Análise Arkade: The Witcher 3 Complete Edition no Nintendo Switch – um port milagroso
Tenho uma confissão a fazer: eu nunca terminei The Witcher 3. Há um ano, fiz um artigo falando da minha frustração por não conseguir terminar jogos muito grandes — e de lá para cá, não progredi nada na aventura de Geralt, Ciri e companhia.
A boa notícia é que, levando Geralt na mochila comigo para tudo que é lugar, pode ser que desta vez eu finalmente conseguirei acompanhá-lo até o fim de sua jornada!
Não é novidade para ninguém que The Witcher 3 é um jogo imenso. Seu mundo é vasto, rico e cheio de coisas para fazer, monstros para matar e lugares para explorar.
Esse tamanho todo é meio intimidador. Há anos que eu não ando tendo tempo para me entregar de corpo e alma a um jogo deste porte, que demande muito tempo e dedicação.
Felizmente, com o Switch, qualquer hora é hora, qualquer lugar é lugar. É “o fator Switch“ — que eu mencionei em minha análise de Overwatch no Switch — que faz dele a plataforma ideal para quem precisa jogar um pouquinho de cada vez. E é assim que eu hei de conseguir terminar a epopeia de Geralt — que chegou completa ao console da Nintendo, incluindo as 2 expansões.
Patinho feio? Nem tanto
Claro que sempre vai ter alguém para dizer “ain, mas no Nintendo Switch o jogo está mais feio”, ou “mas no Switch a resolução não é a mais alta”, ou ainda “o framerate no Switch não passa dos 30fps”.
Olha, isso tudo até pode ser verdade, mas eu tenho consciência dessas limitações. Eu inclusive já comecei The Witcher 3 no Xbox One e no PC, então sei bem quão deslumbrante aquele mundo pode ser.
Porém, nenhuma destas plataformas me permite jogar no intervalo do almoço, no banheiro ou na sala de espera do dentista. Jogar no PC ou no XOne me obriga a estar em casa, com tempo, preso a uma configuração que envolve cabos e elementos que são pesados e nem um pouco portáteis.
A portabilidade, aliás, é o que torna este The Witcher 3 do Switch ainda mais surpreendente. Se plugo ele em um televisor 4K, as limitações deste port ficam mais evidentes — especialmente porque eu já joguei um bocado dele naquela mesma televisão, em plataformas mais parrudas.
Sendo mais detalhista: The Witcher 3 no Switch é um pouco mais “borrado” que nas demais plataformas. O alcance do campo de visão foi diminuído, há texturas em menor resolução e acontece muito aquele efeito de “popping”, com elementos que vão surgindo na tela conforme a gente se aproxima deles. São problemas, sim, mas nada que tire o brilho de uma conversão corajosa e muito competente que deve ter dado MUITO trabalho para ser feita.
Um port milagroso
Os problemas que mencionei ali em cima ficam evidentes em uma tela grande… mas sabe que não incomodam muito quando estamos jogando em modo portátil? Não é como se os problemas não existissem, eles só passam a chamar menos a atenção. Jogar “na telinha” não nos permite ficar observando cada folhinha em baixa resolução, cada efeito de sombra serrilhado. E o Nintendo Switch é, para mim, muito mais um portátil do que um console de mesa — é na portabilidade que está seu real valor.
Jogando no modo portátil, a “mágica” do trabalho feito aqui é o que realmente chama a atenção. Sem sacanagem, a CD Projekt Red e a Saber Interactive (estúdio responsável pelo port), conseguiram um feito quase milagroso ao trazer um jogo desta magnitude para o Switch.
Ok, é um jogo de 2015, mas o Switch traz um hardware muito mais limitado do que a concorrência. Saber disso e ver um jogo deste naipe rodando “em um portátil” — sem que seja por streaming, nem nada do tipo –, é algo que os mais céticos julgariam impossível.
