Cine Arkade: O mockbuster e o sucesso duvidoso da Asylum
Na Cine Arkade desta semana, vamos falar sobre o conceito de um “mockbuster” e dos filmes do estúdio The Asylum, que entram nesta bizarra categoria!
De meados dos anos 80 até o começo dos anos 2000, uma boa parte do mercado cinematográfico era baseado em locadoras, que nos disponibilizavam os “últimos lançamentos” em fitas VHS (e posteriormente em DVDs). Em tempos onde não havia internet, torrents ou Netflix, as locadoras reinavam absolutas.
Hoje em dia um lançamento aparece na internet em questão de dias e se for paciente, é possível conseguir o filme em alta qualidade pouco tempo depois de sua aparição no cinema, e não demora para chegar aos serviços de vídeo por streaming. Entre várias outras coisas, a internet matou (ou está matando) as locadoras.
O MOCKBUSTER
Agora se coloque na seguinte situação: stamos de volta nos anos 90, sem internet, Netflix ou smartphones. Você chegou na locadora e está procurando um filme para assistir no final de semana. Fica meia hora passando pelos imensos corredores repletos de filmes com aquele aroma pungente de mofo e poeira. Tem aquela vontade probida de entrar no setor de filmes adultos naquele cantinho intransponível, atrás daquela cortininha marota, mas acaba não indo por falta de coragem.
Durante a segunda passada por um dos corredores, encontra uma cópia de Mac: O Extraterrestre. Você olha para a caixa e lembra de um filme em que tinha um garoto e um E.T. bastante similar ao que está na capa de Mac, lê a sinopse e vê que é bem parecido com aquele filme que você ouviu falar na televisão esses dias atrás.
Todo feliz, paga o preço para alugar o filme, chega em casa e coloca a fita em seu videocassete. Até notar que você foi enganado por confundir Mac: O Extraterrestre com o filme original, E.T. – O Extraterrestre.
Isso, meu amigo, é um mockbuster. Uma forma de conseguir dinheiro produzindo um filme “quase” idêntico ao blockbuster original, colocando um lugar, um enredo e protagonistas extremamente similares e lançá-lo diretamente nas locadoras aproveitando o timing e o sucesso do filme original.
A produtora consegue o lucro rapidamente pelo filme ser de baixo orçamento e os donos das locadoras não se importam em disponibilizar um filme enganoso, já que eles estariam ganhando dinheiro da locação de qualquer forma e, ei,a culpa não é deles se o cliente não presta atenção no filme que aluga, certo?
A prática se iniciou nos anos 70 lá nos Estados Unidos e foi responsável por uma série de “filmes falsos” com baixos orçamentos, elencos canastrões e muitas similaridades aos blockbusters do momento. Além do já citado Mac: O Extraterrestre, Star Wars IV gerou filmes como Starcrash e Battle Beyond Stars; Gremlims se tornou Hobgoblins; e o primeiro Indiana Jones (Os Caçadores da Arca Perdida) gerou clones como King Solomon’s Mines e Tales of the Gold Monkey.
Mais recentemente até um estúdio brasileiro de animação chamado Vídeo Brinquedo entrou na dança: a produtora é famosa por produzir cópias low budget de filmes famosos da Disney, Pixar e Dreamworks, incluindo a franquia Os Carrinhos (cópia descarada de Carros), Ratatoing (imitação de Ratatouille) e Abelhinhas (retirado diretamente de Bee Movie).
Com o advento da internet e o declínio das locadoras, os mockbusters meio que foram na leva para a obscuridade. Hoje em dia a internet é extremamente acessível, com qualquer um conseguindo reconhecer um filme original de sua falsa contrapartida.
Porém, nadando contra a maré eis que temos The Asylum, um estúdio que continua em pé até hoje produzindo filmes deste estilo e ainda tendo um sucesso financeiro por trás.
A INSANIDADE ENCONTRADA NA THE ASYLUM
The Asylum é um estúdio americano que foi fundado no final dos anos 90 e tinha seu trabalho focado em filmes de terror tipo B que iam diretamente para as locadoras, sem aparecer no cinema. Até aí tudo bem. Em 2005 porém, a The Asylum decidiu fazer a sua própria versão de Guerra dos Mundos, intitulada H.G. Wells’ War of the Worlds, que surpreendentemente fez a gigantesca cadeia de locadoras dos EUA Blockbuster encomendar 100 mil cópias de sua adaptação falsa. Este sucesso inesperado foi um divisor de águas para o estúdio, que largou o terror trash para e dedicar somente ao lucrativo mercado de mockbusters.
Hoje em dia , a The Asylum traz alguns dos filmes mais descarados que já vimos por aí, incluindo Transmorphers (Transformers), San Andreas Quake (San Andreas), Road Wars (Mad Max: Fury Road) e Mercenaries ( The Expendables), isso para não mencionar os demais filmes cujos pôsteres ilustram esta matéria.
Eles também são os responsáveis por um dos maiores fenômenos trash dos últimos anos, Sharknado e todas suas continuações e igualmente insanos spin-offs, incluindo Shaknado 2: The Second One, Sharknado 3: Oh Hell No!, Mega Shark vs. Colossus e Mega Shark vs. Mecha Shark.
É justamente nesses filmes que The Asylum conseguiu encontrar o seu público. Décadas atrás este tipo de filme era feito para enganar o consumidor, mas agora eles são feitos para a pessoa que está ciente do que está assistindo e não vê nenhum problema nisso, entrando mais uma vez no conceito do filme que é tão ruim, mas tão ruim, que acaba se tornando bom. Conceito que expliquei no passado com a coluna sobre o filme The Room.
Mas se duvida de mim, simplesmente veja algumas das melhores capas que encontrei durante a minha pesquisa:
Assim, a The Asylum continua produzindo seus filmes de baixo orçamento e extremamente similares ao material original, enquanto um determinado público se mantém satisfeito ao assistir esses longa metragens com toda sua canastrice e tosqueira evidentes.
Nessa onda, se considerarmos a conturbada história do gênero mockbuster, essa acaba sendo a melhor forma da empresa continuar no mercado e produzir algo “sem prejudicar ninguém”. É como contar uma mentira que ambos sabem que é uma mentira, mas não se importam.
E você, o que acha dessa história toda? Já foi enganado por um filme desses — que nem eu quando peguei o filme Abelinhas achando que era o Bee Movie? Você assistiria um filme da Asylum ciente que ele é um mockbuster? É um fã da épica série Sharknado? Deixe a sua resposta nos comentários!