Análise Arkade – Kingdom Hearts: Melody of Memory, um jogo de ritmo diferente
Kingdom Hearts. A série que misturou os universos de Final Fantasy e da Disney já existe há 18 anos… e nesse meio tempo, foi ficando mais e mais confusa.
Um esforço necessário
Mesmo quem é fã pode acabar perdido na história e na cronologia da série. E não é para menos: embora a série principal tenha apenas 3 jogos enumerados (relembre nossa análise de Kingdom Hearts III), há quase uma dezena de spin offs, lançados para plataformas variadas, que expandem o universo e apresentam novos personagens. Isso para não mencionar os mangás e produtos de outras mídias.
E os títulos dos jogos — e até mesmo das coletâneas –, convenhamos, não facilitam em nada a vida da gente. Títulos como Kingdom Hearts 358/2 Days e Kingdom Hearts HD 2.8 Final Chapter Prologue podem ser bem confusos para quem pega o bonde andando e tenta entender onde cada jogo se encaixa.
Isso para não mencionar os personagens de nomes estranhos (Xehanort, Vexen, Demyx, Marluxia), figuras encapuzadas misteriosas, vilões que viajam no tempo, diferentes versões de personagens coexistindo em realidades paralelas… a lista de “fatores complicadores” é grande.
Pensando em resumir a história e a cronologia destes 18 anos de narrativa rocambolesca — e de quebra, levar a franquia para um novo caminho –, a Square Enix lançou esta semana Kingdom Hearts: Melody of Memory, um jogo de ritmo, que passeia pela emblemática trilha sonora da franquia, enquanto Kairi narra os acontecimentos mais importantes.
Considerando que a Kairi foi, por grande parte da saga, a “donzela em perigo”, é bacana que ela tenha um pouco de protagonismo neste novo jogo — ainda que, “protagonismo” aqui seja basicamente o papel de narradora. Mas, ver os acontecimentos pelo ponto de vista dela traz um certo frescor à história.
Funciona como resumo? Sim, e não. É possível ter uma base de momentos chave da história, mas tudo é bastante superficial. Quem nunca jogou Kingdom Hearts na vida provavelmente vai continuar boiando, mas quem conhece a série e seu “lore” vai conseguir (mais ou menos) relembrar o fio condutor que liga a intrincada trama dos jogos da série.
Pancadaria musical
Kingdom Hearts: Melody of Memory não é um jogo de ritmo tradicional, mas depois que você entende como ele funciona, vai ver que, na prática, ele se comporta como um Guitar Hero diferenciado. O que rola é que sua party está correndo na tela o tempo todo (automaticamente), e as “notas musicais” são inimigos que vêm na sua direção. Você deve bater neles no timing da música para se dar bem, com índices de acerto que variam de acordo com a sua precisão.
Mecanicamente, a ação se resume a 3 ações principais: ataques simples, magias/ataques especiais e pulo/planada. Ataques podem ser feitos com L1, R1 e X (no PS4), mas, mesmo que se possa usar o mesmo botão para atacar com qualquer personagem, é bom ficar confortável a usar os 3, pois quando os inimigos chegam “alinhados”, precisam ser repelidos usando os 3 botões ao mesmo tempo.
Vou deixar um vídeo de gameplay aqui embaixo para você entender como o jogo funciona. A música é mais lentinha, mas está na dificuldade mais alta, o que significa mais inimigos na tela.
No principal modo de jogo, viajamos em uma Gummi Ship, acessando os mundos em uma ordem coerente com a narrativa. Os personagens Disney/Pixar fazem pontas em seus determinados mundos: quando jogar em Agrabah, o Aladdin entra pra sua party. No Olimpo, quem te acompanha é o Hércules. O time principal é Sora, Pateta e Donald, mas conforme avançamos, desbloqueamos outros trios, como Roxas, Axel e Xion.
Nas batalhas contra os chefes — sim, elas estão presentes aqui — a fórmula muda um pouco: comandos direcionais passam a fazer parte da música, e correspondem às esquivas do seu time. Basicamente, vemos um trecho de gameplay enquanto a música passa, e nossos erros e acertos refletem-se em uma batalha mais ou menos acirrada.
