Análise Arkade: os tiroteios genéricos de Umbrella Corps
Umbrella Corps é um shooter multiplayer ambientado no universo de Resident Evil. Como essa ideia soa para você? Interessante? Com potencial? Leia nossa análise e descubra se o game vale a pena!
Não, não tem campanha
Não venha esperando um novo capítulo canônico da saga Resident Evil. O que temos aqui é um spin off no sentido mais literal da palavra — sequer há Resident Evil no título –, que não almeja ser nada além de um shooter multiplayer.
O que temos aqui é um jogo bem enxuto, que vai direto ao ponto: há um tutorial que vai te ensinar o básico do gameplay, e depois você pode se aventurar por um modo de jogo single player chamado O Experimento, ou ir trocar tiros com outros jogadores em partidas online que podem tanto ser Livres quanto Rankeadas.
O Experimento
Aqui é um bom lugar para você praticar um pouco e conhecer o layout dos cenários, pois os mapas que você vai explorar aqui também servem para as partidas multiplayer. Basicamente, você é um recruta novato da Umbrella que deve mostrar que sabe fazer o seu serviço sem ser devorado por zumbis.
Este modo de jogo é basicamente uma sucessão de mapas onde você recece objetivos bem genéricos, tipo: colete 20 amostras de DNA zumbi, domine um ponto de interesse por 30 segundos, recolha 5 maletas que estão espalhadas pelo cenário, e por aí vai.
Confira nosso gameplay de uma missão do modo O Experimento:
Na prática O Experimento nada mais que é uma extensão do tutorial, disfarçada de modo de jogo single player. Ok, você até consegue destravar alguns ícones de jogador, skins para armas e outras bijuterias do tipo, mas depois de 4 ou 5 fases já vai estar meio entediado e querendo um desafio maior.
Multiplayer Online
Todos os modos de jogo presentes em Umbrella Corps são para 6 jogadores, divididos em 3 vs 3. É, pouco, mas isso faz sentido aqui, pois os mapas são bem pequenos e tudo viraria uma bagunça se tivéssemos 10 ou 12 jogadores se matando. Tanto nas partidas Livres, quanto nas Rankeadas ou Privadas, só existem 2 modos de jogo: 1 Vida e Multi-Missão.
O modo 1 Vida é um Team Deathmatch tradicional sem respawn. Morreu, já era, vai ter que esperar a próxima partida. Já o Multi-Missão possui respawn, e coloca os dois times para uma rodada de missões aleatórias, que envolvem (surpresa!) coletar amostras de DNA zumbi, dominar um ponto de interesse, recolher maletas espalhadas pelo cenário, colecionar dog tags de soldados inimigos, etc. Modos de jogo bem tradicionais que a gente já viu em centenas de outros shooters. O time que vencer 3 partidas primeiro, ganha.
Segue um tipo de partida do modo Multi-Missão onde o objetivo é coletar maletas que estão espalhadas pelo cenário:
Por mais genérica que seja a receita, o multiplayer cumpre seu papel, funciona bem e entrega algumas partidas disputadas e atré que emocionantes. Os cenários oriundos da série Resident Evil — como a frente da delegacia de RE 2, a vila de RE 4 e os laboratórios da Tricell de RE 5 — sem dúvida agregam valor nostálgico para os fãs.
Ah, e já que estamos falando de cenários de Resident Evil, é claro que temos zumbis, cachorros e outras criaturas sinistras perambulando pelos cenários DURANTE as partidas online. Eles não serão um problema na maior parte do tempo (já falo mais sobre isso), e ainda rendem uns pontinhos extras quando são abatidos.
Crise de identidade
Umbrella Corps é um shooter em terceira pessoa que não sabe bem o que quer ser. Por um lado, ele oferece tiroteios frenéticos e partidas rápidas como um Counter-Strike. Por outro, seu gameplay oferece recursos táticos de cobertura e combate que são mais comuns para jogos com uma pegada mais estratégica, como Ghost Recon.
Você pode, por exemplo, usar um zumbi como “escudo humano” para se proteger dos tiros, bem como atirar às cegas por detrás de uma cobertura. Mas nada disso anda sendo efetivamente utilizado por um motivo muito simples: salvo no modo 1 Vida (que demanda um pouco mais de cuidado por razões óbvias), é mais fácil — e mais divertido — partir para o tiroteio direto e honesto contra o time adversário.
Os mapas do jogo são super compactos, e isso também não favorece abordagens muito estratégicas, pois simplesmente não há espaço para criação de táticas muito elaboradas. Isso sem contar que temos o Racha-Crânio — uma espécie de picareta de alpinismo invocada — que possui um ataque melee devastador, o que torna o combate direto ainda mais compensador.
