Análise Arkade: New World, um grande exemplo de que os MMOs não morreram

7 de outubro de 2021
Análise Arkade: New World, um grande exemplo de que os MMOs não morreram

Há quase três meses tivemos a oportunidade de experimentar um dos testes alfa de New World, e compartilhamos nossas impressões sobre o game aqui no site. Na época, a principal mensagem foi: “New World tem sim um bom potencial para se tornar um dos grandes MMORPGs da indústria“. Veio seu lançamento e a marca de quase 800 mil jogadores simultâneos na Steam foi alcançada, fazendo dele o jogo mais jogado da plataforma em 2021. Pois é, pode ser que tenhamos acertado na previsão :).

Agora, depois do game lançado, pude experimentá-lo por cerca de 50 horas e aqui estou novamente para falar da minha experiência com New World após seu lançamento comercial. Falaremos então sobre seus erros e acertos, tentando passar mais rápido por temas que foram tocados no texto de primeiras impressões. Principalmente por vários aspectos terem se mantido os mesmos na versão final. Mas também por termos muitas outras coisas para comentar agora. Sem mais delongas, vamos embarcar nessa viagem à Aeternum!

Análise Arkade: New World, um grande exemplo de que os MMOs não morreram

Um mundo cheio de vida, literalmente

Como apresentamos no texto de primeiras impressões, New World nos leva até a ilha batizada de Aeternum. No papel de um náufrago em meio a vários outros que acabam presos na ilha, precisamos nos virar para sobreviver a vários perigos dali. O principal deles é a maldição que assola alguns dos habitantes da ilha e corrompe tudo que ali existe.

A ilha é cheia de vida, uma vez que tudo que ali habita é potencialmente imortal (uma desculpinha interessante que arrumaram para o respawn das criaturas e o fato de podermos renascer várias vezes). Para além dessa saída narrativa, o mundo de New World realmente é recheado de coisas para se apreciar, interagir e conhecer. Mas é importante citar que ele não pega tanto a veia exploratória do jogador como outros games de mundo aberto, como Breath of the Wild, por exemplo.

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A exploração em New World gira muito em torno da coleta de recursos, um dos pilares do game. Desse modo, você não vai atravessar montanhas, pântanos, planícies e florestas em busca de novas aventuras, uma paisagem interessante ou algo que atiçou sua curiosidade. Você vai fazer tudo isso para pegar um minério mais raro, uma planta que você precisa para confeccionar uma nova opção ou alguma outra coisa assim.

Mas o principal fator que fez New World ficar cheio de vida nessa primeira semana do game foi, sem dúvidas, os jogadores. Com números surpreendentes na Steam, o jogo superou os 700 mil jogadores simultâneos, o que é um marco incrível. Porém, isso acarretou em filas enormes para entrar nos servidores, uma vez que cada servidor possui mundos próprios, e esses mundos aguentam um máximo de 2 mil jogadores simultâneos. Felizmente não tive filas maiores com mais de 200 pessoas enquanto joguei. Mas vi relatos de esperas de mais de 1500 pessoas, o que é bem complicado.

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Cada uma destas fogueiras foi feita por um jogador…

Um museu de grandes novidades

Um aspecto que achei muito interessante em New World, desde o seu teste alfa, passando pelos betas até chegar na versão de lançamento, é como ele mescla mecânicas de MMORPGs clássico e novos. O pessoal da Amazon Games fez o dever de casa ao mesclar sistemas e aspectos presentes em gêneros de jogos contemporâneos, como os combates dos Souls-like com progressões e interações mais clássicas, como as de World of Warcraft e até de Tibia Online.

Como estamos falando de um MMORPG sandbox, não é surpresa compará-lo em certos pontos com Albion Online ou até Black Desert. Mas a lista de aparentes inspirações para New World se acumula aos montes, chegando ao já citado Tibia, ao clássico Ultima Online e ao Runescape. Isso porque, mesmo que seja um game claramente da nova geração, ele retoma aspectos clássicos que são muito bem-vindos aos jogos da atualidade.

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Talvez os principais aspectos de New World que me façam enxergar isso são aqueles que incentivam a existência de uma comunidade ativa e interativa no game. Para início de conversa, o comércio do jogo gira totalmente em torno dos próprios jogadores. Não existem NPCs vendendo ou comprando itens. Tudo gira em torno do mercado global e isso é o máximo, pois já nos primeiros dias de jogatina o mercado começou a funcionar, com itens inflacionando e se tornando muito baratos rapidamente.

