RetroArkade – Fazendo o impossível no esforçado Mission: Impossible
No final dos anos 90, dois agentes secretos mudaram para sempre o mundo dos videogames. Enquanto Bond, James Bond, revolucionou o multiplayer, e plantou a semente do que vemos hoje com diversos games online, Solid Snake trouxe a espionagem para o mainstream, fazendo com que a ação desenfreada desse lugar para um jogo inteligente.
E, seguindo as tendências da época, vários estúdios e desenvolvedores partiram para criarem os seus próprios jogos de espionagem, assim como os games de terror, inspirados no sucesso de Resident Evil. Foi assim que nós conhecemos Syphon Filter, por exemplo, e pudemos reviver alguns momentos marcantes de Missão Impossível, game da Ocean/Infogrames que supriu por algum momento a ausência de um Metal Gear Solid para o Nintendo 64. Não o fez com excelência, mas conseguiu divertir em meio a mudanças de identidade, fugas de agências de espionagem e mensagens que explodem sozinhas.
Do telão para os cartuchos
Em 1996, Missão: Impossível estreou no cinema, e fez bastante sucesso, trazendo o “Top Gun” Tom Cruise revivendo as missões clássicas do seriado dos anos 60, e com o aclamado Brian DePalma (Scarface, Os Intocáveis) na direção. O filme se ambientava em Praga, na atual República Checa, e trazia um enredo típico de filmes de espionagem, com traições e reviravoltas, mas chamava atenção por trazer situações impossíveis, como a transformação em pessoas variadas, além da clássica cena da fuga da CIA.
E, como ditava a regra da época, o filme deveria virar um game. E de fato foi o que aconteceu, com a Ocean iniciando o desenvolvimento do game, originalmente para PC. Mas depois ficou decidido que o game iria para o Nintendo 64, como um dos primeiros games para o console, mas que resultou em alguns problemas. Como todos sabemos, a Nintendo havia anunciado o 64DD, que ofereceria maior potencial para os games, mas, com a indecisão quanto ao hardware, diversas produções se atrapalharam, por não saber ao certo a melhor maneira de investir em seus projetos.
A ideia, como anunciada em dezembro de 1996, era a de lançar o game em cartucho, com missões extras sendo oferecidas pelo periférico. Mas, acabou que o 64DD não ficou pronto a tempo e o plano foi descartado. E o game começava a atrasar, pois, prometido para o final de 1997, praticamente não apareceu na E3 do mesmo ano, em junho. Tudo foi resolvido com a compra da Ocean pela Infogrames, que levou o game para Lyon, França, e acabou colocando-o nas prateleiras em 18 de junho de 1998.
Em 1998, com o “agora vai” do jogo, as revistas brasileiras começaram a observar melhor o game, que, segundo elas, prometia bastante. A Super Game Power #51 avisava que o game teria acesso a diversos agentes (sim e não: embora era possível interagir com agentes, você controla na maior parte do tempo Ethan, com uma pequena mudança em poucas fases), e que seria possível assumir diversas identidades, além de pensar rápido. A matéria dizia que o game bebia da fonte de GoldenEye 007, mas além disso, o game tem criatividade em seu gameplay de espionagem que, embora não seja justo a comparação, lembra bastante (pela iniciativa, e não pela prática) outro game que também estava na prévia desta edição: Metal Gear Solid.
GoldenEye + Metal Gear Solid = Mission: Impossible (bom, mais ou menos…)
É injusto comparar dois dos melhores games de todos os tempos com a aventura da Ocean, eu sei. Mas o que digo aqui é que a mistura destas duas lendas foram a fonte que inspirou, direta ou indiretamente, Mission: Impossible. Mais para os lados do game da RARE, afinal, o game já estava disponível e era uma tremenda febre. Já a aventura de Solid Snake chegou praticamente ao mesmo tempo, mas é interessante ver que ambos os games compartilham de uma vontade de trazer um gameplay não focado apenas no “sobreviva e atire em tudo o que se move”.
A aventura de Ethan para o Nintendo 64 não é exatamente a mesma do cinema. Aqui, os agentes da IMF trabalham para deter uma conspiração terrorista que busca enviar mísseis de submarinos em seus inimigos. E, paralelo a isso, é preciso também se envolver com pessoas na embaixada russa em Praga, a fim de salvar os agentes capturados, e retornar para a gelada paralelo 70, a fim de “salvar o mundo”.
Para a ação, um formato bem parecido com o GoldenEye 007: as missões são subdivididas em pequenas fases, não-lineares, com diversos objetivos a serem realizados, o que envolve se transformar em pessoas, pegar documentos confidenciais, driblar câmeras e sistemas, além de salvar pessoas. A criatividade é parte da jogatina e, em vários momentos, resolver as coisas na violência resultam em falha na missão. O jogo te convida a conversar com pessoas, esperar a hora certa pra agir e planejar a melhor maneira de executar suas ações.
É possível escolher entre duas dificuldades, e jogar o game alternando entre elas. A Possible te dá objetivos mais palpáveis e Ethan é mais resistente a ataques inimigos, enquanto a Impossible te oferece mais objetivos para serem cumpridos, além de mais facilidade de morrer em combates. Mas, se tiver com problemas, é só entrar, na tela de Level Select, com esta sequência: R, Z, C-baixo, R, C-baixo. Ethan dirá que “tá melhor assim” e você começa o game invencível.
De cenários, temos uma boa variedade, em se tratando de um game de 1998: a área de submarinos os quais você precisa sabotá-los, a embaixada russa, com um local de acesso exclusivo da KGB, que inclui uma base de operações, uma prisão e um depósito de armas nucleares, a embaixada da CIA, e até uma estação de trem. O gameplay também varia um pouco, com uma fase de cobertura sniper, e outra que simula a clássica descida em um sistema de alarme por laser.
Mas, infelizmente, o game, que tem sim ideias boas e se esforça bastante, se perde em controles duros, que por inúmeras vezes, mais atrapalha do que ajuda. Especialmente em momentos de ação, é frustrante perder a vida várias vezes simplesmente por problemas com o controle (e dessa vez, não é desculpa: quem jogou sabe!).
Um esforçado game de uma boa safra de espionagem
Começando com GoldenEye 007 (sim, eu sei que ele é um FPS, mas traz missões e não foca só no tiroteio desenfreado), passando pela lenda Metal Gear Solid, o divertido Syphon Filter, Fear Effect, até a chegada de Sam Fisher e seu Splinter Cell, já na era 128-bit, o mundo da espionagem dos videogames contou com bons e criativos jogos entre o final dos anos 90 e o início dos 2000.
Mission: Impossible não é o melhor de todos eles, mas consegue divertir. Suas missões, focadas na criatividade, fritavam cérebros na época, pois apenas sair atirando em tudo e todos não resolvia todos os problemas. A SGP #53 deu nota 4.3 para o jogo, destacando a sua diversão. E é verdade: mesmo com os controles problemáticos, é possível sim se divertir com o game. Em 1999, o jogo chegou para o Playstation, com algumas pequenas adaptações, que permitiram, por exemplo, melhorias nas cutscenes.