Confira abaixo dois mapas vistos de cima:
Viu como os mapas são pequenos? É mais fácil ir para a porrada direto, e mais fácil ainda com o Racha-Crânio. Sem exagero, é possível aniquilar um time inteiro usando o Racha-Crânio em poucos segundos. Até eu que sou n00b consegui, olha só:
Bom, mas se desconsiderarmos esta crise de identidade do game, seu gameplay é ágil e responsivo, e no geral funciona bem. Os equipamentos são bem tradicionais — pistolas, metralhadoras, escopetas, granadas — e passíveis de muita customização, com diferentes tipos de miras, silenciadores e, claro, pinturas.
Vale ressaltar que no modo Livre as modificações e armas são liberadas desde o início, mas nas partidas Rankeadas você vai liberando novos equipamentos e armas gradativamente, conforme sobe de nível.
Zombie Jammer
Apesar de ser cheio de elementos genéricos que já vimos em outros games, tem algo muito legal aqui que se chama Zombie Jammer. Ele é uma espécie de mochila tecnológica que todos os players carregam, e sua função é justamente emitir um sinal que mantém os zumbis afastados, para que você possa se concentrar no cumprimento dos objetivos e na eliminação do time adversário.
Porém, eis aqui um plot twist bacana: é possível destruir o Zombie Jammer dos jogadores inimigos, e aí eles serão ferozmente perseguidos por todos os zumbis/cachorros/monstros que estiverem nas proximidades. Fugir dos zumbis dá um bocado de trabalho, e geralmente deixa o jogador muito mais exposto e vulnerável. Existem até granadas de pulso especiais que servem apenas para zoar o sinal dos Jammers inimigos!
Só é possível recuperar o Zombie Jammer de 2 maneiras: morrendo/ressuscitando ou recolhendo um Zombie Jammer de outro jogador morto. Ainda que os cenários pequenos (e a falta de um sniper) dificultem a “camperagem”, é sem dúvida muito divertido destruir os Jammers do time adversário só para ver os outros jogadores sendo perseguidos e devorados pelos zumbis!
Audiovisual
Como em praticamente todos os outros aspectos, o que temos aqui é um jogo que não se destaca, mas também não decepciona; simplesmente cumpre seu papel, ainda que seja bonito para um jogo feito com a engine Unity. Os personagens possuem aquele visual estilo Hunk (com máscara de gás) e no geral são bem modelados. Os cenários são relativamente variados, com ambientes internos e externos e algumas portas, janelas e dutos de ventilação que podem ser utilizados.
O framerate do jogo é um pouco inconstante, mas (no PS4) nunca alcança os tão sonhados 60fps. Alguns glitches (armas e pernas atravessando portas) e animações parecem um pouco bugados (repare nas finalizações nos ídeos que estão aí em cima) mas no geral não é nada que atrapalhe o gameplay em si. As dublagens não são nada de mais — os soldados soltam frases genéricas — e as músicas vão de temas de suspense até dubsteps tímidos.
Em termos de conectividade, tive alguns problemas: rolaram alguns engasgos aqui e ali, um pouquinho de lag e 2 ou 3 quedas abruptas e mensagens de erro. Essa é a mesma conexão que me permite jogar Overwatch numa boa. Ok, o jogo da Blizzard possui servidores brasileiros dedicados, mas mesmo assim me pareceu um pouco de instabilidade demais na semana de lançamento.
Vale ressaltar também que as vezes demora um bocado para o jogo reunir jogadores e começar uma partida. Considerando que várias partidas mal duram 2 minutos, pode acontecer de você ficar mais tempo no lobby esperando do que jogando.
Conclusão
Umbrella Corps é um shooter com pouco conteúdo, e que não se esforça para ser nada além de genérico. Salvo pelos Zombie Jammers, tudo o que temos aqui a gente já viu em outros jogos, e provavelmente são jogos com mais conteúdo, que oferecem partidas entre mais jogadores e têm uma execução mais caprichada.
Ainda que eu não tenha necessariamente achado o jogo terrível, ele também não me impressionou em nenhum momento. Esse é aquele tipo de jogo “sem alma” que até te entretém por algumas horas, mas que definitivamente não vai te deixar empolgado, nem vai ser assunto nos seus papos com os amigos, pois é um jogo genérico e sem nenhum carisma.
Ok, eu sei que usei demais a palavra “genérico” neste texto, mas este é o melhor adjetivo para descrever um game que não é de fato ruim, mas também não é realmente bom, nem especialmente criativo. Se serve de consolo, pelo menos ele é só um spin off, e não está necessariamente denegrindo a imagem da saga Resident Evil. Que venha Resident Evil 7 em janeiro do ano que vem.
Umbrella Corps foi lançado no dia 21 de junho, com versões para PC e Playstation 4. O game possui menus e legendas em português brasileiro.