Primeiras Impressões: Pokémon Legends: Arceus é tudo que a franquia precisava
Um dos jogos mais aguardados desde o seu anúncio inicial, Pokémon Legends: Arceus finalmente chegou! Com uma proposta bastante inovadora para a franquia e vários paralelos com outros grandes jogos da atualidade, o novo spin-off da franquia dos monstrinhos de bolso tem tudo pra ser um dos marcos de 2022!
Com uma jogabilidade inovadora, reformulações de várias mecânicas tradicionais da franquia, imersão muito maior do que tudo que havia em Pokémon até então e mapas grandiosos para serem explorados, o jogo chama atenção pelo seu ritmo viciante e dinamicidade ímpar.
Não é exagero dizer que este é um dos jogos mais originais de Pokémon em mais de uma década! E bom, esse texto vai resumir nossas primeiras impressões a respeito dele, enquanto nossa análise completa ainda está em produção!
“Aquele(a) que caiu do céu”
Pokémon Legends: Arceus começa de uma forma bem inusitada, com seu personagem recém criado sendo chamado misteriosamente por ninguém menos que o próprio Arceus, o deus dos Pokémon. Você é uma espécie de viajante do tempo que acaba caindo na antiga terra de Hisui, que nos tempos atuais é conhecida como o continente de Sinnoh.
Após a misteriosa introdução, acordamos já na Terra de 200 anos atrás, onde somos conhecidos inicialmente como “aquele que caiu do céu”. Aqui temos uma introdução ao misterioso continente que está apenas começando a ser desbravado por humanos, num tempo onde Pokémon e pessoas não vivem de forma tão harmoniosa como estamos acostumados a ver na franquia.
Com o passar do tempo, começamos a interagir cada vez mais com diversos personagens que giram em torno da Vila de Jubilife (que em Diamond/Pearl se tornará a Cidade Jubilife). Sempre ajudando moradores e exploradores a cumprir diversos objetivo enquanto investigamos um estranho fenômeno que assola algumas criaturas e ambientes.
Todo esse enredo e ambientação por si só já servem como uma baita de uma oxigenação para a franquia, que há muito não vê uma introdução tão diferente da fórmula básica. Mesmo com alguns padrões sendo mantidos, como a escolha do Pokémon inicial e a enxurrada de tutoriais desnecessários e lentos, chega um momento que a história ganha fôlego e o mundo se abre para a sua exploração.
O território selvagem de Hisui
E aqui temos um dos pontos mais positivos de Pokémon Legends: Arceus, sua exploração. Mas antes de falarmos propriamente dessa mecânica, é importante frisar que não, Pokémon Legends: Arceus não é um RPG de mundo aberto. Assim como já dissemos antes do lançamento do jogo, o que temos aqui é uma coletânea de mapas estonteantemente grandes, mas que não são diretamente interligados entre si, precisando de telas de carregamento entre eles.
É importante ressaltar isso não por ser um ponto necessariamente negativo do jogo (não é), mas sim para que você, caro leitor, alinhe suas expectativas na hora de jogar. O que temos em Pokémon Legends: Arceus é provavelmente o maior mapa que um game da franquia já teve, mas ele está mais próximo do esquema de biomas da franquia Monster Hunter do que da Hyrule gigante e sem barreiras que conhecemos em Breath of the Wild.
Dito isso, a exploração não deixa quase nada a desejar, ao menos nessas primeiras 10 horas de jogatina que pudemos experimentar até agora. Andar pelos diversos biomas de Hisui é um show de imersão, seja pela liberdade de exploração que cada mapa proporciona, seja pelo grande sortimento de monstrinhos muito bem posicionados em cada ambiente.
Pegando um pouco do que vimos ano passado em New Pokémon Snap, temos também algumas criaturas que aparecem no mapa só em determinados horários do dia ou da noite. Podemos nos esconder na grama alta, nos afogamos se ficarmos muito tempo na água, temos muitos itens para coletar e, claro, temos uma enxurrada de Pokémon para batalhar e capturar. O mundo semi-aberto de Hisui é sem dúvidas um lugar cheio de coisas para fazer, e é muito legal vermos os bichinhos vivendo e interagindo em um mundo mais selvagem.
