Análise Arkade: O despretensioso e divertido Big Brain Academy: Brain vs. Brain

9 de dezembro de 2021
Análise Arkade: O despretensioso e divertido Big Brain Academy: Brain vs. Brain

O que acontece quando você mistura um pacote de mini-games baseados em raciocínio rápido com a essência de party game tão característica do Nintendo Switch? Big Brain Academy não é exatamente uma marca nova, já que o DS recebeu sua primeira versão no já longínquo ano de 2006 e uma sequência foi lançada para o Wii, mas a franquia agora chega ao console híbrido da gigante japonesa em uma versão revisada, refinada e ampliada, se assim podemos dizer, com grande ênfase no bom e velho desafio multiplayer local. O resultado desta nova investida, Big Brain Academy: Brain vs. Brain, é satisfatório e divertido, dependendo das expectativas e dos objetivos de seus jogadores.

Um jogo feito de jogos

O game consiste basicamente em uma coleção de pequenos puzzles divididos em cinco categorias — Analyze, Compute, Identify, Memorize, e Visualize — cada qual com foco em alguma habilidade cognitiva distinta dentro do espectro das inteligências múltiplas. Por sua vez, cada categoria tem também quatro subdivisões, totalizando 20 pequenos desafios que, via de regra, exigem capacidade e velocidade de raciocínio. Em outras palavras, quanto mais rápida e quanto mais precisa for a resposta do jogador, melhor.

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Para quantificar essa capacidade de resposta, o jogo se baseia em dois aspectos: o tempo limitado para as respostas e a escalabilidade da dificuldade dentro do mesmo ciclo. Basicamente, você tem um tempo determinado para responder o máximo de perguntas que conseguir, e conforme avança dentro desse tempo, a seguinte poderá ser um pouco mais difícil. No caso do jogador começar a falhar quando essa dificuldade aumenta, o próprio game dá um passo atrás e se reequilibra. O resultado é uma contagem de pontos que considera quantidade de acertos, de erros, e o nível de dificuldade de cada pergunta.

Esta é a mecânica básica de funcionamento do jogo: para efeitos de uma comparação grosseira, é uma espécie de mistura dos sistemas competitivos de Perguntados ou Show do Milhão com os passatempos dos quadrinhos da Turma da Mônica e outros livros de atividades infantis. São desafios do tipo “estoure os balões em ordem crescente” ou “a que figura essa sombra se refere” ou ainda “qual a sequência correta dos seguintes objetos em tela”. De uma forma ou de outra, qualquer um de nós já nos deparamos com esse tipo de exercício em espaços dos mais diversos.

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Ainda que seja muito mais visual do que textual, contudo, há um ou outro desafio que exige uma certa leitura, e aí a falta da opção em português brasileiro deve ser um fator limitador, sobretudo para jogar com crianças, mas pode ser visto também como uma oportunidade para praticar e aprender algo relacionado à língua estrangeira. O jogo não exige a leitura de textos longos, mas de frases curtas e palavras pontuais. Identificar um animal na tela e escolher rapidamente a opção com o nome dele é só um dos exemplos mais óbvios disso.

O maior problema do formato é a pouca variedade de conteúdo. Em uma ou duas horas, é possível não só conhecer tudo o que o jogo tem a oferecer, como certamente já é possível dominar grande parte desse conteúdo. Estruturalmente, há espaço virtualmente infinito para crescimento, mas até aqui é impossível saber se há, por parte da Nintendo, qualquer objetivo em expandir e ampliar o game, então partindo do pressuposto que este é o conteúdo todo, infelizmente não há muito o que explorar, a não ser praticar e melhorar pontuações, customizar seu avatar e se divertir com família e eventuais visitas.

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Mutiplayer de verdade, só local

O maior potencial de diversão e longevidade de Big Brain Academy: Brain vs. Brain está, sem sombra de dúvidas, na diversão compartilhada com mais pessoas. Se o original era uma experiência muito mais focada no individual, aqui o próprio subtítulo indica que mesmo podendo ser jogado em modo single player, é no cérebro vs. cérebro que a coisa mostra todo o seu potencial de engajamento. Se aproveitando de sistemas de comando absolutamente simplificados — você basicamente usa o direcional para selecionar a opção correta e um botão de confirmação — os joy-cons do Switch são nativamente apropriados para dividir a experiência com alguém no modo dock.

Na verdade, o jogo permite o multiplayer de até quatro pessoas, de forma competitiva e cooperativa em duplas, e o modo funciona como seria de se esperar: quem fizer mais pontos ao performar melhor diante um desafio (escolhido ou aleatório) vence. É uma experiência ideal para aquele churrasco de final de semana, ou para as festas de final de ano, na medida em que pudermos nos reunir com mais pessoas. Com partidas rápidas e sem quaisquer burocracias, é perfeito para qualquer jogador, dos mais dedicados aos casuais de primeira viagem, por ser fácil de compreender e de jogar, e equilibrando as coisas fazendo com que o diferencial seja de fato a capacidade de resposta do jogador, e não uma maior habilidade com os controles do videogame.

