Análise Arkade – Warriors: Abyss, a viciante mistura de musou com roguelite

27 de fevereiro de 2025
Análise Arkade - Warriors: Abyss, a viciante mistura de musou com roguelite

Nos últimos anos, vimos certos jogos tornarem-se tão populares que acabaram criando novos subgêneros de games. Dark Souls é um grande exemplo, e mesmo jogos de menor escopo, como Hades e Vampire Survivors também inspiram dezenas de outros jogos.

Eis que, do nada, a Koei Tecmo — que já no comecinho do ano lançou o ótimo Dynasty Warriors: Origins — pegou a fórmula (e os personagens) de seus musous e pensou: ” e se a gente fizesse um roguelite disso aqui?”. O resultado é Warriors: Abyss, um jogo simples, mas absurdamente viciante!

Recuperando o trono do inferno

Warriors: Abyss nos leva para um cenário sombrio: as profundezas do inferno, para onde nossa alma de guerreiro foi conjurada pelo rei deposto, o enigmático Rei Enma (que, por alguma razão, parece uma garotinha).

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Por que ele tem esse visual? 🤔

Misturando humor negro e toques de mitologia japonesa, a trama do game é simples: precisamos explorar os confins do inferno e eliminar os lacaios da entidade maligna que destronou Enma a fim de ajudá-lo a recuperar seu trono.

Como vamos fazer isso? Despachando hordas de inimigos em batalhas frenéticas que tem tudo a ver com o gênero musou, mas que aqui são apresentadas em uma estrutura de “dungeons” parecida (até demais) com Hades. São 4 biomas, cada um com 7 fases randômicas e um chefão no final.

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Ao contrário de Hades, porém, aqui não há tanto cuidado com a narrativa e a lore do mundo. Nas primeiras runs, vamos conversar bastante com o Rei Enma — e até ter diálogos para escolher –, mas logo estas interações se tornarão mens frequentes. O jogo não “reconhece” a falha e as novas tentativas do jogador, como Hades faz.

Pancadaria frenética

O grande diferencial de Warriors: Abyss está na sua abordagem inovadora à jogabilidade. Ou melhor, ele mantém a essência dos combates massivos típicos do gênero musou, mas adiciona à receita mecânicas de roguelite que alteram a dinâmica de cada partida. E, ainda que pareça bem Vampire Survivors pelas imagens repletas de inimigos, aqui participamos ativamente dos combates, executando golpes e golpes

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Para começar, temos nada menos que 100 PERSONAGENS DESBLOQUEÁVEIS. E eu não estou exagerando, são realmente 100 guerreiros, cada um com suas próprias armas, estatísticas e move sets.

Você não precisa necessariamente jogar com toda essa galera, mas liberá-los é bom porque muitos deles melhoram os atributos ou concedem buffs para todos.

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Este é só o rodapé da tela de personagens

Sem contar que, ao longo de uma partida, vamos forjar alianças com outros personagens, que podemos conjurar para nos ajudar em combate — mais ou menos como os strikers atuam em um jogo de luta, ou seja, aparecem, dão um golpe e vazam.

Combos e alianças

A forma como estas alianças e conjurações são acionadas é muito interessante. Lembra um pouco os deuses de Hades, mas sua utilização é mais ativa. Funciona assim: temos 6 posições para “acoplar” até 6 ajudantes. Cada um deles vai demandar um nível de combo para ser conjurado.

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O número no canto inferior direito é o “nível de poder” do grupo

Por exemplo: para chamar o guerreiro da posição 1, você vai realizar um combo simples, tipo □ △ △ (usando os botões do PS5 como base). O guerreiro da posição 2 exige um combo □ □ △ △, e assim sucessivamente.

Falando assim parece simples, mas no calor do combate, com (literalmente) centenas de inimigos ao seu redor, ir aumentando os hits do combo enquanto tenta não marcar bobeira e apanhar de graça torna-se bem desafiador.

Sem contar que, cada guerreiro summonado tem um cooldown até poder ser chamado novamente. Então, a alternância entre todos eles é fundamental, uma vez que, só nos ataques básicos, a vitória é improvável. E, claro, para deixar as coisas mais interessantes, você não precisa ir acionando seus aliados na ordem, pode começar pelo 5, aí chama o 2, depois o 4, e em seguida o 1. Vai muito do seu flow no combate.

Formações e upgrades

Um detalhe que faz toda a diferença é a formação do seu time. Existem diferentes formações de combate que podem ser adquiridas/equipadas, e isso afeta o nível de poder do seu grupo. Além disso, cada personagem possui certos “emblemas” que você vai querer acumular para ganhar novos buffs e habilidades em combate.

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E não para por aí: certos personagens têm afinidade extra com outros, e ao colocar esses “camaradas” no seu time ao mesmo tempo, você ganha um belo boost — com direito a novos ataques combinados.

Se você não quiser ficar comparando estatísticas e emblemas, pode automatizar essa parte pedindo uma mãozinha para o Rei Enma. Ele vai tunar o seu time para uma combinação que lhe deixe o mais poderoso possível.

