Melhores do Ano Arkade 2022: Soccer Story
Obviamente que em uma lista de melhores de 2022, ano de Copa do Mundo do Catar, não poderia faltar um belo jogo de futebol, certo? E se eFootball, (que permanece se recuperando do desastre de 2021), e FIFA 23, (que mesmo tendo as maiores licenças e melhorando vários de seus aspectos técnicos, não são exatamente exemplos de inovação e criatividade), tivemos ótimas surpresas ao longo destes últimos doze meses, como o inventivo e viciante Mario Strikers: Battle League e, principalmente, o surpreendente Soccer Story.
Pautado como um RPG com a temática de futebol, o jogo nos apresenta uma narrativa cativante que se difere muito do espetáculo midiático que se tornou o esporte profissional e que tanto se busca emular em jogos mainstream, e o resultado é uma pequena-grande história sobre comunidade e paixão. O destaque, portanto, não está em virtuosismos técnicos de emulação precisa da física ou na retratação fiel de grandes personalidades, mas sim no espírito do futebol-moleque, do futebol de várzea, dos campinhos de terra batida onde muitos de nós brincamos, sejamos nós crianças de todas as idades.
Na prática, o jogo nos lembra muito de clássicas aventuras da era dos 16 bits tanto no visual como no formato de exploração e resolução de conflitos. Basicamente temos um modelo onde é necessário vasculhar o mapa, aprender novas habilidades, descobrir segredos, conversar com figuras centrais da trama e, enfim, aplicar esse aprendizado em grande batalhas contra chefes, que aqui são traduzidas, claro, em torneios de futebol contra times locais. Se as partidas em si não são lá o que há de mais complexo e não foge de mecânicas simplórias, o caminho até lá brilha pela criatividade e pelo inusitado.
Em nossa jornada, teremos que enfrentar os desafios de uma praia movimentada, campinhos abandonados, tigres marombeiros, sociedades secretas de ninjas e, principalmente, as ameaças de uma grande corporação que não só controla a prática do esporte como usa de todas as artimanhas possíveis para que ninguém mais possa bater uma bolinha. Tudo de uma forma leve e cheia de ludicidade que, ao não se levar a sério em momento algum em termos de realismo, consegue dialogar conosco sobre temas mais importantes do que o próprio game faz parecer.
Eu não poderia deixar de destacar aqui também o ótimo trabalho de construção de textos e diálogos, sem os quais esse jogo poderia facilmente cair nos clichês mais dispensáveis e genéricos do gênero, e principalmente a excepcional localização para o nosso português brasileiro, um verdadeiro exemplo de como adaptar uma produção gringa para o nosso país. A soma de todos estes aspectos certamente não coloca o game dentre os mais falados e famosos do ano, mas não há dúvidas de que podem resultar em uma experiência ímpar até para quem se importa pouco com os Messis, Neymares e Mbappés da vida.