Análise Arkade: Wenjia é um belo jogo de plataforma 2D inspirado por Ori and the Blind Forest
Se você curte games de plataforma 2D bonitos e desafiadores, sugiro que dê uma olhada em Wenjia, um belo indie game que vai testar sua perícia nos controles, confira nossa análise!
Salvando a floresta
A narrativa de Wenjia é um tanto fragmentada, mas há um plot inicial bastante claro: quando uma escuridão maligna recai sobre uma floresta mágica, um bando de simpáticos coelhinhos gorduchos vai pedir a ajuda de nosso protagonista, um esguio felino branco, para ajudá-los a livrar a floresta do mal.
É uma trama um tanto clichê, mas que não tenta ganhar mais espaço do que deveria: interagir com certos murais aprofunda um pouco os conceitos que regem o mundo do jogo, mas no geral a história não tenta ser a estrela. Wenjia é um jogo sobre desafios e mecânicas, e é exatamente isso que ele entrega.
Não é a primeira vez que vemos um jogo onde um animal deve salvar sua terra de alguma maldição — de cabeça lembro de Okami, Ori and the Blind Forest e Embers of Mirrim, todos ótimos jogos –, mas é um tema que pode render boas histórias. Aqui, ainda que a história não esteja no mesmo nível dos jogos supracitados, ela serve como estopim para a jornada.
Viajando entre dois mundos
Wenjia é um jogo sem inimigos ou combates; os perigos que enfrentamos sempre são elementos do cenário: espinhos, abismos, rios de lava, jatos de fogo,, plataformas que despencam, e por aí vai. Seu gameplay resume-se a basicamente 2 botões, mas essa simplicidade é compensada por um level design criativo e desafiador.
E não é só isso: ainda que seja um jogo de plataforma 2D bem direto ao ponto, Weinja possui um “plot twist” que deixa tudo mais interessante. Há duas versões do mundo — geralmente uma mais colorida e vibrante, outra sombria e misteriosa. Podemos alternar entre estes “dois mundos” livremente ao pressionar de um botão, e dominar esta mecânica é a chave do sucesso.
Quando você se deparar com um abismo intransponível, por exemplo, pode “mudar de mundo” e no outro provavelmente haverá uma plataforma, ou algo que lhe permita avançar. Também pode acontecer de haver uma corrente de ar que só sopra em um dos mundos, nos empurrando para cima, e por aí vai.
Tipo assim, ó:
O level design obviamente força o jogador a dominar esta mecânica, colocando obstáculos que vão exigir um timing perfeito do jogador para serem superados. Muitas vezes teremos que viajar entre os dois mundos durante o salto, pois o cenário se transforma ao nosso redor, com espinhos e ameaças podendo virar lugares seguros em um piscar de olhos.
O recente Guacamelee! 2 faz algo muito parecido com o mundo dos vivos e dos mortos, e talvez seja a melhor forma de exemplificarmos como esta mecânica funciona em Wenjia. Não é nada especialmente complexo, mas demanda reflexos rápidos e agilidade nos dedos.
Progressão confusa
Guacamelee! 2 também viaja por dois mundos, mas é um Metroidvania, com um mapa enorme e todo interconectado. Wenjia, por sua vez, é um jogo de fases mais tradicional… porém, ele consegue ser um bocado confuso, mesmo dentro desta proposta linear.
O que acontece é o seguinte: em algumas fases, podemos acessar portais que nos levam para uma outra área. Teoricamente essa nova área seria uma fase bônus… mas a gente não necessariamente volta para onde estava (fora do portal), o jogo continua rolando, a gente segue em frente e vai pra outra fase, sem nem saber se aquilo era um bônus, ou o que haveria adiante se ignorássemos o portal e seguíssemos em frente.
O fato da ambientação não mudar muito aumenta essa confusão, pois tudo é muito parecido, dificultando a vida de quem busca referências visuais para não se perder. Na real não tem muito como se perder em um jogo linear, mas quem tentar entender a progressão da jornada pode acabar perdidinho.
Outro problema do game é sua reta final: no geral o jogo tem uma boa distribuição de checkpoints, mas seu finalzinho é uma sucessão insana de pulos e trocas de mundos que demanda um desempenho simplesmente perfeito do jogador. Sem checkpoints, um trecho que na prática mal dura 2 minutos é capaz de te deixar preso por muito tempo, afinal, errou, volta do início.
Audiovisual
Wenjia é um jogo muito bonito. Suas cores são vibrantes, e sua direção de arte inspirada torna cada frame uma pintura em potencial. Ele claramente busca inspiração no estilo onírico Ori and the Blind Forest, e, embora não tenha o mesmo nível de polimento, entrega uma experiência visual belíssima. O efeito de transição entre os mundos é muito charmoso, e é legal vermos 2 versões (nem tão) iguais dos ambientes.
Apesar desse capricho, a falta de variedade dos cenários acaba tornando-se meio cansativa. Ok, cada ambiente do jogo é “2 em 1”, mas a temática de floresta deixa cada tela muito similar à anterior, por mais caprichosa que seja a direção de arte.
A trilha sonora segue a mesma linha, e ainda que seja maravilhosamente orquestrada, tende a tornar-se meio repetitiva com o tempo. Wenjia possui menus e legendas em português, mas a tradução é cheia de erros e termos bizarros. Acho que o melhor exemplo é este que capturei abaixo:
Conclusão
Apesar de dar suas escorregadas, mecanicamente Wenjia funciona muito bem, e seu level design faz um excelente uso da habilidade de viajarmos entre 2 versões de um mesmo mundo, exigindo que o jogador acostume-se e domine esse troca-troca dimensional.
Wenjia é aquele tipo de jogo que vale mais pelo gameplay do que pela história, embora também seja fácil recomendá-lo por seu visual de encher os olhos. Sua beleza pode até dar a falsa impressão de que estamos diante de um jogo suave e contemplativo, mas não se engane: ele consegue entregar um desafio de alto nível, mesmo em um gênero pra lá de manjado como o plataforma 2D.
Wenjia foi lançado no final de setembro, e está disponível para PC e Xbox One.