Análise Arkade – Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion, um remaster com gostinho de remake
Em 2022, finalmente pude me redimir de uma falha grave no meu “currículo gamer”: joguei Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion! Se a história de Zack Fair também é uma novidade para você, confira nossa análise completa!
Antes de mais nada: o que é Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion?
Como você bem deve saber, Final Fantasy VII é um dos jogos mais importantes de todos os tempos… seu impacto é tão grande que ele acabou tendo seu universo expandido para além do jogo original, por meio de filmes, animações e, claro, games.
Lançado oficialmente em 2007 para o finado PSP, Crisis Core: Final Fantasy VII funciona como um prequel da história original, e se passa cerca de sete anos antes do game principal. É aqui que conhecemos a origem da icônica Buster Sword, por exemplo. E é também onde podemos conhecer um Sephiroth mais humano, antes de se tornar o vilão megalomaníaco do jogo principal.
Com o sucesso do excelente remake de Final Fantasy VII (que se tornará uma trilogia), a Square Enix decidiu que este seria um bom momento para revisitar este universo expandido. O que nos traz a este Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion, que é uma versão remasterizada do jogo de PSP.
Embora tenha a maior pinta de remake — com modelos 3D de personagens que não devem nada ao FF VII Remake e diálogos 100% falados — este jogo não foi refeito do zero. Foi “passado a limpo”. Houve melhorias de qualidade de vida em termos de gameplay, mas, na prática, o jogo e a história são exatamente os mesmos. Até as cutscenes são idênticas.
Que fique claro: não estou falando que isso é um problema. É só um aviso para quem jogou a versão PSP e acha que vai ter algo novo aqui. Não vai. Enquanto Final Fantasy VII Remake mudou drasticamente as mecânicas do jogo e tomou até liberdades narrativas, este “novo” Crisis Core segue sendo o mesmo Crisis Core de 2007 — só que muito mais bonito.
A história de Zack Fair
Nada de Cloud, Tifa, ou Barret. Crisis Core: Final Fantasy VII traz Zack Fair como protagonista, um jovem da SOLDIER que idolatra Sephiroth e sonha em alcançar a 1st Class e tornar-se um herói.
Junto de seu amigo e mentor, Angeal, Zack é enviado para Wutai, nação que ameaça a supremacia da Shinra, em uma busca por membros da SOLDIER que estão desaparecidos e supostamente desertaram.
Quando Angeal desaparece durante a missão, Zack é encarregado de encontrar não só seu amigo, mas também outro SOLDIER desaparecido: o misterioso Genesis — grande amigo de ninguém menos que Sephiroth.
Conforme a história avança, vemos Zack visitar lugares icônicos e interagir com personagens emblemáticos. Anos antes de Cloud, ele também cai pelo telhado da igreja onde Aerith cultiva suas flores. Ele esbarra em uma jovem Yuffie, que já sonha em roubar coisas pela glória de Wutai. E, ele também acaba conhecendo o próprio Cloud na época em que ele ainda era apenas mais um soldado da Shinra.
Sendo bem honesto: a história de Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion é rocambolesca, com muitas reviravoltas envolvendo as cobaias do famigerado Project G, experimento que injetou as células alienígenas de Jenova em seres humanos, na esperança de criar supersoldados.
Mas, o jogo sem dúvida tem seu valor justamente por expandir o universo e a lore do jogo. Zack é um personagem muito carismático, e a forma com que ele interage com alguns dos futuros protagonistas da série é muito legal.
Uma experiência diferente
Considerando que o Crisis Core original foi lançado 10 anos após o Final Fantasy VII, era de se esperar que ele trouxesse mudanças e avanços de gameplay. Mas, eu realmente não esperava que ele fosse tão diferente!
Para começar, este não é um jogo de party: controlamos apenas Zack o tempo todo. Ele também não é um jogo de mundo aberto, mas um jogo dividido em capítulos e missões. Cada área do jogo é um mapa fechado, sem ligação direta com os demais. No geral, é uma experiência muito mais contida e linear.