Além disso, todo o sistema de PVP, que gira em torno de guildas agrupadas em três grandes facções, faz o mundo estar em constante movimentação. Isso porque as facções precisam batalhar para dominar cada um dos territórios da ilha, o que pode favorecer o comércio local, facilitar o farming de itens e tornar a vida dos jogadores — tanto PVP quanto PVE — mais fácil (ou mais difícil) dependendo da sua facção.

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O sistema de territórios insere um fator quase geopolítico na jogatina de New World

Disputas PVP como um grande diferencial

E daí entramos em uma das maiores e mais gratas surpresas que tive jogando o lançamento de New World: seu sistema PVP. Até então, não havia tido a oportunidade de experimentar de verdade o player versus player do jogo. Em parte por falta de oportunidade, mas principalmente por me interessar mais em ver isso de fato na prática, com os servidores em pleno funcionamento.

Em New World temos o tradicional duelo 1×1 que permite você cair na porrada com qualquer um que aceite um duelo com você, seja da mesma facção, da mesma guilda ou não. Além disso, ele também abarca um sistema de PVP ativado por facções muito semelhante ao que vemos entre Aliança e Horda em World of Warcraft. Com jogadores podendo somente ativar ou desativar seu “modo PVP” dentro de cidades e podendo cair na porrada com qualquer um das outras facções fora desses locais (caso o PVP esteja ativado).

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Mas o mais interessante são as guerras entre facções, que rolam para dominar um determinado território. Essas guerras envolvem múltiplas guildas, que devem completar determinadas missões com o PVP ativado e ainda uma incursão contra o forte inimigo (ou a defesa de seu próprio forte, caso sua facção esteja sendo invadida). Essas guerras podem envolver até 50 jogadores de cada lado, e geram um engajamento muito grande por quem escolhe participar destes eventos.

O mais legal disso tudo é que todo esse conteúdo é administrado totalmente pelos próprios jogadores, deixando tudo fluir livremente assim como era nos MMORPGs de antigamente, onde os mundos respiravam “sozinhos”. Além disso, sendo todo esse conteúdo opcional, não afeta diretamente nada que os amantes de PVE fazem durante sua jogatina, podendo inclusive servir de “evento a ser apreciado” por aqueles que não buscam esse tipo de experiência.

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Os erros e acertos das Dungeons

E por falar nos amantes de PVE, pude também experimentar finalmente as dungeons de New World. Bastante desafiadoras e construídas de modo inteligente, as masmorras não surpreendem tanto em criatividade, mas expressam uma qualidade de desafio que os amantes de PVE podem desfrutar com bastante satisfação.

Vale citar também a facilidade de se conversar por chat de voz dentro do jogo com pessoas desconhecidas. Basta pressionar a tecla “V” para falar rapidamente com seus companheiros de dungeon, seja para alinhar estratégias ou estabelecer jogadas rápidas. Isso facilita muito a progressão da dungeon, além de incentivar ainda mais a interação social.

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Os bosses das dungeons se mostraram bem desafiadores!

Entretanto, nem tudo são flores no conteúdo PVE de New World. Em alguns momentos, deixar quase que tudo nas mãos dos jogadores não é uma boa escolha. Talvez o melhor exemplo disso seja a própria entrada das masmorras, que não possui nenhum sistema de busca de parties para as dungeons, como ocorre em outros MMOs como The Elder Scrolls Online e o já citado WoW.

Com isso, encontrar um grupo para o conteúdo PVE pode ser tornar uma tarefa árdua, exaustiva e até frustrante, uma vez que você depende da boa vontade de desconhecidos para te aceitarem em uma party. Usar esse tipo de estratégia para fomentar uma interação entre os players tende a ser uma furada: com o tempo, quem tem amigos acaba se organizando para fazer a dungeon com seus conhecidos, e quem é mais “lobo solitário” — ou apenas um jogador mais casual — , vai acabar desistindo de experimentar as dungeons após ficar mais de meia hora sem conseguir sequer entrar em uma.

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Todos procurando party, poucos conseguindo uma…

PVE exaustivo que precisa de melhorias

Para além das dungeons, New World é repleto de quests, NPCs e tarefas próprias a serem feitas por todo o mapa do jogo. As facções possuem missões próprias para jogadores PVE, a história principal do jogo libera diversas funções para quem a acompanha, existem centenas de missões secundárias que dão dinheiro, itens e muitas outras coisas, além de atividades como a coleta de recursos, confecção de itens e aquisição de casas.

Dificilmente você não vai ter nada para fazer em New World. Entretanto, é preciso dizer que toda essa variedade de coisas não parece tão variada assim após a primeira dezena de horas de jogatina. Talvez o que torna tudo mais exaustivo seja a distância que deve ser percorrida para completar a maioria das missões. Muitas dessa quests são estruturadas naquele velho (e nem tão bom esquema) tipo “viaje 1 km para matar 3 lobos, retorne para avisar ao NPC contratante que cumpriu a missão, depois vá para outro lugar, conversar com outro NPC”.

