Análise Arkade – WarioWare: Move It! é para malucos, não competidores

24 de novembro de 2023
Análise Arkade - WarioWare: Move It! é para malucos, não competidores

Wario, o anti-Mario, nunca foi dos personagens mais bem quistos do universo do encanador bigodudo, e sequer pode ser considerado um vilão propriamente dito. Apesar disso, ele está presente em muito mais jogos do que nos lembramos, sobretudo os de caráter multiplayer competitivo, e sempre que aparece estrelando seus próprios games, aqueles de nós mais dedicados à arte da zoeira, que esperam algo menos “padrão Nintendo” se sentem plenamente representados.

Digo isso principalmente por questões estilísticas. A Nintendo mantém um padrão (geralmente fofinho) em suas produções. Wario é fora da curva. Abraçando a geração dos memes, que incorporou a estética da mistura de elementos estéticos das mais variadas formas, incluindo visões mais toscas e linhas menos arredondadas, o jogo é uma mistureba louca de estilos e estéticas em favor da zoeira.

Análise Arkade - WarioWare: Move It! é para malucos, não competidores

Um jogo? Um conjunto de joguinhos

WarioWare: Move It! é basicamente uma versão non sense dos tradicionais party games, composto por uma coleção de pequenos desafios, em sua grande maioria baseados nos controles de movimento tão típicos do sistema híbrido da gigante japonesa. São cerca de 200 mini-games distribuídos em diferentes modos que atendem de uma até quatro pessoas dispostas ao ridículo em favor da diversão. E, ainda que 200 pareça bastante coisa, eles são tão curtinhos que não demora muito para que reconheçamos todos eles a ponto de nos acostumarmos em três ou quatro sessões bem jogadas.

A qualidade de cada um dos games é, em termos gerais, bastante elevada. Há que se destacar a criatividade das pessoas envolvidas em elaborar tantas propostas, que vão desde arrancar pelos de nariz gigante para medir quem consegue o maior deles até referências diretas a alguns dos principais produtos first party da história da Nintendo, como Doctor Mario, Donkey Kong e The Legend of Zelda, só pra citar alguns mais famosos.

É simplesmente insano estar, em um instante, desenrolando um rolo de papel higiênico como um doido e, segundos depois, matando tartarugas com um tal de Jump Man. Diversidade é a regra básica para fazer com que os 200 mini-games realmente sejam diferentes entre si.

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Obviamente, algumas experiências se destacam em detrimento de outras. Enquanto algumas duram um ou dois segundos e passam mais rápido do que os desavisados conseguem identificar, outros demandam mais tempo e concentração, o que não os tornam menos ridículos, só mais elaborados mesmo.

Vários desses joguinhos são esquecíveis, outros nos fazem ficar esperando que apareçam novamente em algum momento. Com o tempo, percebe-se que no montante, vários são basicamente a mesma coisa com skins diferentes, por assim dizer, o que não diminui a graça constrangedora da maioria deles.

Olhando com mais calma, todo o modelo é baseado em algumas categorias básicas de posição base das mãos. Há os que se iniciam com os braços colados lateralmente ao corpo, outros que exigem começar com ambas as mãos erguidas ao alto, algunss ainda pedem poses menos convencionais (e mais doloridas para os mais velhos).

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Há até uma explicação pseudocientífica ilustrando cada pose básica, o que é engraçadinho na primeira vez, um pouco tedioso nas últimas, mas parte do processo de aprendizagem do game. Para quem gosta de partir para o multiplayer antes de jogar sozinho, algumas explicações virão muito depois de já termos aprendido como funciona o sistema.

Se parece com tudo (e com nada)

Analisar um jogo que é, na verdade, uma coleção de pequenos elementos independentes tão distintos, é uma tarefa complicada, principalmente quando o conjunto parece uma colagem de coisas feitas por pessoas diferentes. Sabe aquele trabalho de escola onde cada um fica responsável por fazer suas parte e no final junta tudo? Então, é mais ou menos por aí. De forma proposital, WarioWare: Move It! faz questão de que cada pedaço seja diametralmente contrário do anterior.

O verdadeiro charme é, portanto, o absurdo. Se é horroroso, vale. Se é esquisito, vale! A poluição visual torna-se parte da estética do jogo, e, com o perdão do trocadilho, não faz feio. A mistura de 2D com 3D, de polígonos com rabiscos, acha seu lugar. Se não é particularmente bonito de se ver, tudo isso sem dúvida enriquece o “fator zoeira” do jogo.

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Nada se parece com nada, e tudo compõe o amálgama maravilhosamente bem como uma fração da imaginação de um bando de doidos soltos na sala de desenvolvimento. E por mais improvável que pareça, é essa esquisitice que traz o diferencial que o mercado atual de jogos precisa. Everybody 1-2-Switch! até tentou colocar um cara com cabeça de cavalo apresentando os jogos, mas o fez meio avergonhado. WarioWare: Move It! cospe em qualquer pudor e se torna, assim, autêntico.

Contudo (sempre há um “contudo”) é curioso como é é esse game que leva o sistema de captação de movimentos do Switch ao extremo, e por vezes parece confiar demais na tecnologia. Há pontos onde a precisão precisa estar alinhada à velocidade, e é onde os controles podem derrapar.

Aliás, em todos os meus anos com o Switch, eu nunca precisei atualizar ou recalibrar meus Joy-Cons antes, mas aqui foi algo que me senti impelido a fazer para tentar melhorar meu desempenho em desafios mais exigentes. A coisa melhorou, e recomendo que se faça isso com frequência durante as partidas mais frenéticas de WarioWare: Move It!

