RetroArkade – Blasto, o herói desconhecido do primeiro Playstation

4 de agosto de 2019
RetroArkade - Blasto, o herói desconhecido do primeiro Playstation

No auge do primeiro Playstation, muitos games buscavam um lugar ao sol. No competitivo mundo dos games de CD, eram várias as propostas, em vários gêneros. Alguns viraram verdadeiras lendas, enquanto outros, apesar da ambição de seus desenvolvedores, ficaram no triste grupo dos esquecidos.

Um destes exemplos se chama Blasto. A ideia de aproveitar o sucesso dos games de plataforma e apresentar um super-herói divertido, no melhor estilo cartoon foi colocada a prova, mas, devido a vários fatores, pouca gente acabou conhecendo o game. Vamos então, hoje, relembrar um game que foi um dos primeiros projetos da própria Sony com games.

Um “Duke Nukem” cartoon

RetroArkade - Blasto, o herói desconhecido do primeiro Playstation

Uma vez, li em um fórum uma definição que resume bem o que era Blasto: um “Duke Nukem para crianças”. Muito do herói foi inspirado no personagem bombado dos PCs. Ele é cheio de piadinhas, estereotipado ao extremo, e adora se exibir para as mulheres. Muito do carisma do personagem se deve a um nome, contratado para ser a voz de Blasto: Phil Hartman.

Para quem não conhece, Hartman foi um humorista, conhecido por ser co-autor de As Grandes Aventuras de Pee-Wee, além de dar voz a Lionel Hutz, o advogado, e Troy McClure, o ator, ambos de Os Simpsons. Seu talento com vozes, que refletia na animação, com dois personagens que eram queridos pelo público, foram suficientes para garantir que o ator interpretasse o novo herói da Sony.

RetroArkade - Blasto, o herói desconhecido do primeiro Playstation
Credit: Daily News Photo Illustration: McLendon/AP; Fox

Blasto foi um dos últimos trabalhos do ator. Hartman foi assassinado por sua esposa, que cometeu suicídio horas depois, dois meses depois da estreia do game. Não se sabe se este foi um dos fatores que impediu uma possível sequência, mas com ele, foi-se também os dois personagens de Os Simpsons, que, por serem personagens secundários, simplesmente pararam de aparecer nos episódios seguintes.

Voltando a Blasto, a ideia do game era a de oferecer este ambiente non-sente, mas com um game de plataforma em 3D. Com o sucesso de games como Crash Bandicoot, ou Gex: Enter the Gecko, a Sony achava por bem ela própria tentar embalar seu próprio game no gênero. Assim, tínhamos um shooter em terceira pessoa espacial, com alienígenas como inimigos.

“Vamos proteger o planeta… Urano”

O inimigo de Blasto é o tirano Bosc. Ele quer invadir o planeta Urano, em sua busca por domínio de todo o universo. Em sua missão de domínio, ele sequestra e escraviza as Space Babes, e apenas Blasto poderá detê-lo. O game estava em desenvolvimento desde 1995, o que mostra o interesse, desde sempre, da Sony desenvolver seus próprios games.

Mas, foi apenas em 1997, na E3 daquele ano, que Blasto foi apresentado ao público. O game chamava atenção, mais por seus recursos técnicos, do que pelo game em si. A Sony estava usando Blasto como um grande laboratório de testes para desenvolvimento de games para o Playstation. Nenhuma biblioteca gráfica do console foi utilizada, por exemplo.

Assim, os desenvolvedores personalizaram tudo, em ferramentas e programação, para fazer os moldes do game. A ideia era a de garantir o mínimo, ou mesmo nenhum, tempo de carregamento, um terror desta época. Para ajudar nesta questão, ferramentas controlavam as partes do mundo do game que eram mais acessadas pelos jogadores em testes, para ajustar os níveis, e manter um equilíbrio na exploração.

