Cine Arkade Review – O Jogo da Imitação
Conferimos mais um filme biográfico, desta vez contando a história de Alan Turing e o seu trabalho excepcional durante a Segunda Guerra Mundial. Confira mais um bom filme analisado em nossa Cine Arkade!
Seguindo a tendência de filmes biográficos temos O Jogo da Imitação, filme dirigido pelo norueguês Morten Tyldum e protagonizado por Benedict Cumberbatch (Sherlock, trilogia O Hobbit) como Alan Turing, o famoso matemático responsável por levar os Aliados a triunfarem sobre os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Se você não reconheceu este nome, tudo bem, porque o trabalho e sucesso de Alan Turing é desconhecido do grande público com pouca gente dando valor em sua época. Mas o sumiço do trabalho de Turing nos livros tem um motivo maior por trás.
O Jogo da Imitação busca focar em sua missão durante a guerra e contar o segredo que Alan escondeu por tanto tempo. O filme é baseado no livro biográfico intitulado Alan Turing: The Enigma e conta a história desta máquina chamada Enigma, um dispositivo nazista feito para criptografar mensagens e informações vitais que são enviadas para todo o exército alemão, o governo britânico coloca o comandante Allistair Denniston (Charles Dance) para recrutar matemáticos, professores e pessoas que são especializadas em quebrar e decifrar códigos criptografados.
Alan Turing entra na história para resolver e decifrar a complicada máquina, especialmente pela maneira especial que o Enigma funciona, com a máquina reiniciando e criando um novo sistema de códigos todos os dias, assim Turing e sua equipe tem somente um dia para decifrar o código antes que ele reinicie e o trabalho se torne descartável.
Mas ainda existe um caminho que Turing precisa percorrer para ganhar a simpatia de sua equipe: seu personagem é rude, insensível e muito fácil de ser odiado pelas suas ações, e Benedict Cumberbatch faz um trabalho tão bem feito que é impossível de você não amar a sua performance.
Alan Turing entra em um arquétipo que Cumberbatch está acostumado em atuar, que é o personagem com uma inteligência avançada mas com uma péssima conduta e personalidade, assim como vemos o protagonista da série britânica Sherlock e por extensão, graças a inspiração dos livros originais, Gregory House, o adorável arrogante médico da série americana House.
Estes personagens possuem todos os traços sociais negativos mas é impossível de não tirar os olhos da tela quando eles estão lá. E o filme faz questão de levantar este fator, uma boa parte do filme demonstra as habilidades pobres de socializar com outras pessoas que Turing têm, evoluindo-o para um personagem agradável após um árduo trabalho.
Outra atriz que merece o reconhecimento é Keira Knightley interpretando Joan Clarke, personagem que aparece um pouco depois no filme para ajudar Turing a decifrar o código. A sua personagem reforça o tema que estava subentendido no filme: Joan sofreu muitas restrições e quase não participou da missão por causa da desaprovação dos pais por ela ser uma mulher fazendo “um trabalho de homem”, onde ela teria que viver em um ambiente que em sua maioria é masculino, algo inaceitável naquela época mesmo com ela sendo uma pessoa tão bem qualificada para o trabalho quanto Alan Turing.
O tema é reforçado por causa de sua representação ao passado de Turing, retornando a 1927 quando o nosso protagonista era um estranho e introvertido jovem que apanhava na escola por estes mesmos motivos. As cenas de flashback são jogadas pelo filme inteiro para desenvolver o personagem e aprofundar no segredo escondido por Turing: O seu homossexualismo.
Não se preocupe, isto não é um spoiler, O Jogo da Imitação levanta este questionamento logo no começo e é o que transforma o filme em um thriller cheio de suspense para um drama profundo que aborda temas cheios de tabus, como a discriminação dos homossexuais e a desvalorização da mulher naquela época. Para se ter uma ideia, naqueles tempos uma pessoa que era vista com outra do mesmo sexo estava cometendo crime de “obscenidade”, que dava prisão e podia até levar o “criminoso” até a castração química com a intenção de faze-la ser hétero novamente.
O Jogo da Imitação tem toda esta dualidade em seus personagens, deixando o filme denso e intrincado enquanto nos deixa preso pelo suspense em torno da batalha de decifrar o código. Não pense que este é somente um filme dramático, este é um dos filmes de guerra mais cheios de tensão e adrenalina mesmo não tendo uma única bala saindo de um rifle. O trabalho todo é feito em segredo e o que é mostrado na superfície se alia muito bem ao segundo assunto desenvolvido pelo cineasta.
O filme também conta com a direção fantástica de Morten Tyldum e trilha sonora de Alexandre Desplat, dois elementos que o elevam ainda mais dando o tom e ambiente correto que o filme tanto precisa.
O Jogo da Imitação é um filme bem atuado por todos os seus personagens, principais e coadjuvantes, e ainda se complementa com uma trilha sonora poderosa e uma direção esplêndida. Porém, no que ele realmente se supera é o trabalho contínuo de um drama e de um suspense que começam separados, mas rapidamente é unificado para contar uma história que é igualmente emocionante e comovente.
O Jogo da Imitação estreia em todo o Brasil no dia 29 de Janeiro.