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Só tome cuidado pois, com esta automatização, você pode perder os bônus de sinergia entre os guerreiros.

E ainda tem mais

Já falei um bocado do gameplay e ainda nem falei dos ataques musou — a técnica suprema de cada guerreiro — ou da Assemble Bar, uma barra que, quando cheia, nos permite chamar todos os 6 ajudantes equipados ao mesmo tempo para uma sequência psicodélica e colorida de golpes.

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Tipo assim

Ao invés de continuar falando, vou deixar aí embaixo um vídeo de gameplay de 2 estágios completos. Talvez tudo pareça muito caótico, mas eu te juro que, com controle na mão, tudo faz sentido depois que você pega o jeito:

Por ser um roguelite, Warriors: Abyss é um jogo de runs, ou seja, não é para ser terminado “de primeira”. Uma run completa dura em média 50 minutos. Os chefes são sempre os mesmos ao final de cada área e, ainda que ofereçam bons confrontos, acabam enjoando por conta da forma como devem ser derrubados: primeiro temos de esvaziar (na porrada, claro) uma barra de escudo, para deixá-los vulneráveis, e só então poderemos infligir dano de verdade.

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O primeiro chefe é este diabão

E ainda tem os dois tipos de moedas — uma para usar durante a run atual, outra para comprar novos guerreiros pelo menu principal –, as armas especiais que podem ser encontradas, os modificadores que de vez em quando afetam a partida, e muito mais. Warriors: Abyss é um jogo simples em sua essência, mas repleto de nuances que fazem muita diferença.

Audiovisual

Pode parecer uma loucura que um jogo do tipo roguelite tenha 100 personagens jogáveis e tantas camadas, mas a verdade é que a Koei Tecmo foi muito esperta: ela reutilizou muita coisa de seus jogos anteriores — Dynasty Warriors, Samurai Warriors e Warriors Orochi.

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Esses personagens de visual incrível já estavam prontos

Ou seja, não é como se ela tivesse criado os 100 modelos de personagens e seus move sets especificamente para este jogo. Tudo isso já estava meio pronto. O que ela fez foi reunir tudo em um novo pacote. É mais ou menos o que a From Software está fazendo com Elden Ring: NightReign.

Até por isso, Warriors: Abyss não tem um visual impactante e ambicioso como o recente Dynasty Warriors: Origins. Mas, a visão isométrica, a câmera afastada, camufla muito bem suas limitações. E, tal qual Hades, cada estágio é basicamente uma arena procedural fechada, sem muito para onde ir ou explorar.

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Os inimigos “bucha” são basicamente sombras, sem muitos detalhes

O jogo não tenta ser um Triple A como Origins, é mais um experimento, feito em cima de um gênero que a Koei Tecmo domina tão bem. E, neste escopo, ele se dá muito bem. Visto de longe, seu visual é decente, as animações de combate são ótimas e a trilha sonora mantém o jogador “pilhado” no loop de gameplay. Sem contar que, no PS5, quedas de frame rate foram raras (e olha que as coisas podem ficar bem caóticas).

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Tipo assim

Infelizmente, tal qual praticamente todo jogo da Koei Tecmo, Warriors: Abyss não recebeu nenhum tipo de localização para o nosso idioma. As vozes estão em japonês, e há alguns poucos idiomas para legendas. Não que haja muita história para ser acompanhada, mas o Rei Enma é bastante espirituoso em seus diálogos. Entender os tutoriais também é importante, então fique avisado.

Conclusão

Warriors: Abyss representa um experimento ousado de reinterpretar a fórmula musou, combinando-a com outros gêneros que estão em alta no momento — ele mira especificamente (e até descaradamente, eu diria) em Hades e Vampire Survivors. Suas mecânicas roguelite abrem espaço para muita experimentação, com diferentes builds e formações de times.

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A escolha de caminhos é tipo Hades

Apesar de parecer simples em uma primeira olhada, o game fisga o jogador justamente pela qualidade de seu gameplay: os combates são dinâmicos, estratégicos e repletos de surpresas. Ele junta musou e rogue, duas coisas que a gente já conhece, mas que, quando somadas, dão origem a algo novo, um terceiro elemento que funciona surpreendentemente bem e é muito viciante.

Como alguém que não é adepto da repetição inerente ao gênero roguelite, são poucos os jogos deste estilo que me conquistam (e me viciam). Hades é, de longe, o primeiro da lista. E Warriors: Abyss é o mais novo jogo a conseguir esta façanha. Viciante e divertido, ele é especialmente recomendável para quem curte musous, e sentia falta de um pouco de pancadaria massiva em seus roguelikes.

Warriors: Abyss foi lançado (de surpresa) no dia 12 de fevereiro. O game está disponível para PC, Playstation 5 (versão analisada), Playstation 4, Xbox Series X|S, Xbox One e Nintendo Switch.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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