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Mesmo com um combate divertido, a repetição de inimigos acaba incomodando

Isso é feito com muita frequência em New World, o que acaba desanimando um pouco a progressão de níveis, que torna-se muito burocrática e exaustiva. Há momentos que você não quer ficar parando a cada árvore para coletar recursos (até porque seu inventário possui limite de peso). Aí você resolve se focar em completar missões… e isso gera uma andança frustrante — problema que poderia ser evitado ou diminuído com a inclusão de um sistema de montarias, por exemplo.

Além disso, tanto os monstros quanto as missões em New World não são nada variadas. Mesmo que a aparência das criaturas mude bastante de um mapa para o outro, seu “formato” acaba sendo o mesmo. Animais carnívoros se comportam quase sempre do mesmo modo (como lobos, pumas, linces e tigres), temos também vários tipos de crocodilo, vários tipos de fantasmas e, principalmente, uma centena de variedades de mortos vivos. E é isso, quase nunca você vê uma criatura que realmente traz um ar de novidade ao game.

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Muito chão a ser andado em Aeternum

Um MMORPG recheado de possibilidades

Minha experiência com New World nem de longe foi negativa, no quadro geral. Muito pelo contrário, o mundo do jogo é imersivo e recheado de conteúdo, seus sistemas que favorecem os jogadores a criarem suas próprias regras e interações neste mundo tornam a aura do jogo semelhante ao que tínhamos nos MMO mais clássicos e seus visuais são de tirar o fôlego.

Porém não posso dizer também que New World é um jogo perfeito. Pois isso ele também está longe de ser. Felizmente, estamos falando de um RPG online massivo, ou seja, um conteúdo que vai ser expandido e atualizado ao longo do tempo. Há uma infinidade de possibilidades do que pode estar por vir. O primeiro grande sucesso da Amazon Games é uma conquista e tanto, sem dúvidas. Entretanto, muito mais difícil do que chegar ao topo, é se manter nele.

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Daí se faz necessário comentar a importância que os próximos meses terão para a estabilidade do New World como um dos grandes MMORPGs do mercado. Seu conteúdo PVP está excelente, bem como seu sistema de combate e árvore de crafting. A interação entre sistemas PVP e PVE também é digna de elogios, uma vez que faz algo que raramente vejo em um MMO: incentivar a existência e trabalho em equipe de jogadores tanto do PVP quanto do PVE.

Entretanto, ainda existem pontos fracos a serem melhorados no jogo. A repetitividade do conteúdo PVE frustra um pouco, além do ritmo de progressão ser exaustivo principalmente por como nos locomovemos pelo mapa: de forma vagarosa e limitada. Mas tudo isso pode ser melhorado em futuras (e espero, breves) atualizações. Pois temos em mãos uma prova viva de que os MMORPGs estão longe de morrer como muitos acreditavam.

New World: o primeiro grande sucesso da Amazon Games

Independente das qualidades e defeitos de New World que foram citados aqui, é inquestionável que o jogo já é um grande sucesso. Depois de muitos anos de anúncios, adiamentos e reconfigurações, a Amazon Games enfim conseguiu alavancar um game de sucesso. Porém, como citei mais cedo no texto, o desafio agora é fazer um bom trabalho para mantê-lo no topo.

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A tarefa que New World possui pela frente não é fácil, mas também não é impossível: a prioridade é manter equilibrados os aspectos que deram certo e melhorar aqueles que estão aquém das expectativas. E, claro, arrumar espaço para injetar novos conteúdos esporadicamente, a fim de manter aa comunidade engajada.

Para um jogo que se propõe ser um mundo cheio de vida e repleto de conteúdo PVP e PVE, o maior desafio dos desenvolvedores será de fato encontrar um equilíbrio de qualidade entre esses dois tipos de conteúdo. Vamos acompanhar os próximos meses, torcendo para que o Amazon Games faça sua “lição de casa” direitinho.

New World foi lançamento oficialmente em 28 de setembro de 2021. O jogo está disponível somente para PC pela Steam. Para esta análise, rodamos o game em um notebook gamer com processador i5-9300, 24GB de memória, placa de vídeo GTX 1650 de 4GB, SSD de 450gb e uma conexão de fibra ótica de 360 Mb.

Gilson Peres

Gilson Peres é Psicólogo, Mestre em Comunicação e aqui no Arkade fala principalmente sobre Realidade Virtual, jogos de PC e novas tecnologias desde 2019.

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