Análise Arkade: Loop Hero é um criativo e diferente rogue-lite retrô
Jogos do subgênero rogue-lite são conhecidos por ter uma diversão cíclica desafiadora com upgrades que fazem, de pouco em pouco, seu personagem dominar cada vez mais os desafios. Loop Hero bebe bastante desse subgênero do roguelike, mas se diferencia principalmente por não ser mais um dungeon crawler batido.
Desenvolvido pela Four Quartes e publicado pela Devolver Digital, Loop Hero traz um rogue-lite diferenciado, com mecânicas que lembram bastante jogos de tabuleiro combinados com um sistema de cartas muito divertido. Com um visual retro bem característico e um enredo que instiga a curiosidade, o jogo é uma boa pedida, principalmente pelo custo-benefício.
Um ciclo atemporal de trevas
Na história de Loop Hero, um Lich poderosíssimo aprisionou o mundo em um ciclo atemporal que mergulhou os seres vivos em uma profunda e caótica prisão. O mundo se tornou trevas e seus habitantes todos isolados e perdidos estão sem memória alguma de como o mundo era antes desse caos e escuridão.
Assim, cabe a você, como o herói que é, começar a juntar as peças e trilhar o caminho para reconstruir esse mundo aos poucos. Por algum motivo nebuloso, você é o único que consegue manter parcialmente suas memórias de tudo que você aprende ao longo das suas explorações. Desse modo, é o único que pode sair do assentamento de humanos e buscar mantimentos e recursos para a sobrevivência.
Com o tempo, a história do jogo vai apresentando algumas viradas e se explicando mais. Mas o enredo é bem conveniente para a jogatina, dando uma explicação interessante e até bem original para o sistema rogue-lite funcionar como tal. Além disso, várias outras mecânicas como o uso de um deck de cards e a construção do mundo repetidas vezes também fica bem justificado na história, que acaba servindo como um bônus muito bem-vindo na experiência de jogar Loop Hero.
Um jogo de tabuleiro com cartas
Explicar como funciona a jogatina de Loop Hero é bastante necessário. Até porque, pelos vídeos e trailers do jogo, é bastante complexo de entender de fato o que está acontecendo ali (quem dirá por imagens). Mas o jogo funciona de forma cíclica, através de um caminho gerado aleatoriamente para que o seu avatar caminhe automaticamente por ele.
Esse caminho randômico representa a jornada de exploração do herói. E é nele que várias criaturas vão aparecendo no decorrer do tempo. Enquanto o avatar do herói caminha pela estrada cíclica, uma barra de tempo vai subindo, representando o dia passando. A cada dia passado, um pouco de pontos de vida pode ser recuperado, bem como novas criaturas podem surgir.
Até aí tudo bem. Começamos o caminho no assentamento de humanos e terminamos um ciclo de exploração quando voltamos para esse assentamento. Mas é aí que entram as cartas e o sistema de deck building, que complementam esse processo automático, injetando vida e novas nuances de jogabilidade ao conceito.
O sistema de cartas e deck building
Com as cartas, que ficam localizadas na parte inferior da tela, podemos complementar esse caminho do jeito que quisermos. Cada carta possui um efeito diferente, e pode ser posicionada no campo em posições específicas. Temos cartas de terreno, como montanhas e pradarias, que dão bônus para o herói. Temos áreas de estrada, como cemitérios, vilas e florestas, que dão determinados recursos e fazem determinadas criaturas aparecerem pelo caminho.
Além desses tipos, temos cartas focadas no aparecimento de monstros, como mansões de vampiros e ninhos de aranhas. Por fim, temos cartas que beneficiam mais o jogador, como torres que aumentam a velocidade, totens que diminuem o aparecimento de inimigos e cofres que podem gerar grandes quantidades de recursos de uma vez.
Você começa uma expedição com um deck pré-montado. Já a sua mão de cartas durante a jogatina é formada derrotando criaturas pelo caminho. As criaturas podem dropar tanto cartas para a sua mão como equipamentos para o herói utilizar. Esses equipamentos são justamente o que complementa a exploração, fazendo os combates uma parte bem estratégica da jogatina.