O sistema de combate é em tempo real, o que, curiosamente, deixa este jogo muito mais parecido com o Remake do que com o FF VII original. Mecanicamente, o combate é um pouco mais básico, mas muito funcional, com boas animações de golpes e combos. Fica claro que aqui já havia o embrião do que viria a ser o ótimo sistema de combate do Remake.
Confira abaixo minha batalha contra um dos primeiros chefes do jogo:
Há um inteligente sistema de atalhos para as Materias: podemos atribuir 6 Materias diferentes aos botões do controle e, ao segurar o botão L1 e pressionar o botão correspondente, podemos utilizar as magias/ataques vinculados a ele. Além das barras de HP (vida) e MP (mana), também temos os AP (Action Points), para as Materia de ataque físico) e os SP (Soldier Points), que aqui meio que estão atrelados ao sistema de Limit Breaks do jogo.
Outra boa sacada do jogo: você pode deixar 5 “presets” de Materias e equipamentos definidos, e alternar entre eles rapidamente pelo menu de pause. O que é muito útil para não ter que ficar reorganizando seu arsenal manualmente. Tendo 5 variações diferentes, você pode criar presets bem diferentes, e alternar entre eles conforme a necessidade.
Digital Mind Wave e Summons
Falei dos Limit Breaks ali em cima, e a verdade é que eles funcionam de um jeito BEM diferente. Seu funcionamento está atrelado aos já mencionados Soldier Points, mas, principalmente, ao Digital Mind Wave — mais conhecido como DMW.
O DMW é uma espécie de slot machine que surge no canto superior esquerdo da tela durante os combates. As rodas vão girar com mais ou menos intensidade, nos concedendo variados buffs enquanto tentam alinhar imagens de personagens conhecidos.
Conforme você encontra personagens-chave no jogo — como Sephiroth, Tseng, ou mesmo Cloud e Aerith –, as fotinhos deles vão aprecendo nessa slot machine. Quando você consegue alinhar 3 iguais, libera uma habilidade específica daquele personagem, que pode ser tanto um ataque devastador quanto um benefício para Zack.
O mais curioso é que a DMW é afetada pelas “emoções” de Zack. Isso quer dizer que, se algum personagem fez algo relevante recentemente, ele vai ter uma chance maior de aparecer durante a próxima batalha. Pelo que li, no jogo original a uitilização do Limit Break era automática, aqui isso mudou: depois que os slots se alinham, o jogador escolhe quando usar a habilidade. Uma questão de usabilidade que parece simples, mas enriquece as possibilidades estratégicas do combate.
Os Summons funcionam da mesma maneira: as Summon Materias ficam atreladas ao DMW, e as criaturas podem ser acionadas de vez em quando, conforme as rodas da slot machine se alinham. Vale ressaltar que alguns Ssummons são chefes, que precisamos enfrentar e derrotar antes de ter acesso à Materia correspondente.
Missões… Toneladas de missões
Por ser um game bastante linear e direto ao ponto, Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion poderia ser um jogo consideravelmente curto para os padrões de um RPG. Porém, para dar uma “engordada” no conteúdo, a Square Enix entupiu o jogo com missões opcionais que são, em sua esmagadora maioria, genéricas ao extremo.
Podemos acessar essas missões por qualquer Save Point do jogo. E todas envolvem, basicamente, entrar em uma “mini dungeon”, abrir alguns baús e matar alguns inimigos. Ao final de cada missão, recebemos uma recompensa.
Há uma pequena variedade de cenários genéricos (tipo subúrbio, caverna, ou base militar), e o desafio vai ficando gradativamente maior — em uma gradação que vai de 1 a 10 estrelas). Certas missões trazem chefes opcionais ou mesmo Summons, mas essas são exceções. No geral, vamos matar monstros e soldados comuns, de novo e de novo.
Aqui vai uma breve missão dessas. Como eu já estava de saco cheio e bem mais forte que os inimgos, resolvia quase todas as lutas com um ou dois golpes:
Aliás, para deixar tudo ainda mais pentelho, aqui ainda temos os famigerados encontros aleatórios, uma coisa extremamente pentelha que, felizmente, foi abolida da franquia do FF XII em diante.
