Grand Funk Railroad, uma das bandas favoritas de Homer Simpson
As letras arretadas de Mark Farner? O baixo profundo de Mel Schacher? O ritmo competente de Don Brewer? Se você conhece a união poderosa destas três lendas juntas, parabéns. Pois você é um fã da Grand Funk Railroad, uma das bandas mais influentes da história do rock. Com uma combinação arrebatadora de riffs potentes, vocais vigorosos e uma presença de palco eletrizante, a banda deixou uma marca profunda no cenário musical, escrevendo o livro que inúmeras bandas iriam estudar posteriormente.
O Homer Simpson entende isso muito bem. Concebido como um “pai de família” do final dos anos 80 início dos anos 90, Homer foi, em sua concepção original, um jovem dos anos 70, que curtia várias bandas desta época, como a Grand Funk. No episódio Homer, o Rei do Festival, da sétima temporada e exibido originalmente em 12/05/1996, o patriarca Simpson vive um dilema entre o que ele gostar ser “ultrapassado”, enquanto a preferência daqueles dias eram bandas como o Sonic Youth ou o Smashing Pumpkins, que inclusive fazem uma ponta no episódio.
Homer, ao ter que levar seus filhos e outras crianças para escola, num esquema temporário de caronas compartilhadas, ligou Shinin’ On da Grand Funk, música que ele gosta bastante, mas as crianças não. Elas pediram pra ele trocar, mas ele não só não mudou de estação como “deu uma aula da banda”, como disse que eles poderiam “saber mais na biblioteca escolar”.
A real é que o Homer, apesar de ter seus vários defeitos, expressos claramente nos episódios, ao menos tem bom gosto para o rock. Ele adorava a Grand Funk Railroad, que nasceu na cidade industrial de Flint, Michigan, em 1964. Mark Farner (vocais/guitarra), Don Brewer (bateria/vocais) e Mel Schacher (baixo) uniram forças para criar uma das bandas mais emblemáticas da era.
Após alguns desafios e separações, a formação final da banda ocorreu em 1969, composta pelo seu trio mais famoso, formando a Grand Funk Railroad que conhecemos.
Impulsionados pelo empresário Terry Knight, o grupo rapidamente se destacou, enfrentando críticas ferozes da imprensa, ao mesmo tempo em conquistava multidões com sua energia contagiante. A ascensão meteórica incluiu uma turnê com o Led Zeppelin, com a famosa história do empresário do Led ter desligado a energia da banda, então ainda não tão conhecida, que abria shows para a turma de Jimmy Page.
Embed from Getty ImagesVale lembrar que os EUA viviam em plena era de Guerra do Vietnã, com marcas na sociedade mais profundas até do que pela Segunda Guerra Mundial, dado a natureza do conflito e as várias questões vividas, debatidas e combatidas dos anos 60 e 70. As muitas desilusões poderiam ser revertidas em “paz e amor”, ou na fúria da Grand Funk, caminho escolhido por muitos jovens da época.
A Grand Funk Railroad vinha da classe trabalhadora de Michigan, e isso fazia com que eles conseguissem se comunicar não com a imprensa da época, mas sim com os mesmos jovens que viviam os mesmos anseios e as mesmas incertezas e, às vezes, a mesma necessidade de algo pesado para descarregar suas energias com o que viam nos jornais, nas ruas e na TV.
Mark, Don e Mel eram resilientes, simples e robustos e crus. Muito crus. Enquanto artistas em geral buscam isolamento e complexidade em suas músicas, a Grand Funk trazia uma “música operária”, mas nem por isso abria mão da qualidade. Esses faz-tudo lançaram dois álbuns em cada um de seus quatro primeiros anos, pavimentando o caminho para nomes futuros, como o Kiss.
O trio, antes do Rush ou outro trios famosos, já trazia versatilidade na música, com Don sendo um raro vocalista que toca bateria ao mesmo tempo. Tal versatilidade garantia vozes diferentes para melodias diferentes. Podiam ser melódicos com Mark, ou furiosos com Don.
A Grand Funk lançou dois álbuns em 1969 e iniciou sua marcha implacável em direção ao estrelato. Lançado apenas algumas semanas após Altamont (aquele festival dos Stones com uma enorme confusão envolvendo a morte de um jovem causada pelos Hell Angels), seu segundo álbum, Grand Funk Railroad, seguiu a jornada furiosa do trio.
Seus melhores trabalhos incluem “We’re an American Band”, além de covers de clássicos como “The Loco-Motion” ou “Some Kind of Wonderful”. A Grand Funk Railroad também foi pioneira no conceito de arena rock, preenchendo estádios com multidões ávidas por sua energia contagiante, continuando algo que os Beatles já haviam começado antes. Seu álbum ao vivo, “Caught in the Act” (1975), capturou a essência crua de suas performances e solidificou sua reputação como uma das melhores bandas ao vivo da época.
Embed from Getty ImagesMas, infelizmente, dois anos após Homer demonstrar seu interesse, a Grand Funk que conhecemos não existiria mais. A banda teve idas, vindas e a adição de Craig Frost, nos teclados, ainda nos anos 70. Mas o iminente fim viria pouco tempo depois.
Entre idas, vindas e desentendimentos, Mark Farner deixou a banda, para valer, em 1998, e segue se apresentando sozinho, com a sua agora American Band, que inclusive virá ao Brasil neste ano. Já Don e Mel seguem com a Grand Funk, que comemoram em 2024 os 50 anos do sucesso de “The Loco-Motion” em uma turnê especial.
Mas, pelo menos uma coisa ficou bem clara: Homer Simpson tem um ótimo gosto musical. Não só pela GFR, mas por várias outras vezes em que foi pego ouvindo música, o que inclui até o “curso de rock” que fez com Tom Petty, Mick Jagger e tantos outros.