Arkade Séries: E não é que o Narcos sem Escobar ficou legal?
Quando Narcos entrou em sua terceira temporada, muito se especulou a respeito do futuro da série da Netflix, já que em seu segundo ano, o “protagonista” Pablo Escobar acaba sendo morto, como a história nos conta e como o próprio marketing fez questão de contar, como “spoiler”. E com isso, a pergunta que nos acompanhou por um ano inteiro: como será que Narcos ficaria em sua terceira temporada sem seu “personagem principal”?
Porém, a Netflix sempre fez questão de esclarecer que Narcos não é uma série sobre Pablo Escobar, e sim sobre o narcotráfico na América do Sul, e consequentemente, sua influência na América do Norte, durante os anos 90, sendo Escobar apenas uma de suas figuras. E, passado a história do icônico traficante colombiano, a série agora leva seu foco para o “depois”, centralizando sua ótica em outro local muito importante para esta história: o Cartel de Cali.
Podemos destacar duas coisas interessantes aqui, para começar o assunto: em primeiro lugar, a ausência de Escobar fez com que a Netflix puxasse o freio do hype sobre Narcos, não executando nenhuma loucura publicitária, como a famosa capa feita em parceria com o jornal Estado de São Paulo, e, com isso, percebemos uma pressão menor na produção, já que há ainda mais liberdade em contar a história a seu modo, e mais personagens a serem explorados, já que não é mais necessário explicar a mitologia acerca de um homem só.
E, em segundo, podemos afirmar que a ausência de Escobar fez muito bem para a série. Isso não quer dizer que as duas primeiras temporadas são melhores ou piores, e sim, que o foco em todo um cartel, comandado por quatro pessoas, cada uma em sua função, em locais diferentes e com pessoas diferentes em volta, fazem com que tenhamos mais enredo, mais história e mais possibilidades. Isso sem mencionar o retorno do agente Peña (Pedro Pascal) que ganha mais destaque, já que seu parceiro, Steve Murphy (Boyd Holbrook) não está presente desta vez. Para suprir a “cota” dos Estados Unidos e “seu dever” na série, Chris Feistl (Michael Stahl-David) e Daniel Van Ness (Matt Whelan) são os novos agentes que contam com o nobre sentido do dever e auxiliam Peña.
E algumas mudanças se fizeram necessárias. Sem Escobar, a série pode continuar a trabalhar melhor o seu foco de mostrar mais sobre as questões de narcotráfico, do que servir como uma biografia deste ou daquele traficante. E a turma de Cali encaixa perfeitamente neste contexto, pois seu modus operandi permite uma análise mais didática com os vídeos reais, que continuam a aparecer, explicando pontos-chave da história. E sem perder tempo com explicações, já que fomos apresentados aos irmãos Rodriguez, Pacho Herrera e Chepe Santacruz anteriormente, indo direto para a continuação da história.
Com isso, Narcos também não precisa mais ficar explicando que “os Estados Unidos precisam resolver o problema das drogas na Colômbia”, pois isso está muito mais explícito, deixando os temas políticos um pouco mais de lado em nome da ação. É claro que a veia “Tropa de Elite”, com críticas políticas e sociais continuam, mas sem aquela “necessidade” observada anteriormente. Se os dois primeiros anos havia forte contexto político, desta vez temos muito mais ação. Em quase todos os episódios, temos ótimas cenas de tiroteios, muita brutalidade e uma veia “série policial de antigamente” mais forte.
Como várias corridas contra o tempo, várias questões a serem resolvidas pelos personagens, independente do “lado” (e em Narcos, existem muitos lados) que estão, e muitos “quases”, que amplia a tensão e nos leva aos deliciosos tempos de filmes policiais dos anos 80. Tudo isso com a competente fotografia de sempre, e uma ambientação fantástica da década de 90, nos fazendo acreditar realmente que estamos naqueles anos. Aliás, “vocês já estão usando o Windows 95?”
E não há como não destacar e elogiar o excelente trabalho de Matias Varela interpretando Jorge Salcedo, talvez o “cara” da vez no terceiro ano de Narcos. O homem da segurança do cartel é figura chave no desenrolar da trama e seus dramas pessoais foram bem explorados, embora com vários clichês em momentos decisivos. Salcedo é mais uma pessoa envolvida nesta história que, assim como o agente Peña, os quatro chefões do Cartel de Cali, e tantos outros personagens, acabam oferecendo uma história sem um protagonista definido, mas com vários personagens fortes e bem preparados por um roteiro convincente.
Maria Salazar (Andrea Londo) também poderia contar com mais espaço, com sua caracterização extremamente bem feita, parecendo muito com as personagens de novelas mexicanas desta época, porém, infelizmente para ela, o enredo não ajudou muito, a tratando apenas como “mais uma” mulher que se oferece para os ricões do crime. Já Franklin Jurado (Miguel Ángel Silvestre), e sua esposa, Christina (Kerry Bishé) mostram o lado administrativo do cartel, ampliando o leque da série, e mostrando um pouco mais sobre a organização de Cali, que é bem diferente de seu antigo rival.
Por isso, podemos afirmar sem medo: Narcos desceu do patamar de série dona de “super-hype” da Netflix, mas não perdeu qualidade em nenhum momento. Pelo contrário, se estávamos apreensivos pelos rumos da série após o fim da história de Escobar, este terceiro ano nos deixa com ótimas expectativas pelos próximos passos da história, que já conta com lugar certo para acontecer, e talvez com um novo e forte protagonista. Se quer saber de quem se trata, assista ao quarto ano de Narcos em 2018.
Narcos está com suas três temporadas disponíveis na Netflix.