Rage (PC, PS3, X360) review: tiros e buggies em um belo fim do mundo
Fãs de um bom FPS certamente estavam ansiosos pelo lançamento de Rage, novo game que a id Software produziu em parceria com a Bethesda Softworks. Esta expectativa é totalmente compreensível, afinal a id Software praticamente inventou o gênero FPS em 1992 com seu lendário Wolfenstein 3D, seguido por clássicos que marcaram a década de 90, como Doom e Quake. Fique tranquilo, pois a espera valeu a pena: Rage é um FPS de primeira linha.
A trama do game acompanha uma Terra que foi totalmente devastada pela queda de um meteorito. Exposta à radiação e às terríveis mudanças climáticas, o que sobrou da humanidade se divide: os que ficaram na superfície acabam sofrendo bizarras mutações, os que se esconderam sob o solo acabam virando mercenários nômades que estão sempre em busca de recursos. Há sempre um clima de emboscada em Rage, e assim que você bota a cabeça para fora de seu abrigo, quase todo mundo que você encontrar vai querer sequestrá-lo ou matá-lo. O clima pode ser desértico, mas há muita coisa além de pedra e areia nos belos cânions que se estendem à sua frente.
A primeira coisa que fica evidente em Rage é o cuidado que a produtora teve com seu visual. Embora seja quase impossível não compará-lo com outros títulos pós-apocalípticos como Borderlands ou Fallout, o mundo árido de Rage é com certeza o mais bonito e detalhado. Mesmo que o cenário por vezes seja essencialmente igual, nada parece repetido e os ambientes se completam de um jeito orgânico e natural.
Este deslumbre gráfico esteve presente desde os primeiros vídeos de divulgação do game, afinal a id estava ansiosa para mostrar a potência de sua nova engine, Tech 5. À sua maneira – com humanos de traços exagerados e paisagens fotorrealistas de tirar o fôlego – Rage é com certeza um dos games mais bonitos do ano. Rico e detalhado, o visual de Rage está sempre surpreendendo, seja com planícies inóspitas onde restos de civilização torram sob o sol escaldante, seja nas rugas cansadas de um velho sobrevivente.
O som também se destaca, com personagens que esbanjam personalidade ao falarem com sotaques e trejeitos únicos. O som de cada arma é alto e realista, combinando muito bem com os estouros pegajosos que ouvimos ao estourar a cabeça de um mutante. O vibrante ronco dos motores e mesmo os mais sutis sons ambientes – como portas rangendo ou vidraças quebrando – contribuem com a imersão proposta pelo game.
Felizmente a id não fez de Rage apenas um jogo bonito: a jogabilidade do game não tenta ser revolucionária, mas faz o que se propõe de maneira bastante eficaz. Os tiroteios são dinâmicos e divertidos, com diferentes tipos de armas que fazem belos estragos na carcaça dos inimigos. Embora de início tenhamos itens básicos como sniper rifles e escopetas calibre 12, com o tempo (e as peças e diagramas certos) podemos confeccionar armas realmente extravagantes como o já famoso bumerangue feito de lâminas, arcos que disparam flechas que lhe permitem controlar a mente dos inimigos por um breve período e até carrinhos de controle remoto explosivos. Cada arma de Rage contribui para tornar o game uma experiência variada.
E a variedade não está apenas nas armas, mas também nas munições: pegando um pouco a esteira de Bioshock, em Rage você pode produzir os mais variados tipos de projéteis. Tiros ácidos, incendiários, eletrificados, explosivos… o número de possibilidades é grande e colocar em prática suas criações é um deleite para os olhos, pois o impacto é sentido realisticamente pelas criaturas, dependendo da parte do corpo alvejada. Se há uma enorme criatura do tipo tank correndo na sua direção, nada melhor do que uma bala explosiva na altura do joelho para fazê-la rolar grotescamente pelo chão.
A inteligência artifical dos inimigos contribui satisfatoriamente com a diversão e o desafio dos combates. É interessante notar que os inimigos não possuem um padrão definido de ataque, e podem agir de maneiras inesperadas, o que torna cada confronto uma surpresa. Enquanto alguns vão usar o bom e velho esquema tático de cobertura, delatando sua posição aos companheiros, outros podem adotar uma estratégia kamikaze para tentar ganhar terreno, isso para não mencionar os pobres coitados que ao se verem sozinhos e encurralados, largam as armas e se rendem humildemente com as mãos na cabeça.
Quando você não está metendo bala nos inimigos a pé, geralmente vai estar perseguindo-os (ou sendo perseguindo) em estradas poeirentas nos grandes e estilosos buggies do game. Estas sequências motorizadas parecem até games de kart, com mísseis zunindo na sua orelha enquanto você salta heroicamente por uma rampa. Sem dúvida estes momentos são divertidos, além de apresentam uma jogabilidade sólida e precisa. Estando em uma cidade você pode ainda participar de corridas que lhe rendem dinheiro, que pode ser revertido em upgrades para dar uma turbinada no seu possante, algo fundamental para se locomover pelos desertos repletos de perigos.
Mesmo com toda essa variedade de armas, munições e situações, com o tempo fica claro que Rage não apresenta muita variação no desenrolar de sua campanha: basicamente, o game se resume a ir até uma cidade, entrar em uma missão, trocar tiros com muitos inimigos, pegar seu buggie, ir para outra cidade, entrar em outra missão, trocar tiros com outros inimigos… e assim sucessivamente.
As corridas, minigames temáticos, jogos de cartas e sidequests oferecidas por NPCs até tentam dar um respiro de criatividade ao conjunto da obra, mas o grosso do game se resume às situações descritas no parágrafo acima. Mesmo com vastas e belas paisagens a perder de vista, Rage se mostra bastante linear, delimitando caminhos e estradas para você sempre ir direto do ponto A para o ponto B.
O potencial da história também é afetado por um elenco de mocinhos e bandidos sem muita personalidade, que não convence nem impressiona em nenhum momento. Não nos entenda mal, Rage consegue entreter até o mais exigente dos jogadores por um bom tempo, mas até mesmo a diversão parece cansativa depois que o centésimo buggie explode sob o seu míssel.
Quem resolver se aventurar pelos modos de jogo online vai encontrar tanto modos de jogo típicos de um FPS quanto missões cooperativas e corridas de buggie. Estas últimas são de longe as mais legais, pois os pegas que rolam entre carros controlados por outros jogadores são bem mais emocionantes que os da campanha principal e contam com uma leva exclusiva de armas e upgrades que deixam as disputas ainda mais acirradas.
Rage mostra que a id Software ainda é ótima naquilo que faz: games com um ótimo visual, jogabilidade bem acabada e muitas cabeças deformadas para serem estouradas. Com um pouquinho mais de ousadia e criatividade, Rage poderia ser uma experiência realmente memorável, para bater de frente com os Fallouts e Borderlands que lhe servem de inspiração. Apesar do potencial não ser plenamente alcançado, é fato que Rage tem tudo para agradar quem curte tiroteios, corridas e mundos pós-apocalípticos.
Este review foi originalmente publicado na edição 28 da revista Arkade.