Conceitos completamente atualizados
Do que se trata um jogo básico de Pokémon? Normalmente escolhemos um inicial, capturamos e treinamos monstrinhos, montamos um time do nosso jeito, tentamos completar a Pokédex e enfrentamos os diversos inimigos e adversários espalhados pelo mapa, normalmente mesclando alguma missão como “coletar 8 insígnias” com algo mais grandioso do tipo “salvar o mundo”.
Salvo raras exceções, os jogos da linha principal da série nunca escapam dessa fórmula. Pokémon Legends: Arceus, mesmo sendo um spin-off, segue bastante esse modelo também. Entretanto, ele reinventa completamente tudo que já estamos acostumados (e, convenhamos, um pouco saturados). As batalhas são por turnos, mas acontecem de modo bem mais imersivo, com você mantendo o controle sob seu personagem e sem telas de transição entre o mundo do jogo e as batalhas.
Os itens não são comprados prontos, mas sim craftados a partir de matérias primas coletadas ou adquiridas com NPCs. No lugar de ginásios e insígnias, temos Pokémon Alfa e o fenômeno do frenesi, que faz com que os Pokémon exclusivos de Hisui se tornem uma espécie de boss para o treinador e seus Pokémon.
As próprias batalhas receberam reformulações interessantíssimas que há muito não era feitas na franquia! Como a inserção das mecânicas de Style, que fazem o Pokémon gastar mais PP para atacar mais rápido, perdendo poder de ataque ou então de forma mais poderosa, perdendo velocidade. Tudo em Pokémon Legends: Arceus lembra bastante os jogos principais da franquia, mas de um jeito completamente novo e divertido.
Um novo motivo para pegar todos!
E por falar em novos modos de jogar, Pokémon Legends: Arceus reformula completamente o modo do jogador completar sua Pokédex. Afinal, o game se passa 200 anos no passado, num momento onde a tecnologia não estava avançada como nos dias atuais da franquia. Como exploradores do vilarejo, temos em mãos o primeiro protótipo de uma poké-agenda.
Esse protótipo é um livro de anotações, no qual precisamos completar algumas tarefas com cada tipo de Pokémon para, aí sim, registrá-lo totalmente no banco de dados. Acabou a moleza de simplesmente capturar um bichinho: agora, cada Pokémon tem seu próprio conjunto de tarefas que inclui ver o monstrinho se comportando de determinadas formas na natureza, ver ele usando algum poder específico, evoluí-lo, encontrar ao menos um macho e uma fêmea da mesma espécie, entre várias outras tarefas.
Cada uma dessas tarefas possui níveis diferentes tendo, por exemplo, que capturar 25 Cyndaquils para completar a primeira tarefa deste Pokémon na sua agenda (lembrando que isso não vale para evoluções, ok?). Isso é interessante uma vez que cria toda uma nova dinâmica de jogatina. Se antes o objetivo era simplesmente “pegar todos”, agora temos muito mais a fazer com cada um deles.
Além disso, essa é uma mecânica interessantíssima para incentivar o jogador a conhecer mais aquele mundo, ir com mais calma em cada mapa e observar com mais atenção cada um dos biomas e das criaturas que ali vivem. São centenas de “mini-quests” que muitas vezes são completadas de modo orgânico durante a jogatina, mas que vão pedir um pouco mais de atenção do jogador em algum momento. Isso, claro, sem contar as dezenas de missões e contratos secundários obtidos com moradores da vila.
As muito bem-vindas inspirações
Pokémon Legends: Arceus chega em um momento um pouco tardio, numa franquia que há muito tempo insiste em manter a mesma fórmula básica sempre. Porém, os desenvolvedores aqui souberam olhar “pro lado” e usar bem as inspirações de outros projetos lançados nos últimos anos. A começar obviamente pelas claras inspirações em The Legend of Zelda: Breath of the Wild.
