Análise Arkade – Velozes e Furiosos: Encruzilhada

20 de agosto de 2020
Análise Arkade - Velozes e Furiosos: Encruzilhada

Quando eu era adolescente, era muito comum existirem, na geração 128-bits, os tais “jogos de filme”. Eram games simples, que ficavam entre os “aceitáveis” e “horrorosos”. Entre eles, a franquia Velozes e Furiosos que, se no cinema, é fenômeno por mais de duas décadas, nos games é sempre esquecível.

Mas não podemos ignorar o legado da série nos games. Foi graças aos filmes, cheios de ação e velocidade, que tivemos jogos como Need for Speed Underground ou Burnout, por exemplo. E, no fim da geração atual, um novo game da série chega. Como promessas, as marcas registradas da franquia, e a participação da Slightly Mad Studios, a mesma de Project CARS.

É com este contexto que chegamos a Velozes e Furiosos: Encruzilhada. Você já deve ter visto várias reviews sobre o game, e aqui não será nada diferente do que você já viu. Entretanto, busquei tentar “entender” algumas coisas no game, que é, basicamente, “um jogo mais ou menos de Playstation 2, que ganhou casca de Playstation 4“. Vamos lá?

Uma ideia que tinha tudo para ser divertido… tinha.

Análise Arkade - Velozes e Furiosos: Encruzilhada

Vamos ser sinceros. Ninguém que tenha interesse em um jogo da série Velozes e Furiosos está preocupado com excelência. Assim como nos filmes, o jogador quer ver só as “mentiras” do filme, como as cenas exageradas de ação, e um gameplay divertido. A expectativa era apenas de encontrar um gameplay ágil, uma história qualquer e cenas de ação, com um visual aceitável.

Encruzilhada é, na prática, mais um episódio da série. Fica entre o oitavo filme e o nono, que foi adiado por causa da pandemia de coronavírus. E, por ser um “episódio”, o game se comporta como tal: é um “filme” com os famosos atores em 3D: Vin DieselMichelle Rodriguez e Tyrese Gibson, além de Sonequa Martin-GreenAsia Kate Dillon, com cenas de ação em um gameplay linear.

Análise Arkade - Velozes e Furiosos: Encruzilhada

Se o game fosse só isso, estaria tudo bem. Não precisaria ser o “Game do Ano”, nem nada do tipo. O problema, é que você percebe que o jogo conta com sinais de extremo relaxo. Por exemplo: a física do jogo. Um game como Velozes e Furiosos precisaria, e muito, de físicas bacanas. Mas, se em um momento, os carros estacionados, ao serem atingidos, parecem mais com rochas presas ao solo há milhares de anos, pois não se mexem, e em outros, aparecem pedras que caem de penhascos, que mais parecem os “areolitos de isopor do Chapolin“, algo está muito errado.

O game se mostra extremamente limitado. O gameplay é simples, o visual é simples, a direção dos carros tem alguns problemas e o desafio é vazio. Até há boa intenção, como um “modo foto”, que, apesar de mostrar ícones no jogo com partes “fotografáveis”, está “escondido” e é extremamente limitado. Tudo no jogo lembra “os dias de PS2“, o que seria interessante, caso este jogo tivesse sido lançado em 2004.

Análise Arkade - Velozes e Furiosos: Encruzilhada

Você vai “falhar” no game, não por causa do desafio, mas por causa dos problemas do game. Que contam com questões “irritantes”, como o fato de que não dá pra pular cutscenes, e pior: se na missão que você falhar tiver um diálogo antes, você terá que ouvir tudo de novo. Pelo menos os checkpoints estão aceitáveis. Os desafios também são limitados: são missões de “chegue ao ponto A”, “ganhe uma corrida”, ou “ataque um inimigo”. Assim como era nos GTAs de 128-bits. Mas, neste caso, linear.

Até cheguei a testar no volante (o Logitech G29), mas apesar de compatível, o gameplay fica tenebroso. O carro não anda em linha reta e o maior desafio se torna fazer o carro andar pra frente, dá só uma olhada:

No mais, tenha em mente que o game te fará lembrar, de verdade, dos games que você comprava na banquinha, na época do PS2. Sabe aqueles jogos baseados em filmes, que a gente só comprava por causa da capa? Achando que, por causa do filme, seria um jogo bacana, mas no final é um jogo bem simples, que até diverte, mas se encarado sem compromisso, apenas para jogar um game baseado em uma franquia também descompromissada.