Muitos elementos do game, analisados hoje em dia, mostram bem a iniciativa como algo, em certo ponto, experimental. Em tempos nos quais os games em 3D estavam evoluindo, e a própria Sony, seguia em evolução com o seu Playstation, dá pra ter a impressão, com personagens, níveis, e gameplay, que, apesar de ser um game completo, a Sony aprendeu bastante com o seu herói estereotipado.

Começando a usar o analógico direito

RetroArkade - Blasto, o herói desconhecido do primeiro Playstation

Blasto começou a ser desenvolvido em 1995, mas chegou em 1998. Isso quer dizer que ele chegou junto com o Dual Shock, o novo controle com alavancas analógicas e vibração, que se tornaria o padrão do Playstation, até hoje. Mesmo com o padrão de jogo ser baseado no direcional em cruz, já era possível, por exemplo, usar ambas as alavancas para controlar o game. A esquerda movia o personagem, enquanto a direita movia a mira.

Isso em uma época na qual poucos desenvolvedores sabiam o que fazer com o analógico direito. Se hoje ele é basicamente o controle de câmera, no passado, a alavanca era praticamente inútil. Poucos games ofereciam alguma função para elas, e Blasto foi um destes.

O game, apesar de ser um shooter em terceira pessoa, se comporta como um game de plataforma, com exploração. Você pode subir ou descer nos níveis, e explorar bem todos os cenários. Os inimigos são “acionados” pelo jogo quando você atinge o local no qual eles estão. E quebra-cabeças se fazem presentes também, mesmo que simples demais. O game ainda exige, em certos momentos, equipamentos específicos para avanço.

O famoso game que alguns amam, e outros odeiam

Por ser um game próprio da Sony, o game ganhou boa publicidade. Blasto aparecia regularmente nos CDs de demonstração da Sony, enquanto era comum vê-lo em revistas e propagandas. Entretanto, a recepção mista do game deixou muita gente em parafusos. Teve quem gostou do game, elogiando o personagem, e o sistema de exploração. Enquanto teve gente que detestou o game, como a Next Generation, que na época, o classificou como um dos piores games do Playstation já lançados.

Outro fator que pesou para Blasto era a overdose de games do Playstation. Junto com Blasto, chegaram naquela época: Parasite Eve, Resident Evil 2, Need for Speed III, e Xenogears, só para citar alguns. E é claro que os jogadores ficavam com tantas opções, que poucos deram chance a Blasto. Sem contar que, comparado aos games desta época, Blasto já oferecia um visual datado, e um gameplay levemente ultrapassado. Isso sem falar em sua dificuldade um tanto exagerada, que trouxe uma má reputação ao game.

Mesmo assim, Blasto é um game querido por quem o jogou. Vira e volta ele aparece em discussões como um game que não teve a chance que mereceu, ou um game injustiçado. A Sony até gostou do desempenho do game, e estudou uma continuação. Que, com a devida evolução, poderia usar do fator “game 2 que consolida de vez uma série”, que funcionou com Crash, e com Resident Evil.

Mas a morte de Hartman acabou por cancelar o projeto. Muito do game dependia do carisma do personagem, e com a sua recepção morna, a Sony decidiu desistir da ideia de investir em seu projeto de mascote, e fazer o que dá certo até hoje: apoiar estúdios como a Naughty Dog, para produzir seus exclusivos.

Blasto é um game que se encontra apenas no primeiro Playstation. Nem na PS Store, é possível encontrá-lo. Remaster está fora de cogitação, e remake nem se fala. Mas podemos pensar sim, em como seria a série, se tivesse uma recepção melhor, e Hartman seguisse vivo. Pelo menos o herói “evoluiu” e de uma forma ou de outra, “vive suas aventuras como o Sr. Incrível“. Afinal, eles se parecem, né?

Junior Candido

Conto a história dos videogames e da velocidade de ontem e de hoje por aqui! Siga-me em instagram.com/juniorcandido ou x.com/junior_candido

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