Seja sua paleta de cores, ambientação, iluminação e até o layout mais “clean” dos menus e interfaces, tudo lembra bastante o premiado game de Zelda. Claro que Pokémon Legends: Arceus não chega nem aos pés das possibilidades de mecânicas de jogo que Breath of the Wild trouxe em 2017, mas soube usar bem algumas ideias do seu conterrâneo. Para além da Nintendo, é possível ver algumas outras mecânicas vistas também em outros jogos de capturar monstros.
De Monster Hunter Stories 2: Wings of Ruin, podemos ver as mecânicas bem integradas das montarias terrestres, aquáticas e aéreas com algumas funções do jogo. Como eu mesmo sugeri na análise de Wings of Ruin que deveria ser feito pela franquia Pokémon. Ainda na franquia de monstros da Capcom, podemos ver uma inspiração também em Monster Hunter Rise, no que diz respeito ao esquema dos mapas todos interligados por um hub central, que no caso é a Vila de Jubilife.
Outros detalhes menores também vieram de outros jogos direta ou indiretamente. O esquema de prioridades na batalha já era visto há bastante tempo em Digimon Story: Cyber Sleuth e Hacker’s Memory, de PlayStation 4. E até um pouco de Death Stranding pode ser visto aqui, se você pensar na mecânica de perda de itens quando um jogador morre: os itens derrubados podem ser encontrados por outros jogadores quando estes estão jogando online.
Pokémon como sempre sonhamos
Felizmente, todas as inspirações que citamos acima não passam disso: inspirações. O pessoal da GameFreak conseguiu usar várias ideias desenvolvidas por outros projetos sem, contudo, perder a identidade carismática e viciante que Pokémon sempre teve. Por isso, ter todos esses “retalhos” de mecânicas de outros jogos, no final, acabam fazendo muito bem ao game, que possui uma identidade própria muito criativa.
Na prática, ao menos baseado em tudo que joguei até aqui, Pokémon Legends: Arceus é o game de Pokémon que chega mais próximo de tudo que os fãs da franquia sonham em ver em um jogo há tanto tempo. Claro que ele não é perfeito, ainda possui deslizes aqui e ali — como uma onipresente “preguiça” de modelar alguns personagens e texturas mais detalhadamente. Mas as melhorias comparadas a tudo que havia sido feito na série desde Pokémon X/Y são inquestionáveis.
Os Pokémon possuem animações um pouco menos mecanizadas, a maioria esmagadora dos ataques recebeu animações novas belíssimas, itens, ambientações e história completamente originais e até um pouco mais maduros que o de costume. Se desde os anos 90 os fãs da franquia esperam um jogo que trouxesse mais a sensação de estarmos de fato vivendo em um novo mundo cheio de possibilidades e aventuras, Pokémon Legends: Arceus entrega isso.
O jogo que os fãs pediam há quase uma década
O maior pecado de Pokémon Legends: Arceus, sendo bem crítico, talvez seja o fato de que ele chega um tanto quanto atrasado. Este game deveria ser o primeiro jogo de Pokémon para Nintendo Switch, o Pokémon com cara de nova geração, com cara de avanço, de novidades e mudança para a fórmula da franquia. Depois de literalmente uma década com jogadores clamando por inovações, finalmente uma boa parte das reivindicações foram atendidas… talvez um pouco tarde?
Claro que há muito ainda para ser visto e analisado em Pokémon Legends: Arceus, mas durante as minhas primeiras dez horas de jogo, a sensação que o jogo me deu foi um revigorante “uau”. Fazia anos que eu não me surpreendia tão positivamente assim em um game da franquia (talvez o último tenha de fato sido Pokémon X/Y, que trouxe pela primeira vez os modelos 3D para os games portáteis da franquia).
Bom, mas por enquanto é isso. Vamos continuar explorando o mundo selvagem de Hisui, e em breve traremos uma análise mais completa e detalhada, fique ligado!
Pokémon Legends: Arceus chega hoje, 28 de janeiro, com exclusividade para o Nintendo Switch.