Astronauta é uma importante investida da Mauricio de Sousa Produções nas animações adultas
Se tem uma coisa que não podemos falar de Mauricio de Sousa, é que ele tem medo de investir em coisas novas. Ele poderia estar até hoje, no alto de seus 88 anos, no conforto do sucesso de sua icônica Turma da Mônica, mas sua história mostra que, entre erros e acertos, ele sempre gostou de criar, e de atingir pessoas diferentes, com projetos diferentes. As animações dos anos 80, o Parque da Mônica, os games feitos com a Tec Toy e até iniciativas mais experimentais, como os famosos gibis 3D, fazem parte disso.
Mas foi em meados dos anos 2000, com a Turma da Mônica Jovem, que a mente criativa de Mauricio de Sousa começou a expandir, até literalmente o espaço sideral. Lembro de uma conversa que tive com a Panini, em 2018, onde ouvi que, ao tornar a turma adolescente, a MSP começou uma guinada criativa sem precedentes, que evoluiu até hoje. Tivemos, depois do sucesso do projeto “teen”, o Chico Bento Moço, a Mônica Toy, filmes, séries, games, spin-offs… e a Graphic MSP.
A Graphic MSP, que surgiu para ampliar os conceitos dos personagens de Mauricio de Sousa, com uma liberdade visual e textual jamais vista antes, trazia histórias mais profundas, sejam elas de comédia ou de drama, com os já clássicos Laços e Lições, o forte Jeremias ou o divertido Cascão sendo bons exemplos dessa jornada. Mas tudo começou, na verdade, no espaço, com o Astronauta. Lançado em 2012, Astronauta: Magnetar trouxe uma nova perspectiva para o clássico personagem, graças ao trabalho de Danilo Beyruth, que aprofundou o que o gibi não conseguiria aprofundar, em relação ao complexo e interessante personagem.
Dito isso, nada mais justo que fosse o Astronauta o primeiro personagem a ter uma série animada na MSP focada no público adulto. Anunciada em 2018, ainda com o nome “Astronauta: Propulsão”, foram seis anos de espera, com seis episódios feitos para contar sua história. Houve uma pré-estreia no dia 15 de outubro, onde tive a oportunidade de assistir a todos os seis episódios, para compartilhar com você, obviamente sem spoilers, o que esperar desta nova investida da MSP.
Como já disse, a base para esta animação vem da Graphic MSP de Beyruth, com o protagonista sendo chamado de Pereira, já que Astronauta, no contexto do seriado, foi apenas um “apelido que pegou”. O primeiro episódio, em clima de mistério, daquele estilo que apresenta muito mas responde quase nada, mostra que o personagem não está mais na BRASA, a agência espacial brasileira deste universo. Mas questões envolvendo um mistério na Lua (e não, não é a Rita Repulsa), faz com que, assim como nos quadrinhos, o personagem retorne para o espaço, uma vez que sua conexão com o que é de fora do nosso planeta sempre foi muito forte. Ritinha que o diga.
Inclusive, vale o elogio para a personagem, dublada por Mel Lisboa e que adiciona positivamente na história. Proativa, a personagem completa o nosso Astronauta com uma intrigante relação, já explorada há anos nas histórias clássicas, mas que aqui mostra mais da profunda conexão entre os dois, mesmo com um espaço de distância. A personagem não é apenas aquela “que fica na Terra esperando”, tendo uma boa participação na trama, e sendo muito bem aproveitada. Marcos Pigossi, por sua vez, consegue trazer muito do personagem para a série: como suas angústias, seu jeitão introvertido e reflexivo de ser, e tanto quando ele se sente um “Pereira” ou um “Astronauta”, ele entrega bem a sua voz ao personagem.
No estilo “confundir para explicar”, a série agrada em todos os seus seis episódios, já que ela consegue, mesmo com várias coisas acontecendo em torno do protagonista e da BRASA, ir afunilando de forma inteligente, como um bom roteiro da Turma da Mônica. Inclusive, não podemos nos esquecer que, apesar da série ter mais liberdade para tocar em assuntos que jamais veríamos nos gibis, ainda trata-se de uma história que saiu de dentro da Mauricio de Sousa Produções, por isso, espere também o essencial de tantas histórias de aventura, da turminha e de outros personagens, que você já viu nestes últimos anos.
Vale destaque também os Easter Eggs nos episódios, alguns óbvios e outros que farão o fã mais fiel olhar tudo com mais afinco. Junto de tudo isso, temos uma trama bem interessante, envolvendo o General Alves, chefe de Pereira e o controverso Cabral (dublado pelo nosso Hyoga de Cisne, Francisco Freitas). Obviamente, coisas que não veríamos nas histórias do gibi estão presentes aqui. Nada muito extraordinário, no sentido de chocar a audiência, mas estão lá, para você apreciar. Não citarei nada aqui, para que você vá descobrindo por si mesmo estes momentos.
Destaque também para a animação. Baseada no Astronauta da Graphic MSP, o design lembra várias obras, em especial os desenhos espaciais antigos, mas em particular, me lembrou um jogo o qual gosto muito, Dead Synchronicity, um game indie espanhol que, curiosamente, também lida com mistérios entre o tempo e o espaço, embora não seja espacial.
Temos cenários muito comuns aos brasileiros, como ruas, carros e lojas típicas do nosso país, com toda a modernidade de uma agência espacial como a BRASA, mais os mistérios lunares. A série, obviamente, aposta muito nos tons amarelados, referência ao personagem, e geralmente, é sombria e misteriosa, até investindo em momentos bem agonizantes, mas este tom do personagem, além de representar uma identificação rápida com o personagem, também servindo como um “ar de esperança” em meio ao caos da história.
Astronauta é uma grata surpresa para todo fã da Turma da Mônica, seus muitos personagens e suas histórias variadas. Apesar de tentar ser misterioso mais do que deveria, e tentar entregar suspense a toda hora, a animação vale muito a pena, ainda mais quando consideramos que esta é a primeira investida em animação para um público adulto, diferente de tudo o que foi feito anteriormente. A MSP tem o know-how da animação, do storyboard e da construção de personagens, mas ainda precisa achar o tom certo em relação a este tipo de animação.
A série até tenta “ir mais longe”, mas sempre retorna ao seu conforto de “bem contra o mal”. Isso acontece, na minha opinião, por ser o primeiro bolo deste “sabor” que foi feito, e que exige avaliação, mais tentativas e uma melhor compreensão do que pode ser entregue, sem deixar de lado os valores e identidade de uma turma de personagens que já estão consolidados há mais de 60 anos. Entretanto, esta primeira investida mostra que, se a MSP quiser seguir apostando neste tipo de produção, estão indo no melhor caminho possível.
O Astronauta já está disponível, com o seu primeiro episódio, no Max. Os próximos episódios serão lançados às sextas, no Max e na HBO.
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