastante linear, mas ocasionalmente pintam decisões, que funcionam de forma um pouco confusa: ao ler alguns documentos, podemos definir uma “linha de raciocínio” para Renee, que supostamente afeta a maneira com que ela relembra certos acontecimentos.

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É uma forma interessante de ramificar o conteúdo e sem dúvida deve aumentar o fator, replay… só não fica muito claro como ele funciona e até que ponto ele altera de fato a narrativa em si. Após cada decisão, ícones são mostrados, mas o jogo nunca nos ensina o que cada um deles significa, de modo que fica difícil entender realmente como estamos afetando a narrativa.

Audiovisual

Produzido com a sempre versátil Unreal Engine, The Town of Light é bem sucedido em reconstruir de maneira realista o enorme sanatório de Volterra. O visual do prédio em si é muito verossímil, e detalhes como a tinta da parede descascando nas paredes tornam a experiência ainda mais charmosa.

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Se sobrou capricho na composição dos cenários, faltou algum polimento nos modelos dos personagens. Sendo justo, não interagimos muito com outros personagens durante o jogo — mas os poucos que vemos são bem artificiais. O que é uma pena, pois os modelos “toscos” não conseguem transmitir ao jogador a sensação de angústia e desamparo que seriam condizentes com aquela realidade.

O mesmo não pode ser dito das cenas estáticas que conduzem a narrativa. O traço é cheio de personalidade, e consegue transmitir muito bem a aflição e o terror, ao mesmo tempo que transforma “enfermeiros” em bizarras criaturas sem rosto.

Tipo assim, ó:

Análise Arkade: The Town of Light mistura realidade e ficção em um sanatório perturbador

Por falar em dramaticidade, o game possui um trailer live action muito bacana, que não só dá um rosto para Renee, como também apresenta a versão real do sombrio sanatório de Volterra. Ainda que o material seja meio que “ignorado” pelo game, é um baita vídeo, muito bem produzido e impactante, confira:

Não há muita música aqui, mas quando há, ela é lúgubre e melancólica, feita sob medida para coroar momentos dramáticos e mexer com as emoções do jogador. Ah, e um detalhe que sempre é bom salientar, especialmente em se tratando de jogos independentes: The Town of Light está 100% legendado em português brasileiro, e no geral as legendas estão muito boas!

Conclusão

Pela temática e pelo visual, em uma primeira olhada muita gente pode pensar que The Town of Light é mais um desses jogos de terror nos moldes de Amnesia e Outlast. Mas não é. Ele tem uma atmosfera pesada e até vai te dar alguns sustos, mas no geral o que ele oferece é uma jornada muito mais intimista, que é sombria de um jeito mais sutil, mas nem por isso menos sinistro.

Análise Arkade: The Town of Light mistura realidade e ficção em um sanatório perturbador

Aqui você não será perseguido por monstros, não dará de cara com zumbis nem fantasmas. Só o que te espera é uma história que mistura crueldade, medo e um terror muito mais palpável do que jogos de terror “tradicionais” são capazes de nos proporcionar. E pensar que o game se passa em um lugar real e é inspirado por fatos só deixa tudo ainda mais perturbador.

The Town of Light chegou ao Playstation 4 e ao Xbox One em 6 de junho. O game já estava disponível para PCs desde o ano 2016. Falamos um pouco de sua fase alpha neste post.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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