Análise Arkade: Wo Long: Fallen Dynasty é para Sekiro o que Nioh é para Dark Souls
No início deste mês tivemos o lançamento de Wo Long: Fallen Dynasty, novo Souls-like da Koei Tecmo e da Team Ninja, os mesmos estúdios que criaram Nioh. E chegou a hora de vermos como o game acabou se saindo!
Guerras e Demônios na China Imperial
Nioh, o primeiro Souls-like da Team Ninja, explorava um pouco da história real do Japão Feudal e da figura histórica de William Adams, o primeiro samurai ocidental da mundo. Já Wo Long: Fallen Dynasty explora outra ambientação real, indo para o ano de 184 D.C., durante os momentos finais da Dinastia Han.
Neste contexto histórico, vemos uma versão da China infestada de demônios, surgidos dos resquícios de uma imensa guerra que está assolando os Três Reinos desta dinastia. Você controla um soldado comum, que uniu-se a batalha para tentar salvar seu vilarejo do ataque dos bandidos dos Turbantes Amarelos, um grupo que quer derrubar o império e controlar toda a China.
Iniciando a aventura ajudando um jovem cego a fugir do vilarejo destruído, tudo se transforma de repente quando os demônios entram em cena, e um misterioso homem, conhecido apenas como o “Taoísta de Preto”, surge e extrai um espírito em forma de dragão do jovem cego, corrompendo-o e criando um dragão demoníaco.
Após isso, você entrará na guerra que está devastando a China, conhecendo muitas figuras históricas em sua jornada para derrotar o misterioso Taoísta de Preto e descobrir os segredos do Elixir, um remédio lendário capaz de curar e fortalecer uma pessoa, ou transformá-la num demônio.
Tomando inspiração de Sekiro
Nioh foi um game que tomava inspiração direta de Dark Souls, sendo um Souls-like com ações baseadas em uma barra de stamina, sistema de mortes em que você perdia sua “experiência” coletada ao morrer, voltando ao último ponto de descanso, com inimigos reaparecendo ao interagir com pontos de descanso e etc.
Wo Long: Fallen Dynasty também toma inspiração direta de outro game da From Software – Sekiro: Shadows Die Twice, principalmente em seu sistema de Parry e quebra de postura, além de não possuir uma barra de stamina.
Aqui, a base da realização de ações e de batalhas está na barra de espírito dos personagens. Essa barra é um medidor de força e fraqueza de um personagem. Ao usar magias, esquivas ou defender ataques, a barra vai se movendo para a esquerda e ficando laranja. Se ela se completar, seu personagem fica atordoado por alguns segundos.
Em contrapartida, quanto mais você acerta ataques em um inimigo e deflete seus ataques, a barra se move para a direita, ficando azul, e quanto maior ela fica, mais poderoso é seu “ataque espiritual” e você pode usar mais magias antes do medidor se esgotar.
Por conta da mecânica de basse de espírito está diretamente ligada a um sistema de Parry de ataques inimigos. Você tem dois botões importantes aqui: Um defende os golpes, e o outro gera um movimento de parry que dura cerca de 1 segundo. Se você usar o parry no momento certo, pode quebrar a postura do inimigo e fazer a barra de espírito desse inimigo ficar laranja enquanto a sua ai ficando azul.
Por isso, toda a ação e os combates do game exigem que o jogador tenha um excelente timing para defletir ataques inimigos para aumentar a barra de espírito e atacar de forma mais eficaz. Leva um bom tempo até se acostumar a essa mecânica, assim como em Sekiro, o que torna Wo Long: Falen Dynasty um game um pouco mais difícil que Nioh 1 e 2.
Um gameplay superficialmente complexo
Quando você começa a jogar Wo Long: Fallen Dynasty, encontra um sistema de gameplay um tanto complexo. Entender como funciona a barra de espírito, como usar magias, quando atacar, quando defletir, e principalmente como entender a “hierarquia elemental” das magias é complicado no início.
Além disso, há um sistema de moral em cada missão. A Moral é obtida ao matar inimigos e desbloquear bandeiras em cada mapa, que servem tanto para descansar, como para aumentar o nível de moral. A moral é usada como requisito para uso de magias, por exemplo, você precisa de mortal 10 para usar uma magia mais forte.
A moral afeta a força de seu personagem e dos inimigos. Ou seja, o level de seu personagem não é o único fator que compõe sua força. Inimigos de moral mais alta que a sua causam mais dano, enquanto os de moral mais baixa são mais fracos. Conforme você derrota inimigos e debloqueia bandeiras, ganha mais moral e fica mais forte. Mas, ao morrer, você perde parte da moral conquistada.
Demora um tempo até aprender tudo e se acostumar a de fato usar todos os recursos que o game oferece, mas quando finalmente se entende o funcionamento do game, tudo fica muito mais simples. Em suma, em uma batalha seu objetivo é esgotar a barra de espírito dos inimigos para abrir brechas para ataques críticos. E para isso você usa a sua própria barra de espírito.
Seu personagem possui dois tipos de ataques: Um combo básico para cada tipo de arma e um ataque espiritual, que é fortalecido quanto maior sua barra de espírito. Ao usar o ataque espiritual, você diminui o tamanho da barra do inimigo, o que permite que você consiga atordoá-lo mais rapidamente.
Ale´m disso, cada arma possui até duas habilidades especiais, semelhantes as Cinzas de Guerra de Elden Ring. Porém, essas habilidades só ficam disponíveis dependendo do nível de raridade de sua arma.
Uma característica que Wo Long: Fallen Dynasty trouxe de Nioh é o nível de raridade de armas, que vai de 1 a 4 estrelas. Toda arma dropada de inimigos possui um nível de raridade gerado aleatoriamente. A raridade não afeta o quanto de dano a arma causará, mas sim quais habilidades especiais terá, além de algumas características passivas, como causar mais dano elemental, reduzir dano ao defender, curar ao derrotar inimigos e etc.
