RetroArkade – O dia em que Mauricio de Sousa criou os seus próprios Beatles
Mauricio de Sousa é mundialmente conhecido graças à sua turminha. Mônica, Cascão, Magali e Cebolinha são o seu “Fab 4” que, junto a outros personagens, conquistaram crianças de diferentes línguas, costumes e nações. Mas uma mente criativa como a do pai da Mônica (nos quadrinhos e na vida real) não conseguiria se contentar apenas com o bairro do Limoeiro.
Assim, anos antes de Mauricio de encontrar com a Turma da Mônica Jovem e diversas outras empreitadas, como uma divertida parceria com a DC Comics, ele já tentava apostar em outros universos além do de sua turminha. Fez o gibi do Pelé, tentou o do Maradona e até tentou fazer seus próprios Beatles.
O projeto, como sabemos, não foi para a frente. Mesmo assim, rendeu uma história bem interessante. E é ela que iremos ver agora, em uma situação envolvendo o encontro de Mauricio de Sousa com os lendários Beatles.
Nossa história começa em 1990. Nesta época, a Turma da Mônica já era consolidada como o maior produto de quadrinhos do Brasil. As crianças já eram alfabetizadas com a história da Turminha, e Mauricio de Sousa buscava novas ideias para explorar sua criatividade e seus negócios.
O Parque da Mônica, que chegaria em 1993, as animações da turminha que faziam sucesso na TV e nas saudosas fitas VHS, além de projetos como lojas e shows estavam entre os assuntos que a mesa de Mauricio tinha para serem trabalhados. E, entre estes projetos, surgiu uma ideia: celebrar os Beatles, aproveitando os 20 anos do fim da banda (os Beatles se separaram oficialmente em 1970).
Mauricio, um grande fã dos Beatles, que inclusive posta em seu Instagram pessoal fotos do passado, onde curtia bailinhos, com muita música do Fab 4, queria homenagear o grupo, assim como apresentar para o seu público a importância do grupo. Crianças dos anos 90 já viviam uma outra era da música, onde Michael Jackson, Nirvana ou Guns N’ Roses eram os grandes nomes nas rádios. Crianças daqueles dias já não tinham mais conexão com o quarteto inglês. Muitos nem sabiam quem eram.
Assim, foi criada o Beatles 4 Kids, a versão infantil de John, Paul, George e Ringo, onde histórias, livros e demais produtos passavam pela mente de Mauricio, enquanto esboçava um desenho da turma, em referência ao clássico Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Esboço feito, hora de correr atrás do “sim” dos detentores dos direitos autoriais.
E Mauricio de Sousa o fez: seu escritório em Nova York lidou com representantes dos direitos, enquanto na Inglaterra, conversas foram realizadas com os advogados de Paul, George, Ringo e Yoko Ono, que ficou com o legado de seu marido John Lennon, que havia falecido dez anos antes. Também conversaram com Neil Aspinal, um dos principais da Apple, a gravadora da banda em seus últimos anos.
Até Michael Jackson entrou na jogada. O cantor possuía direitos de parte do catálogo dos Beatles, e precisaria ser consultado em questões dessa natureza. Assim, a equipe jurídica do cantor também foi acionada, para a apresentação do projeto. Também foi envolvida nas conversas Connie Boucher, que trabalhava com licenciamento de personagens nos EUA.
Com todos conversados, agora faltava apenas a aprovação pessoal dos quatro membros da banda. Três, no caso, mais a Yoko Ono. Os advogados, representantes e detentores de direitos olharam com bons olhos a iniciativa, mas nada iria para a frente sem o consentimento dos quatro nomes principais quanto o assunto era The Beatles.
O combinado era que a aprovação só aconteceria em caso unânime, ou seja, se os quatro aprovassem. Bastava apenas um recusar que o projeto seria automaticamente rejeitado. E foi o que realmente aconteceu. Apenas uma pessoa rejeitou o projeto, que acabaria sendo engavetado. Não foi revelado para Mauricio quem foi que deu o “não”, mas em seu livro, Mauricio – A história que não está no gibi, ele diz imaginar quem poderia ter dito o não que impossibilitou o projeto.
Em 2012, em uma passagem de Paul McCartney ao Brasil, Mauricio aproveitou para apresentar em seu Twitter esboços do seu projeto. Mas que ficou apenas como um “plano infalível” que tinha tudo para dar certo, se não fosse por apenas uma pessoa. Enquanto isso, Mauricio seguiu criando, permitindo e incentivando referências aos Beatles em suas historinhas, onde faz, com o que tem de melhor, as merecidas referências e homenagens.