Downgrades que não comprometem a experiência
Claro que concessões e ajustes foram feitos, mas é bom ver que nada do que foi mudado compromete a experiência: o mundo de The Witcher 3 continua ali, tão vasto e vivo quanto nas demais plataformas. Um tiquinho “menos bonito”, mas sem dúvida tem gente com PC fraco que roda o jogo em qualidade similar — e nem tem a vantagem de poder levar ele para jogar onde quiser.
Com isso quero dizer que os produtores não diminuíram nada que comprometesse a escala e a proporção do jogo. Tipo a densidade de NPCs, por exemplo. Novigrad ainda é uma cidade populosa, com gente indo e vindo e fazendo compras por todo canto, gaivotas sobrevoando a área do porto e bêbados tropeçando pelos becos.
Não sou programador, mas imagino que seria possível “enxugar” o número de elementos (NPCs, cavalos, pássaros, etc.) dali para dar uma folga ao processador… mas isso tiraria um pouco da essência de “cidade grande” daquela área. Isso, consequentemente, afetaria a experiência do jogador.
É legal ver como os responsáveis pelo port arrumaram outras arestas para podar, sem afetar o conteúdo em si. O que faz o mundo do game ser tão rico e imersivo continua ali, incluindo até o mais inútil dos NPCs e a sidequest mais obtusa. E os caras conseguiram espremer tudo isso — o jogo base + suas 2 expansões — em menos de 32GB! Nas outras plataformas ele ocupa (no mínimo) 10GB a mais do que isso!
Também é surpreendente ver como, apesar dos downgrades, o jogo ainda conserva muito de sua beleza. A superfície da água é incrível, e detalhes charmosos como os god rays (fachos de luz) filtrados pelas copas das árvores e a beleza de um pôr do sol visto de um lugar privilegiado continuam presentes. As incontáveis cartas de Gwent, a imponente trilha sonora orquestrada, e todas as opções de áudio — inclusive a ótima dublagem em português — está tudo aqui.
Quem quiser uma análise técnica mais detalhada pode assistir ao vídeo que os sempre competente caras do Digital Foundry fizeram — esmiuçando questões nas quais não me aprofundarei aqui. São mais de 16 minutos de muito conteúdo bacana. Se está realmente a fim de pormenores e detalhes técnicos, é só clicar aqui.
Conclusão
A mensagem que quero passar com este review é: The Witcher 3 no Nintendo Switch ainda é um jogo imenso, rico, imersivo. As texturas estão mais simples e o visual como um todo está um pouco mais “borrado”, mas acho que tudo isso pode ser relevado diante da maravilhosa oportunidade de jogar The Witcher 3 em qualquer lugar.
Isso até me faz pensar que, outros jogos grandiosos desta geração poderiam muito bem chegar ao Nintendo Switch, se houvesse interesse das produtoras. Já pensou GTA 5 rodando no Switch? Considerando que ele é um jogo originalmente da geração passada, creio que rodaria de boas no Switch. Se o port não vier, deve ser por falta de interesse (ou de um acordo) entre a Rockstar e a Nintendo.
Acho que para este port ficar perfeito, só faltou a inclusão de um sistema de compartilhamento de saves com a versão PC — o que me permitiria avançar na história nas duas plataformas, curtindo a experiência dentro e fora de casa. E olha que isso pode ser feito: recentemente, o port de Divinity: Original Sin 2 para o Switch trouxe este recurso, e é algo que sem dúvida deveria tornar-se padrão para outros ports.
Tirando isso, o que temos aqui é um port “milagroso”, que condensa um mundo colossal em um cartuchinho minúsculo, que a gente pode levar para qualquer lugar. E é nesta versão “de bolso” que, se tudo correr bem, eu poderei levar Geralt de Rivia até o desfecho de sua jornada!
P.S. Não, eu ainda não terminei o jogo. Até o momento, estou com cerca de 18 horas de jogo. Ou seja, agora faltam “apenas” umas 130 horas! XD
The Witcher 3: Complete Edition chegou ao Nintendo Switch em 15 de outubro. O jogo está 100% localizado, com dublagens, menus e legendas em português brasileiro.