Alie isso a imensa quantidade de loot obtida de inimigos e a infeliz característica de inventário com limite de até 500 itens e temos um problema bem incômodo: Gerenciamento de inventário. Você coletará muito lixo até encontrar armas com status melhores. E aí terá que evoluir essas armas no ferreiro até ficarem realmente boas.
Wo Long: Fallen Dynasty também possui a progressão por fases de Nioh, o que torna a cadência do game mais encapsulada e consequentemente um pouco mais fácil. Na realidade, o game oferece muitas opções para facilitar a jogatina, como NPCs aliados que você pode chamar, e que aparecem automaticamente na maioria das missões de história; o sistema de combates que não é baseado em stamina; o uso de magias que não gasta uma barra de MP, e por aí vai.
Mas o game complica um pouco quando se trata do gerenciamento do personagem, como o já citado inventário limitado em 500 itens, e ter que sempre lembrar da hierarquia elemental: Água vence Fogo, que vence Metal, que vence Madeira, que vence Terra, que vence Água. Isso é levado em consideração na evolução de seu personagem, em que você atribui pontos de experiência a esses cinco elementos em seu personagem.
Apesar de complicado, essa hierarquia ajuda muito em combate, por exemplo: Se um inimigo jogar uma bola de fogo em você, é possível anulá-la ao soltar uma magia de água.
Um Souls-like com uma fórmula que funciona
Eu já joguei muitos Souls-like diferentes e falei de todos eles aqui na Arkade, e uma coisa que sempre fica clara é que ninguém, verdadeiramente ninguém sabe trabalhar esse subgênero melhor que a From Software, o estúdio que o criou.
Com isso, quando um novo Souls-like é lançado, normalmente cai em duas categorias: Tentou ser um Dark Souls e não se deu muito bem. Ou modificou um pouco a fórmula e criou algo bem legal. Felizmente Wo Long: Fallen Dynasty está na segunda categoria.
A progressão por fases é algo bem interessante e que dá certo aqui. Mesmo sendo um Souls-like, o game não PRECISA ser igual a suas inspirações, mesmo que nesse caso o game tenha uma inspiração clara em Sekiro.
A questão, e o ponto principal de tantas falhas ao se “recriar” esse gênero, está na forma como a dificuldade é construída. Não é a barra de stamina, ou os inimigos que podem te matar coma porrada só, nem o sistema de morte que tornam esse subgênero em algo coeso, mas sim como sua dificuldade “orgânica” faz a ligação entre tudo isso.
O ponto principal é que num Souls-like a progressão do personagem é o mais importante. É você conseguir evoluir o seu personagem e sua habilidade com o controle (ou melhor uso de suas ferramentas) para superar um desafio que estava muito difícil.
Outros Souls-like não replicam essa ideia, e criam sistemas de gameplay em que o que importa é a quantidade de dano que você causa, mas ignoram as possibilidades de quebrar o moveset de inimigos, de usar o cenário em sua vantagem, de usar estratégias, armas e “builds” diferentes para superar desafios diferentes. Em outras palavras, em um Souls-like ruim, não importa como você jogue, vai ser tudo igual.
Wo Long: Fallen Dynasty oferece muitas opções de customização que realmente afetam como você “interage” com desafios. Você pode deixar as coisas mais fáceis ou mais difíceis dependendo da escolha de armas, equipamentos, magias e Espírito Guardião (que pode ser ativado como um golpe supremo ou para imbuir seu personagem com poder elemental). O game não ignora o seu estilo de gameplay, o que é um grande ponto positivo.
Audiovisual
Wo Long: Fallen Dynasty é um game bonito, com animações bem feitas e principalmente uma enorme quantidade de detalhes em seus cenários e monstros, e principalmente nas armaduras. Basta ver as screenshots nesta análise para ver a enorme quantidade de detalhes presentes. Apesar disso, é um pouco “engessado” quando se olha bem de perto.
O game conta com um sistema de criação de personagens muito robusto e completo, permitindo uma customização quase completa do visual de seu personagem. Nas cutscenes o game manda bem, apesar de rolar alguns engasgos de vez em quando, pois infelizmente o port de PC do game sofre com algumas inconsistências infelizmente constantes.
Na parte sonora, o game é todo composto por músicas ao estilo de filmes ambientados na China Antiga, com muitas flautas, sinfonias cheias de energia e também músicas em tons mais baixos para criar atmosferas de terror.
O game conta com dublagens em inglês, chinês e japonês. Para jogar em total imersão, eu optei por jogar em chinês (e também porque achei a dublagem americana um pouco fraca), o que deixa tudo muito mais legal, mas torna as legendas bem corridas.
O game conta com localização em português brasileiro em seus menus e legendas.
Conclusão
Wo Long: Fallen Dynasty é um bom game! É divertido, desafiador, mas bem amigável. Esse é um game que oferece muitas opções de gameplay, mas no fim, o uso do parry, que demanda um timing impecável, é algo a se levar em conta se você não for fã de games mais difíceis.
Oferecendo muitas horas de diversão, uma história interessante e é claro a possibilidade de jogar online com amigos (infelizmente não consegui testar o online por não encontrar outros jogadores para co-op ou invasões), deixando tudo bem mais legal.
Se você gosta de Sekiro, saiba que aqui não encontrará um game muito parecido, apesar de incorporar alguns de seus elementos de gameplay. Ainda assim certamente você se divertirá (e morrerá) bastante aqui.
Wo Long: Fallen Dynasty está disponível para PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One e Xbox Series X/S.