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Contudo, as opções on-line são limitadíssimas, e se resumem em um modo fantasma, onde competimos com o desempenho assíncrono de outros jogadores ao redor do mundo, e aos inevitáveis leaderboards universais, que zeram mensalmente. Em tempos onde jogos mobile muito menos ambiciosos já sabem lidar bem com a sincronicidade de formas bastante arrojadas, é uma oportunidade perdida não expandir o potencial de imersão para quem poderia jogar com os amigos à distância. Claro que aqueles jogadores com a competitividade pulsante vão poder medir forças com pessoas mais dedicadas, mas é pouco na comparação com o potencial intrínseco da proposta do jogo.

Jogo de console com cara de mobile

Individualmente, cada unidade que compõe o todo de Big Brain Academy: Brain vs. Brain poderia muito bem ser mais um daqueles jogos rápidos que baixamos no smartphone para passar o tempo, seja em casa, seja na fila do banco ou no trajeto para o trabalho. Essa objetividade característica de jogos mais diretos, sem muitos meandros ou qualquer burocracia, é um alívio e uma das melhores características do game, que evita menus desnecessários ou qualquer perfumaria e, por isso, foca naquilo que importa, favorecendo não só a própria natureza portátil do console como a dinâmica de jogar com outras pessoas.

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Normalmente, a comparação de jogos de consoles (ou computadores) com a plataforma mobile tende ao pejorativo, mas neste caso, é exatamente o contrário. O estilo visual que brinca com a estética dos jogos educativos, do rascunho em lousa e do tom professoral de um avatar genérico logo se mostra muito adequado pela discrição. Sem abusar dos detalhes e das firulas, Big Brain Academy: Brain vs. Brain aposta em cores sólidas e vivas. É como se o jogo fosse uma versão divertida, intensa e gamificada de livros didáticos.

Serão exigidas respostas rápidas e precisas em um intervalo de alguns segundos que vão desafiar noções de direção e espacialidade; memorização de algarismos, cores e formas; deduções e elaborações mentais; relações entre conceitos e objetos; identificação de características conceituais e comparativas; etc. O que é mais rápido: um avião ou uma lesma? O que é maior: um repolho ou um gato? O que tem seis pernas: um gafanhoto, uma aranha ou uma cadeira? São aqueles desafios dignos dos programas infantis matinais ou adultos dominicais da TV aberta dos anos 1990/2000, tão bobos quanto viciantes.

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Esse estilo inspirado no tema escolar, porém, não significa a infantilização da exigência de concentração e do raciocínio rápido. Como dito, a dificuldade adaptativa e crescente dá conta de oferecer desafio e diversão para diferentes níveis e faixas etárias, e a criação do avatar inicial é parte desse mapeamento do jogador e daquilo que pode lhe ser mais indicado. Determinar o meu avatar como uma pessoa de 38 anos de idade e com a minha escolaridade me ofereceu, no single player, algo diferente daquilo que minha filha, com 5 anos, recebeu.

Para melhorar ainda mais, há um nivelamento assimétrico resultante também da indicação dos próprios jogadores quando em multiplayer. É possível, por exemplo, estabelecer dificuldades diferentes para cada pessoa, favorecendo o equilíbrio e a diversão coletiva. Cada escolha, nesse aspecto, tem o objetivo claro de garantir a equidade de oportunidades competitivas. São decisões simples de design que fazem toda a diferença para que este seja um game daqueles que ficam instalados eternamente só esperando uma boa desculpa para voltarmos a ele.

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Conclusão

Big Brain Academy: Brain vs. Brain é uma ótima desculpa para juntar um bando de gente na sala para algumas risadas e muita diversão. Sem parecer maluco, expansivo ou caótico demais como o recente WarioWare: Get It Together!, é um puzzle party game convidativo, discreto e objetivo que se apoia na experiência coletiva como seu principal trunfo para ganhar seu espaço, mesmo com pessoas que não tem qualquer intimidade com consoles de mesa ou jogos mais sofisticados. Seja utilizando a tela de toque, seja com os controles divididos, é uma indicação certa para o antes e o depois da ceia natalina, ou para aquele final de semana chuvoso entocado na sala de casa.

Contudo, se a sua expectativa de experiência é o single player, pode ser um jogo de tiro curto. Os poucos desafios diferentes podem ser rapidamente explorados e repetidos até se conquistar as pontuações mais elevadas que dão direito a gradações máximas (que vão de uma medalha de bronze à platina). A repetição sempre dá direito ao loot de itens cosméticos de personalização de avatar, mas isso está muito longe de ser algo a seduzir um jogador por muito tempo. O multiplayer on-line assíncrono também não tem qualquer atrativo que seja significativo e jogar o modo por mais de vinte ou trinta minutos já será um grande feito.

Disponível para o Nintendo Switch desde o dia 03 de dezembro de 2021, Big Brain Academy: Brain vs. Brain pode ser jogado em inglês, espanhol e outros idiomas, mas infelizmente, o português brasileiro não está dentre eles.

Paulo Roberto Montanaro

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