Análise Arkade – Read Only Memories: Neurodiver, um point and click “raiz”

5 de junho de 2024
Análise Arkade - Read Only Memories: Neurodiver, um point and click "raiz"

No já distante ano de 2017, eu analisei aqui para o site um point and click bastante old school chamado 2064: Read Only Memories. Recentemente, o jogo recebeu uma inesperada sequência, intitulada Read Only Memories: Neurodiver. O novo jogo se passa no mesmo universo cyberpunk de seu antecessor, mas traz uma narrativa completamente nova… e é sobre ele que vamos falar hoje!

O Neurodiver e sua história enigmática

Read Only Memories: Neurodiver nos coloca na pele de ES88, uma “Neurodiver”, ou seja, uma agente que possui a habilidade de entrar nas mentes das pessoas e acessar suas memórias. A trama principal do jogo gira em torno da busca por um criminoso conhecido como Golden Butterfly, que está causando estragos ao manipular memórias alheias. Nossa protagonista, ES88, é contratada pela organização MINERVA para localizar e neutralizar essa ameaça.

Análise Arkade - Read Only Memories: Neurodiver, um point and click "raiz"

Claro que isso é só o plot principal de uma história que envolve diversos coadjuvantes e subtramas. É uma narrativa complexa e rica, repleta de personagens únicos e interessantes, que aborda temas bastante “cabeçudos” como identidade, ética da manipulação mental e as consequências do avanço tecnológico na vida das pessoas.

Tudo isso se apresenta na forma de diálogos, que com bastante frequência culminam em escolhas que impactam significativamente o desenrolar dos eventos e o destino dos personagens. A profundidade emocional e a complexidade dos personagens e seus dilemas é tocante, e sem dúvida um dos pontos mais altos de Neurodiver.

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Para quem quer saber de tudo, explorar tudo, fica a dica: as escolhas feitas ao longo da campanha podem levar a múltiplos finais. Isso incentiva múltiplas partidas, mas também pode frustrar os jogadores que buscam “o melhor final possível” em uma jogada. São diversas variáveis a serem consideradas.

Jogabilidade

Read Only Memories: Neurodiver é um adventure point and click bastante tradicional (leia-se diferente de tudo o que veio pós-Telltale, mais na linha da LucasArts de antigamente), que mistura diálogos e exploração com resolução de puzzles — tudo isso em uma Neo San Francisco que, apesar da estética pixelada, é bastante densa e enigmática.

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A exploração em si não é realmente livre: tal qual nos adventures de antigamente, devemos clicar em passagens, portas, pontos de interesse (ou mesmo nas bordas da tela), para alcançar novas áreas e podermos explorar melhor cada ambiente.

Mecanicamente, tudo é bastante familiar para quem jogou 2064 — ou algum outro point and click das antigas. Porém, a habilidade única de ES88, que é entrar nas memórias das pessoas graças ao Neurodiver é o diferencial que muda as coisas de forma interessante e inovadora.

Resolvendo puzzles com o Neurodiver

A mecânica de “neurodiving” permite que nossa protagonista explore as memórias de outros personagens, que são representados como desafios temáticos dentro da mente do elenco de apoio. Cada lembrança possui um punhado de pistas, quebra-cabeças e segredos que devemos encontrar e desvendar para progredir.

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É bem comum, por exemplo, as memórias terem “inconsistências”, representadas por elementos um tanto bugados, que se destacam por parecerem fora de contexto. Cada memória aborda isso de um jeito: as vezes vamos precisar reconstruir eventos, em outras, identificar inconsistências ou mesmo manipular pontos de interesse dentro da mente das pessoas.

Tudo isso compreende os puzzles, que são elementos centrais da experiência de ROM: Neurodiver. No geral, tais puzzles são bem elaborados, indo de simples desafios de lógica até enigmas complexos, que exigem pensamento crítico e atenção aos detalhes. Sempre que resolvemos um puzzle, é como se destravássemos uma nova camada daquela memória, o que aprofunda a trama e nos dá informações cruciais para seguir em frente.

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É interessante que a habilidade de “neurodiving” não é própria da ES88: ela precisa utilizar uma criatura bizarra — o Neurodiver em si, que parece um tipo de molusco alienígena– para estabelecer a conexão entre as mentes. É um detalhe charmoso, porém esquisito, mas que diz muito sobre a própria premissa um tanto estranha do jogo.

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Esse é o Neurodiver

Por ser um jogo que aborda temas bastante delicados (ou mesmo obscuros) no que diz respeito à tecnologia e suas utilizações junto a psique humana, espere por reviravoltas surpreendentes e revelações emocionantes. Pode não parecer em uma primeira olhada, mas Neurodiver é um jogo que tem muito a dizer.

Audiovisual

Visualmente, Read Only Memories: Neurodiver é muito bem resolvido. O jogo utiliza pixel art detalhada e muito estilosa que combina perfeitamente com a vibe cyberpunk retro-futurista de sua história. As cores são vibrantes, e em cada cantinho há detalhes que dão vida à cidade.

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O design dos personagens também é caprichado: cada um tem seu próprio estilo que reflete sua personalidade e sua história. Os cenários são igualmente impressionantes, indo de ruas e becos a interiores high-tech. Tudo isso cria uma atmosfera muito imersiva, que realmente nos coloca naquele ambiente e cria um mundo que é ao mesmo tempo futurista e nostálgico.

No departamento sonoro temos mais acertos, com vozes que concedem ainda mais personalidade ao variado elenco de personagens. O primeiro jogo se apoiava muito em seu elenco estrelado de dublagem. Não me parece que temos vozes tão famosas aqui, mas é fato que todos entregam ótimas performances.

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A trilha sonora traz uma mistura de sintetizadores eletrônicos e melodias atmosféricas que capturam bem a essência daquele mundo. Infelizmente, faltou uma localização em PT-BR para deixar a experiência mais acessível para o público brasileiro, algo fundamental em um jogo com tantos diálogos e decisões.

Conclusão

Read Only Memories: Neurodiver é um ótima pedida para quem busca um point and click mais “raiz”, que prenda a atenção do jogador especialmente pela qualidade de sua narrativa e o carisma de seus personagens, sem esquecer, é claro, do exercício para o cérebro que chega na forma dos puzzles e manipulações de memórias.

É importante ressaltar que você não precisa necessariamente ter jogado 2064: Read Only Memories para curtir o novo game… mas quem o fez pode esperar por algumas surpresas, referências e easter eggs que aprofundam o lore e o universo da franquia.

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Turing era o protagonista do primeiro jogo

Pecando apenas pela falta de localização — que faz muita falta em jogos narrativos densos –, Read Only Memories: Neurodiver se destaca pelo clima nostálgico e o roteiro maduro, que ousa se aprofundar em temas delicados e faz isso com muita competência. Um jogo de nicho, sem dúvida, mas os fãs deste nicho têm, uma vez mais, muito o que desfrutar em Neo San Francisco.

Read Only Memories: Neurodiver está disponível para PC, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch (versão analisada).

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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