A grande decepção é com a Slightly Mad Studios

O game em si, era até esperado encontrar o que encontramos. Mas, o grande problema, é quando vemos a tela de abertura e o logo da Slightly Mad Studios. O estúdio, que nos trouxe dois games excelentes da franquia Project CARS, não conseguiria fazer algo melhor? A única coisa que nos faz imaginar o trabalho “relaxado” do estúdio, é o fator tempo: prazo curtíssimo para lançar um jogo feito para tentar lucrar em cima da franquia. Vamos lembrar que se não houvesse a pandemia, o filme estaria chegando, nesta época, às plataformas de aluguel por streaming, e no Blu-Ray.

Independente do motivo, é assustador ver um estúdio que ofereceu games tão incríveis de corrida, apresentar um game tão limitado. Especialmente nas corridas que o jogo oferece. Avaliando como um “jogo de corrida”, o controle é ruim, você não tem domínio total do carro, mesmo se tratando de gameplay arcade, o nitro mais atrapalha do que ajuda, e qualquer game arcade lançado nos últimos anos tem controle melhor.

Isso faz um mal danado para reputação da desenvolvedora. Não pelo game em si, mas para anunciar os seus próximos games. O controle do carro, por exemplo, deveria, por “obrigação”, ser razoavelmente aceitável, e o jogo não tem isso. Parece que tudo o que foi aprendido com os games de corrida foram “esquecidos”. E, sinceramente, o fã de jogos de corrida, terá muita desconfiança com o próximo Project CARS.

Mas vale a pena? Sim, desde que seja por um “aluguel”.

Análise Arkade - Velozes e Furiosos: Encruzilhada

Uma coisa precisa ser dita. A mídia e o gamer em geral precisam parar com essa mania de querer que todo jogo seja “o melhor de todos os tempos da última semana”. Crescemos jogando vários games medianos nos 16-bits, nos 32-bits e nos 128-bits. E nos divertíamos com eles. E agora, com essa coisa de “GOTY”, de “excelência”, parece que agora só o “AAA 90+ do Metacritic” vale a pena. Enquanto jogos medianos, são esculhambados, e tratados como “lixo”.

Estou amenizando (ou, na gíria da Internet, “passando pano”) Encruzilhada? É claro que não. O game tem problemas técnicos que eu achava que nunca mais iria ver em um game. As mencionadas pedras “de isopor do Chapolin” ou os carros de chumbo, além de limitações que remetem a games de 15 anos atrás, são algumas das muitas coisas que mostram o quanto que o desenvolvimento do jogo foi problemático. Mas, você se lembra de quando você alugava um game “mediano” na locadora e curtia por um fim de semana? O princípio é o mesmo.

Claro, não há mais locadoras hoje em dia. Assim, o lugar de Encruzilhada é a Playstation Plus e o Xbox Game Pass. Pois o grande ponto aqui é com a grana: não dá pra indicar um game assim, por R$ 250. O negócio é esperar promoção ou oferta em algum serviço. É aquele game que você vai pegar, pela curiosidade, jogar, terminar em um fim de semana e, se jogar descompromissado, vai até curtir. De novo, não esperando visual, gameplay, ou experiências únicas. Mas querendo apenas desligar o cérebro e jogar algo rápido.

Sim, Velozes e Furiosos: Encruzilhada tem uma tonelada de defeitos. Mas, assim como a série de filmes, cumpre o seu papel (passando bem na média, que fique claro), de levar a experiência dos filmes aos videogames. Se quiser algo com mais “excelência”, Forza Horizon está aí para isso. Mas, se você gosta da série, não tem razão para não dar, no mínimo, uma conferida no game. Nas condições que te falei acima, claro.

Velozes e Furiosos: Encruzilhada está disponível para Playstation 4, Xbox One, e PC.

Junior Candido

Conto a história dos videogames e da velocidade de ontem e de hoje por aqui! Siga-me em instagram.com/juniorcandido ou x.com/junior_candido

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