Verdade seja dita, cumprir essas missões só é útil para elevarmos o nível de Zack e conseguirmos alguns equipamentos e Materias melhores. Mesmo aquelas que trazem algum fiapo de narrativa — como as que envolvem a Yuffie — são mais do mesmo.
Essa repetição de cenários, objetivos e inimigos empobrece consideravelmente o conteúdo. Missões secundárias em RPGs nem sempre são legais ou memoráveis, mas Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion consegue o feito de exagerar tanto na quantidade quanto na falta de variedade. Poderíamos cortar pela metade o número dessas missões, que ainda assim, seria muito.
Audiovisual
Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion é um remaster com gostinho de remake. Como eu já disse, o jogo não foi refeito, mas recebeu um belo upgrade no departamento visual. Aind que seja menos ambicioso tecnicamente, graficamente, ele não deve muito para o Final Fantasy VII Remake, especialmente no que diz respeito aos modelos dos personagens, extremamente detalhados e expressivos.
Aqui todos também ganharam vozes, algo que enriquece muito a narrativa e acrescenta uma boa dose de carisma aos personagens. Considerando que a trajetória de Zack talvez tome novos rumos em Final Fantasy VII Rebirth, é bom vermos que o personagem foi bem tratado nesta atualização.
A trilha sonora segue a qualidade que se espera de um Final Fantasy, ainda que nas já mencionadas missões genéricas, tenhamos um punhado de músicas igualmente genéricas que se repetem de acordo com o ambiente.
No PS5, Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion roda liso e não apresentou nenhum tipo de engasgo ou bug. Considerando que o jogo saiu até para o Nintendo Switch, é provável que a performance varie bastante conforme a plataforma. Mas, no console mais moderno da Sony, a experiência foi muito satisfatória, com loadings que nem duravam 3 segundos e ótimo visual.
O que não é nada satisfatório, infelizmente, é a total falta de localização para o nosso idioma. Considerando que Final Fantasy VII Remake recebeu legendas em PT-BR, eu esperava o mesmo tratamento com Crisis Core. Não é o que acontece.
O jogo tem opções bastante limitadas de idiomas (inglês e japonês, basicamente), sem nenhum tipo de acessibilidade idiomática. Sei que este é um spin off, algo “menor”, mas creio que ele merecia um tratamento equivalente ao do Remake.
Conclusão
Foi um prazer finalmente jogar Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion e conhecer melhor Zack, personagem que, sob muitos aspectos, é até mais interessante e carismático do que o Cloud. Entender sua relação com Aerith e testemunhar a sádica transformação de Sephiroth — de herói a maníaco — é muito enriquecedor, por mais mirabolante que a história seja.
Só por isso, Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion já é altamente recomendável. Ele é, afinal, uma peça importante do grande quebra-cabeça que é o universo expandido de Final Fantasy VII, e o que foi visto aqui pode ser ainda mais relevante agora que a história pode (ou não) tomar novos rumos.
E, não podemos deixar de mencionar que, até agora, o jogo estava “preso” no PSP, plataforma que foi descontinuada há anos. Ao relançar Crisis Core para tantas plataformas, a Square Enix torna o jogo mais acessível do que nunca, permitindo que novos e velhos fãs possam se aprofundar ainda mais neste incrível universo.
E o melhor é que a remasterização caprichada garante que esta é a melhor versão de um clássico que nem todo mundo teve a chance de jogar. A dúvida que fica é: será que o controverso Dirge of Cerberus: Final Fantasy VII (que é um shooter de ação em terceira pessoa) vai receber o mesmo tratamento?
Crisis Core: Final Fantasy VII Reunion foi lançado em 13 de dezembro, com versões para PC, Playstation 4, Playstation 5 (versão analisada), Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch.
Agradecemos aos camaradas da Square Enix, que nos disponibiizaram uma cópia para review.
Para saber mais
Análise de Final Fantasy VII Remake
Análise de Final Fantasy VII Remake – Intergrade Intermission (DLC da Yuffie)
Memory Card – Minha história com Final Fantasy VII
Memory Card – Minha história com Final Fantasy VII, Parte 2