Editorial: Afinal, os consoles portáteis não morreram
Quando a Nintendo anunciou o fim do 3DS, houve clima de fim de uma era no ar. Mídia e comunidade diziam, constantemente, que o fim do portátil da Nintendo marcaria o final de uma história que, iniciada com um produto da Mattel, expandida com o Game & Watch e potencializada com o Game Boy, trouxe uma nova forma de se jogar videogame.
Com suas telas pequenas, jogos que passaram de ícones emprestados de calculadora até grandes produções, e suas baterias, que foram de pilhas até as atuais baterias recarregáveis, a conversa era a mesma: os smartphones engoliram os portáteis, e para sempre. E, sabendo como a mídia de videogames geralmente é emocionada demais ao tratar de alguns assuntos, nós sabemos que a verdade não é bem assim.
O Steam Deck, anunciado nesta semana, fez muita gente querer comprar um portátil de novo. Tudo bem que, quando chegar o preço (que no Brasil será estratosférico como sempre), o tal “hype” vai diminuir e a grande maioria que se empolgou (com razão, pois a proposta é boa), não vai comprar o produto. Mas o fato aqui é que um portátil novamente chamou a atenção.
Além disso temos o Switch, nos lembrando todo santo dia que é legal jogar games como The Witcher 3, Snowrunner, Crash Bandicoot 4 e tantos outros de forma portátil, em qualquer lugar. Sim, com menos qualidade, mas te garanto que quem prefere o Switch, não tem a mesma preferência por qualidade visual do que um adepto dos gráficos no ultra.
Inclusive, como teria sido o mundo dos games, caso a Sony, que já nos tempos de PSP permitia a conexão na TV, primeiro com cabo componente e depois com um Dock, tivesse insistido nessa de “console híbrido” junto com a Nintendo?
Não podemos esquecer que os jogos de smartphone, como Free Fire, Asphalt, e CoD Mobile também são portáteis. Não rodam em um dispositivo dedicado para tal, mas os smartphones não deixam de ser computadores portáteis que rodam tais games, e muitos outros. Incluindo emuladores e até o Xbox, via xCloud.
E se você entrar em um site de vendas chinês qualquer, também vai perceber que a oferta de consoles portáteis nunca esteve tão forte. E vai desde pequenos clones de NES que custam menos de R$ 50, até propostas mais completas, como o GPD Win, o famoso “PC portátil” que roda Windows, mas que se parece com um 3DS. A Tectoy chegou a comercializar por um tempo, no Brasil, versões portáteis de Mega Drive e Master System.
Ainda temos ainda a cultura retrô, que tem no mundo portátil uma comunidade muito forte. Como é mais fácil enviar os pequenos consoles para entrega em qualquer canto do mundo, Game Boy, Game Gear, SEGA Nomad, Wonderswan, NGage e tantos outros pequenos notáveis viajam por navios, trens e aviões, para diversos cantos do mundo, direto para a coleção de entusiastas.
As próprias empresas de games perceberam isso. A SEGA relançou seu Game Gear, enquanto a Nintendo reativou a sua linha Game & Watch. Tá bom ou quer mais?
Então vamos falar mais. Não podemos esquecer, também, de projetos interessantes demais, como o Analogue Pocket, que permite que se jogue os clássicos de Game Boy em melhor definição, e também na TV, ou o Playdate, o portátil “a manivela” da Panic que, adivinhe, também roda Doom.
Como você conferiu, a oferta de portáteis, mais do que nunca, segue ativa, e democrática. Todos os bolsos, gostos, públicos e estilos contam com uma opção. Eu mesmo adoro o mundo portátil. Tenho um Switch (que jogo mais como portátil do que na TV), um 3DS, um Master System portátil, e um BittBoy.
Perdi recentemente um Game Gear com defeito, mas já busco outro, enquanto tento achar, por um bom preço, até um NGage, o infame celular da Nokia que também era um videogame portátil, que tive dois aparelhos nos anos 2000 e quero jogar Sonic nele de novo. Além de um Neo Geo Pocket, que por enquanto vou sendo bem suprido pela coletânea que a SNK teve o carinho de relançar no Switch.
Mas acho que já falei tudo o que precisava, quando o assunto é videogame portátil. Se eu esqueci de algo, por favor, use nossa seção de comentários e colabore trazendo mais opções legais de portáteis disponíveis.
Eu entendo, perfeitamente, que o fim do 3DS encerrou um ciclo. Afinal, desde o Game Boy, a Nintendo sempre trabalhou com um console de mesa e um portátil. E o Switch, embora seja um 2 em 1, é encarado por muitos como console de mesa, mesmo com a versão Lite, 100% portátil. Mas para estes, “não é a mesma coisa”. Não concordo, mas entendo. Até pelo simples motivo que essa iniciativa de “console híbrido” acontece na Nintendo desde os 16-bits, com o Super Game Boy. Ou seja, não é nenhuma novidade.
Além disso, a Sony, que havia começado muito bem com o PSP, que tive três e me arrependo de ter vendido todos eles, trouxe um PS Vita muito bacana (que tive a oportunidade de jogar antes do lançamento, na BGS 2011), mas sabe-se lá o motivo, largou mão do aparelho, e também encerrou sua divisão de portáteis. Estas ausências são, de fato, sentidas. Afinal, eram as duas maiores do ramo, que cada uma com seu motivo, mudaram as estratégias.
Mas, mais do que nunca, a oferta de dispositivos portáteis está variada e farta. São muitas as opções, que atendem desde um pai que quer oferecer algo mais simples e sem as complexidades de um celular para seu filho se divertir, passando por saudosistas que tem na emulação sua diversão, até os fãs de iniciativas especiais, dispostos a pagar os US$ 399 mínimos em um Steam Deck. Tem pra todos os gostos e bolsos.
Por isso, não é certo dizer que o mercado de portáteis “morreu”. Na verdade, assim como toda indústria de tecnologia, evoluiu. Se os consoles trocaram os pontos dos anos 90 pelos troféus e conquistas das gerações atuais, e evoluíram os grandes games de aventuras de reflexos para games de exploração, com os portáteis, a evolução também ocorreu. É bem diferente do que vivemos há 20 ou 30 anos atrás? Com certeza, mas agora, sem a necessidade de andar com quilos de pilhas junto, nunca foi tão bom gostar de jogos portáteis.