Em 1969, um grupo de Power Rangers salvou o mundo em uma violenta missão na Lua
Em 1993, Zordon percebeu que Rita Repulsa havia sido libertada por astronautas curiosos na Lua, e decidiu recrutar cinco jovens “com garra”, que lutaram com os poderes ofertados pelo mago, a fim de impedirem a conquista do nosso planeta pela vilã. Os cinco originais, e mesmo os jovens convocados posteriormente, recebiam tecnologia e conselhos que os evoluíam enquanto heróis.
Também é possível notar que Zordon sempre observava talentos e ideais em comum com os valores de um Ranger, para escolher os mais aptos a usarem as moedas do poder. Entretanto, o mago teve de aprender uma dura lição, antes de recrutar os Power Rangers que conhecemos. Pois, em 1969, um outro grupo de Rangers foi convocado e, mesmo alcançando seus objetivos, pagaram um preço muito alto.
Quem conta esta história é a BOOM!, editora que publica os quadrinhos dos Power Rangers, e que expande de forma muito interessante o universo do seriado. Se a série de TV era local apenas para aventuras leves e milk-shakes, as HQs ampliam as possibilidades, trazendo situações como Bulk e Skull recebendo poderes de Rangers temporariamente, além de explicar melhor o que acontece com Jason, Trini e Zack quando eles deixam o grupo.
A história está em Mighty Morphin: Power Rangers #20, onde conhecemos uma época mais sombria e complicada, tanto no mundo, quanto pelos próprios Rangers. Esta história tem como grande vilão o Psycho Green, o Ranger de Poder Negro, que tem uma sede por violência e sangue muito superior ao que vimos nos episódios “coloridos” do show dos anos 90.
Psycho Green consegue, através de uma jóia em sua armadura, sentir as emoções de seus adversários, para explorar elas a seu favor, podendo também canalizar energia através do artefato. O vilão também consegue se transformar, sozinho, em uma grande criatura, ainda mais insana e sedenta por sangue.
Ele havia chegado à Lua cem anos antes, enviado pelo Espectro Negro para libertar Rita Repulsa e seus generais, que estavam presos (e ficariam por lá até os anos 90), mas Zordon tinha protegido o local com um sistema de defesa que derrubou a nave do vilão. Como forma de proteção, a energia da nave manteve os sinais vitais de Psycho Green ativos, deixando-o em hibernação, até a chegada dos primeiros astronautas no satélite, em 1969.
A visita humana no local foi o suficiente para despertar o vilão, que acordou disposto a terminar a sua missão que deveria ter sido cumprida cem anos atrás. E, com a ameaça iminente, Zordon não viu outra opção, senão recrutar um grupo de “valorosos jovens” para combater o mal, se tornando os Power Rangers.
Mas, diferente do time escolhido nos anos 90, os escolhidos não eram jovens em idade estudantil que tomavam milkshakes e treinavam artes marciais entre uma aula e outra. O time era composto por jovens com variadas visões e opiniões, além de não terem nenhum preparo. Para mostrar o quanto que Zordon não tinha a experiência que conhecemos no seriado de TV, ele ainda os enviou para a Lua sem nenhum preparo, e de qualquer maneira. Era uma tentativa desesperada de evitar o caos maior, caso Psycho Green conseguisse cumprir seu objetivo.
Ao menos, Zordon já tinha uma habilidade especial em ver valor em seus escolhidos, como veremos a seguir.
Jamie Gilmore tinha 24 anos e era uma cantora inglesa. Ela foi escolhida para ser a Ranger Preto, e foi para um combate sem nenhuma experiência em lutas, sendo literalmente uma simples compositora, que desejava a paz como qualquer jovem envolvida com arte daquela época. Isso fez dela uma presa muito fácil, sendo morta pelo vilão pouco tempo após chegarem na Lua, após ser isolada de seus companheiros pelo vilão.
Daniel O’ Halloran foi o Ranger Rosa, e era o típico estudante dos anos 60 que protestava contra a guerra do Vietnã. Como o grupo tem membros que se envolveram com o conflito militar, houve rusgas pelas diferenças entre Daniel e outros membros. Mas ainda assim, ele foi cumprir sua missão, mesmo de forma irresponsável. Ele tentou avançar com tudo para cima do vilão, que contra-atacou destruindo sua viseira, o suficiente para tirar-lhe o ar e deixá-lo morrer no espaço.
Restariam apenas três Rangers no combate. Terona Washington foi o Ranger Amarelo, e era um veterano da guerra do Vietnã. Com apenas 21 anos, o garoto sabe combater, lutando contra o inimigo como se estivesse em combate militar. Se submetia às ordens de sua líder e só agia quando tivesse a oportunidade. Por causa disso, contribuiu para o sucesso da missão, mas se tornou outra pessoa ao ver, novamente, pessoas morrendo em missão. Mesmo que fossem pessoas com visão política diferente da sua.
O outro Ranger era o Azul, Igor Nikolai. Agente da KGB, que teria de lutar ao lado de pessoas consideradas inimigas na Terra, em dias de Guerra Fria. Mas mesmo com suas diferenças políticas, o soviético agiu dentro do esperado de alguém que vive para cumprir missões. Pois, após o vilão retornar da sua derrota, assumindo sua forma gigantesca e insana, o agente se sacrificou, se deixando engolir pelo monstro e atirando nele de dentro.
E, por fim, temos a líder, a Ranger Vermelho. Grace Sterling era, na época, secretária na NASA, que sonhava em ser astronauta. Ela não era a melhor pessoa para o combate, mas se mostrou ser ótima na liderança. Ainda por cima, a missão, apesar de tensa e desesperadora, ainda a deixou feliz, de certa forma. Pois ela havia conseguido pisar na Lua como sonhava. Apesar da inexperiência do grupo, ela conseguiu, em suas limitações, liderar o time para o sucesso da missão.
Porém o fato de voltar para a Terra apenas com mais um integrante vivo, além dela própria, foi um peso o qual ela carrega até os dias de hoje. Passado tudo isso e com a chegada dos novos Rangers, ela se tornou uma bilionária e filantropa através da empresa de tecnologia Promethea. A Promethea, como qualquer empresa do Vale do Silício, atua recrutando as melhores mentes para suas pesquisas, que envolve energias alternativas entre outras questões. Até o Billy, o Ranger Azul que conhecemos, chegou a estagiar por lá, mas teve de abrir mão ao assumir o seu chamado de herói.
Os Power Rangers de 1969 mostram um pouco do que conheceríamos anos depois. Apesar da inexperiência de Zordon, que trouxe para ele uma grande derrota, mesmo cumprindo o seu objetivo, já era possível ver no mago a habilidade para recrutar jovens valorosos. Tão valorosos, que abriram mão de suas visões políticas e opiniões, para o bem comum. Também foi possível ver que os próprios Rangers já contavam com valores que seriam replicados pelos seus próximos escolhidos. A liderança de Grace, por exemplo, é uma referência aos escolhidos para usar a cor vermelha do grupo.
E este evento, apesar de traumático, serviu para ganhar tempo suficiente para que o lado do bem pudesse se preparar de forma mais adequada, até chegarmos ao ano de 1993, quando a aventura que conhecemos tem início, e o novo grupo de heróis, que também começa inexperiente mas evolui ao passar dos episódios, consegue concluir suas missões com muito mais êxito e segurança.