É uma releitura interessante dos jogos de ritmo, que se mostra bastante desafiadora em músicas mais agitadas e níveis mais altos de dificuldade. Quando quer ser realmente desafiador, ele te obriga a planar com Sora, coletando notas musicais flutuantes, enquanto precisa lidar com os inimigos no chão com Donald e Pateta, algo que exige muita atenção. Cada música tem 3 níveis de dificuldade, e a mudança do “Beginner” para o “Proud” pode ser enorme — falta dedo para dar conta de tantas notas/inimigos na tela.
Um jogo com muito conteúdo
Kingdom Hearts: Melody of Memory conta com mais de 140 músicas de toda a saga. Quem conhece a série — ou qualquer jogo da Square Enix — sabe que de trilha sonora eles entendem. Então, sejam músicas originais do jogo, sejam releituras de temas clássicos Disney, o repertório do jogo é simplesmente maravilhoso.
O principal modo de jogo é o World Tour, que é justamente um resumão da saga, e passa por cenários/situações de todos os games da franquia. Além disso há um modo livre chamado Track Selection, onde você simplesmente escolhe uma música e joga. Há ainda jogatina cooperativa, e até mesmo um modo de jogo competitivo online.
Quando o jogo vira uma competição PvP, ele faz algo parecido com Tetris 99: conforme você acumula pontos, enche uma barra de “tricks” para dificultar a vida do outro jogador. Alvos duplicados, invisíveis… os efeitos são aleatórios, mas podem realmente dificultar a vida do oponente.
O fato de ter muitas músicas é bom, mas vale ressaltar que as faixas precisam ser “desbloqueadas” no modo World Tour para serem acessadas nos outros modos de jogo. Não chega a ser exatamente um problema, mas antes de agitar os amigos para jogar com você, ter jogado a “campanha” antes faz diferença. A vantagem é que o liberar as músicas no modo World Tour independe da dificuldade, então você pode jogar tudo no Easy se preferir.
Outro ponto que dá uma “inchada” no jogo é a parte de sintetizar itens. Kingdom Hearts sempre teve oficinas de Moogles, mas aqui os itens simplesmente não são tão importantes. Considerando que cada fase/música tem 3 desafios, e em várias um deles é algo tipo “passe sem usar nenhum item”, os itens tornam-se ainda mais supérfluos.
Audiovisual
Kingdom Hearts: Melody of Memory traz um visual decente para a geração atual, sem ser particularmente impressionante. Como ele “reaproveita” diversas cutscenes de títulos da franquia, o que temos aqui é um jogo que, em termos de visual, está condizente com o que já foi apresentado na franquia ao longo dos anos.
A trilha sonora, como já dito, é maravilhosa. Se nos jogos principais elas correm o risco de passarem despercebidas no calor da ação, aqui elas são as estrelas, e soam mais incríveis do que nunca. Mesmo as faixas “corriqueiras” — como a música tema de Traverse Town, por exemplo — são deliciosas de ouvir.
Infelizmente, a Square Enix segue não localizando nenhum conteúdo relativo à série Kingdom Hearts. O jogo tem áudio e legendas em inglês, então, se quiser entender esta “versão resumida” da história, esteja com o inglês em dia.
Conclusão
Kingdom Hearts: Melody of Memory talvez não funcione como um resumo decente de Kingdom Hearts — mas isso é mais culpa da história confusa da série do que um problema deste jogo em específico. Porém, ele é um ótimo jogo de ritmo, com uma trilha sonora deliciosa e um gameplay que pode ser mais ou menos desafiador, conforme o seu gosto.
Dada a qualidade da OST da franquia, quem é fã vai curtir simplesmente saborear cada música — e há uma jukebox só para curtir, claro. Mas, é bom ver que mecânicas bacanas foram criadas para adequar Kingdom Hearts ao formato “jogo de ritmo”. E o melhor: um jogo de ritmo muito próprio, que carrega a essência de Kingdom Hearts.
Então, quem é fã de Kingdom Hearts — e da música de Kingdom Hearts — pode se jogar sem medo. O jogo é uma viagem musical cheia de nostalgia, que traz “de brinde” dezenas de personagens que marcaram a vida e a infância de muita gente.
Kingdom Hearts: Melody of Memory foi lançado ontem (13 de novembro), com versões para Playstation 4 (versão analisada), Nintendo Switch e Xbox One.