Combates estratégicos e automáticos
Os combates acontecem sempre que o seu personagem encontra um inimigo durante o percurso na estrada. É possível encontrar de 0 a 4 inimigos nesses combates diretos, e os combates podem se prolongar com o surgimento de outros inimigos no decorrer do combate. Assim como a expedição, o combate também é automático, sendo baseado nos atributos da criatura e do seu herói.
Desse modo, é crucial o manuseio estratégico dos equipamentos do seu personagem durante aquela expedição. Nem sempre um equipamento mais forte pode ser o mais útil para a sua estratégia, caso ele não dê os mesmos bônus de atributo que o seu equipamento atual. Além disso, o que agrega ainda mais peso nessa tomada de decisão é o fato de que uma armadura ou arma desequipada é perdida para sempre.
Mas além dos atributos dos equipamentos, que ditam dano, velocidade de ataque, defesa e até efeitos como recuperação de vida e dano em área, temos também alguns possíveis efeitos de combo que podem nos auxiliar ou prejudicar durante os combates. Esses efeitos são ditados justamente pelas cartas que você coloca em campo. Por isso, o posicionamento estratégico de cada carta que você utiliza pode fazer toda a diferença para a jogatina.
Estratégia, sobrevivência, ganância e morte
Mesmo com um comportamento cíclico e alguns sistemas automáticos, Loop Hero consegue te deixar preso por horas e horas nele. Não é nem de longe um jogo monótono, principalmente por conta das suas mecânicas complexas e regras interligadas de ação. Além disso, a progressão do jogo e sua curva de aprendizado são exemplares, fazendo com que qualquer jogador entenda suas regras de forma bem orgânica.
Porém, o principal desafio do jogo não é apenas ter uma boa estratégia de ação ou a sorte de aparecerem os melhores itens. Na verdade, tudo gira em torno da sua ganância. Isso porque a intenção dessas jornadas nesses caminhos cíclicos é obter recursos para melhorar seu acampamento. Nele, você consegue cada vez mais bonificações como começar a expedição com alguma arma e até a liberação de novas classes com o tempo.
A questão é: você pode retornar ao acampamento a qualquer momento fora de combates. Porém, se você retornar ao acampamento enquanto estiver em cima dele na estrada, poderá retornar com 100% dos recursos que coletou, perdendo apenas seus equipamentos. Caso opte por retornar em qualquer outro lugar da estrada, conseguirá apenas 60% dos recursos coletados. Por fim, caso morra em combate, você retornará apenas com 30% dos seus espólios, um verdadeiro prejuízo.
Mesmo que a escolha pareça óbvia de retornar ao assentamento sempre quando cruzar com ele, o jogo vai te dando cada vez mais bonificações com o passar dos dias e ciclos de estrada. Assim, quanto mais tempo você ficar na estrada sobrevivendo, mais recursos poderá acumular. Então, no fim das contas, sua ganância poderá ditar o sucesso ou fracasso da sua missão, afinal, tudo gira em torno de assumir riscos e arcar com as consequências.
Pegada diferente, experiência excelente
Loop Hero é definitivamente um jogo singular. Seu visual é bem retrô e pode desagradar os mais ávidos por altas resoluções. Sua jogatina parcialmente automática também não é a melhor opção para o grande público. Entretanto, se você quer experimentar algo realmente diferente da maior parte dos jogos rogue-lite que a gente encontra por aí, aqui temos um ótimo exemplar para você.
Com uma jogatina estratégica muito interessante, excelente curva de aprendizagem e desenvolvimento de personagem, opções variadas e criativas de efeitos, equipamentos, cartas, campos, inimigos e uma história envolta em mistério bem cativante (com o plus de estar toda em português brasileiro) temo um jogo muito criativo e envolvente nas mãos. Por fim, o custo benefício é ainda melhor: o jogo lança hoje na Steam, e, com o desconto aplicado, está custando menos de 30 reais!
Loop Hero está sendo lançado oficialmente hoje, 4 de março de 2021, somente para PCs. Uma demo gratuita do jogo está disponível na página da Steam.