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Olha, uma história… #sqn

Falando em modos, há duas categorias principais: a campanha propriamente dita, que coloca Wario e seus comparsas caindo (sem muito contexto) em uma ilha tropical e, ao se verem separados, precisam encarar uma série de presepadas para se salvarem dos perigos locais; e o multiplayer em si, que tem algumas subdivisões que colocam os jogadores em tabuleiros — cenários que mais parecem uma mistura de Round 6 com mitologia grega; ringues de boxe improvisados; ou consultórios médicos pouco ortodoxos — cada qual com a sua desculpa para enfiar os competidores em diversos dos minigames até que um, dentro de regras bastante flexíveis, saia vencedor.

Não nego que fui surpreendido positivamente com o cuidado de se inserir uma narrativa, por mais bobinha que ela seja. Mais do que um grande tutorial que dura por volta de uma dezena de horas, a campanha cria dinamismo, estabelece uma sequência e, principalmente, dá propósito para o jogador experimentar cada um desses joguinhos.

A se lamentar, só o fato de que diferente do modo livre, aqui é obrigatório se usar os dois Joy-Cons ao mesmo tempo, impossibilitando partilhar a experiência com mais alguém a não ser que se tenha um par sobressalente. Como eu pessoalmente acabei investindo em um segundo controle mais convencional, o multiplayer ficou para depois.

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Na dinâmica dessa jornada maluca, há pouco tempo para se pensar, menos ainda para descansar. Sem exagero algum, há experiências que duram um ou dois segundos, sem muito tempo para sequer entendermos o que deve ser feito. Afinal, a prévia nos dá a posição inicial, não o que se faz depois disso. Se em Mario Party Superstars há uma tela anterior, um carregamento disfarçado de treinamento, aqui muitas vezes é o fracasso que nos mostrará o que deve ser feito, ou nem isso, porque se piscar, nem sabemos onde foi o erro.

Diversão acima da competição

Do ponto de vista competitivo, que comporta até quatro pessoas, aí sim cada lado do Joy-Cons podendo ser utilizado separadamente. Há modos um pouco mais calmos, mas nem por isso menos absurdos. Você pode escolher entre um bom número de personagens e adentrar partidas que somam meia dúzia dos principais joguinhos vistos na campanha. As regras, porém, são ainda mais trapaceiras, e é muito comum que o vencedor seja quem errou mais. No tabuleiro, por exemplo, você pode estar muito na frente, mas como a maioria das casas onde caímos traz efeitos negativos, basta uma rodada azarada e tudo vai pelo rolo. Por vezes, literalmente.

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Por mais que estejamos falando do Wario, a síntese do inverso, acaba sendo bem frustrante sair derrotado quando claramente se foi muito melhor, e ganhar sabendo que foi mal na maioria das disputas diretas também não é lá muito satisfatório. Uma coisa é perder ou ganhar na aleatoriedade dos dados; outra é saber que com ou sem sorte, o resultado talvez tenha sido totalmente injusto. Aqueles que são mais competitivos podem vir a ter problemas sérios com o jogo. Neste caso, há opções mais coerentes, mas talvez por isso mesmo, menos atrativas. Pense bem, experimente e escolha o que melhor satisfizer sua insanidade.

Ao mesmo tempo, isso significa equilibrar as coisas ao se jogar em família, com parentes que jamais jogaram outra coisa além de Candy Crush. Ao não valorizar a experiência ou a expertise, tudo se torna uma verdadeira bagunça imprevisível, que dá espaço para o caos em detrimento ao merecimento. É nesse ponto onde as expectativas devem ser ajustadas. Se você quer algo que valoriza o esforço, aposte em coisas como Kirby’s Dream Buffet, ou Mario Party Superstars, enquanto algo como Overcooked! é feito para os que realmente levam o party game a sério de verdade. Se, por sua vez, você prefere ver a insanidade reinar, então WarioWare: Move It! é a melhor escolha.

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Conclusão

WarioWare: Move It! é um verdadeiro pandemônio de coisas acontecendo sem qualquer sobreaviso. Entrar nesse universo é buscar por algo que é propositalmente pouco polido esteticamente, feito para parecer desajeitado. Faz parte da natureza do personagem, e é muito bom para a indústria que a Nintendo, famosa por cuidar muito da aparência de seus jogos, se permita olhar também para a beleza do caos.

A coleção é diversificada, traz ótimas soluções e belas homenagens a várias marcas importantes da empresa. Os controles por movimento funcionam na sua maioria, mas certos mini-games elevam as exigências até, talvez, além da capacidade dos Joy-Cons. Alguns joguinhos são mais divertidos, desafiadores e interessantes que outros, o que é de se esperar, e que bom que a campanha nos liberta da aleatoriedade para nos deixar jogar alguns de nossa preferência.

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Ainda assim, o jogo pode cansar quando os mini-games começarem a se repetir demais, e a competitividade pouco justa pode frustrar quem se importar demais em fazer as coisas do jeito certo em alguns modos. Criar expectativas para além do que este quase antijogo oferece é abrir as portas da frustração, mas ao mesmo tempo, colocar as expectativas no lugar certo garante horas de diversão desavergonhada. E isso vale para quem joga sozinho, claro, mas principalmente para curtir ao lado de crianças, familiares, amigos, ou qualquer pessoa que você não se importar que lhe vejam pagando mico na frente da TV.

Disponível exclusivamente para Nintendo Switch, WarioWare: Move It! foi lançado em 03 de novembro de 2023. Indo contra a onda de alguns títulos recentes da Nintendo, ele infelizmente não conta com a localização para o português brasileiro.

Paulo Roberto Montanaro

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