Cine Arkade Review – CHAPPiE
O diretor de Distrito 9 e Elysium retorna mais uma vez ao universo de ficção científica com Chappie. Estrelando Dev Patel, Hugh Jackman, Sigourney Weaver e a banda Die Antwoord.
Neill Blomkamp é um diretor que gosta de inserir criticas aos problemas de nossa sociedade em seus filmes de ficção científica, a “segregação alienigena” entre os extraterrestres e os humanos a ponto de criar um próprio lugar separado para eles em Distrito 9 tem um relação direta ao que vemos hoje em dia nas diferentes classes sociais. E o mesmo ocorre no segundo filme de Blomkamp, Elysium, levando a critica social as alturas em um futuro distópico onde as pessoas ricas decidem sair literalmente do planeta para deixar o restante da população mundial definhar lentamente.
Eis que temos Chappie, uma história que mostra traços similares dos últimos dois filmes mas com uma trama bem mais diferente por causa da perspectiva apresentada por um robô que tem uma consciência humana. Porém, a verdadeira critica se situa nesta consciência de criança, onde ela vai aprendendo o que é certo e errado de acordo a experiência de vida e o convívio na sociedade.
Isto é o que Blomkamp queria fazer com este filme, mas o resultado um pouco mais diferente que isto.
Chappie se inicia com um conflito entre dois engenheiros na maior empresa bélica de Johannesburgo – Tetravaal -, nela temos o protagonista Deon (Dev Patel), que conseguiu criar robôs para a força policial e ajudou a diminuir a alta criminalidade da cidade, aumentando o desespero dos criminosos de Johannesburgo. Do outro lado temos Vincent (Hugh Jackman), um engenheiro responsável pelo MOOSE, um robô que utiliza a capacidade neural de uma pessoa e é controlado remotamente por ela (e que por algum motivo é extremamente similar ao gigantesco robô ED-209 de Robocop), e a rixa entre os dois engenheiros se inicia pelo descaso que a empresa e a força policial tem com o MOOSE de Vincent.
A história se move quando Deon consegue atingir o sonho de desenvolver uma inteligência senciente, capaz de julgar arte e decide fazer o teste em um dos robôs. E a partir daí se inicia um dos maiores problemas situados em Chappie: a introdução dos criminosos, liderados por Ninja e Yo-Landi, e também conhecidos na vida real por serem da banda Die Antwoord.
Logo no começo vemos como eles não são bons atores, o que é pior ainda quando realizamos que a intenção da dupla e interpretar eles mesmos, fazendo um trabalho medíocre. A trama destes criminosos é focada em ter que reunir uma grande quantidade de dinheiro em uma semana para um poderoso gangster, e eles encontram a oportunidade de utilizar Chappie, um robô extremamente poderoso e com uma mente facilmente moldada, para fazer estes roubos.
A intenção de criar esta dualidade é para mostrar como a nossa sociedade entra em um conflito constante baseado em mentiras ao ponto de vista conformado a uma certa classe social, em um lado temos Deon querendo que Chappie aprenda a pintar e utilizar sua imensa capacidade para a filosofia e o bem da humanidade, e por outro lado temos os criminosos aproveitando de Chappie para o próprio ganho pessoal. Assim temos o que era para ser uma trama concisa com dois lados se digladiando enquanto Chappie se mantém no meio da situação.
E nessa parte Blomkamp consegue acertar, mas o que ele erra é a tentativa de criar motivos para que o público simpatize com os criminosos, os mesmos criminosos que Blomkamp gasta mais de uma hora do filme mostrando o quão vil eles são com Chappie. O que leva para o segundo problema: A dupla toma mais da metade do filme, deixando pouco tempo na tela para as performances de verdade, como a de Sigourney Weaver que deve aparecer em uns dez minutos do filme inteiro ou de Dev Patel e Hugh Jackman, que formam um conflito muito mais interessante que a tentativa de fazer uma critica social por Blomkamp.
Enquanto a mensagem de Blomkamp acabou se desviando no decorrer do filme, o singelo personagem Chappie é o ponto mais alto do longa-metragem. Interpretado por Sharlto Copley – em voz e em captura de movimento -, Chappie consegue ser cativante e funciona como um bastião de esperança graças a sua personalidade e trejeitos tão bem apresentados por Copley, que se torna a melhor interpretação do ator até hoje.
Os efeitos especiais, assim como em filmes passados, são de tirar fôlego. Nenhum detalhe foi esquecido e a movimentação de cada personagem é tão bem feita que mostra toda a atenção que a equipe teve em transformar o inanimado para algo tão vívido quanto os próprios atores reais.
Assim Chappie nos coloca em uma jornada interessante e até consegue levantar certos questionamentos sobre a nossa sociedade, mas infelizmente este questionamento se perde o caminho. Em contraponto, a única interação que vale a pena no filme inteiro é a de Deon e Chappie, com uma amizade singela e tocante que serve como motivo para suportar a medíocre performance de Ninja e Yo-Landi. Por fim, o filme ainda consegue trazer algo de interessante a mesa, mesmo com tantos problemas, se tornando o pior filme de Blomkamp mas ainda competente até o final como um filme do gênero.
Chappie estreou em todo o Brasil no dia 16 de abril.