Retrocompatibilidade no Switch? É bem fácil de fazer, mas a Nintendo não tem interesse
Retrocompatibilidade é um assunto bem complicado no mundo dos videogames. Para a Xbox, é algo natural, você pode jogar quase todos os games do Xbox 360 e do Xbox One em seu Xbox Series X/S. Para a Playstation, é uma complicação enorme, mas que acontece pelo menos entre os Playstation 4 e o 5. E para a Nintendo? É algo bem fácil de se conseguir, mas eles não tem interesse nisso.
Essas palavras vieram do próprio Shigeru Miyamoto, o lendário criador de Mario, Zelda, Donkey Kong e muitos outros clássicos da Nintendo, durante uma reunião com investidores, em que a questão sobre retrocompatibilidade foi levantada e respondida pelo lendário game designer.
Segundo ele, no passado, alcançar a retrocompatibilidade era um desafio, pois cada game foi criado para uma plataforma específica. Sendo assim, quando a plataforma muda, era muito difícil fazer um game antigo funcionar numa plataforma nova, exigindo modificações no game original para que ele funcione.
Ele conta, por exemplo, que para continuar a disponibilizar seus games antigos, a Nintendo havia criado o Virtual Console no Wii, que permitia que os jogadores pudessem jogar games antigos no console. Isso foi possível pois apesar do Wii ser bem diferente de seus antecessores, a estrutura do console em si não se desviava muito.
Miyamoto então chega aos dias atuais, comentando que atualmente a rectrocompatibilidade é algo bem padronizado, sendo bem fácil de se fazer (E não vamos esquecer que emuladores permitem isso desde sempre, mas se você falar sobre isso perto da Nintendo, ela vai espumar bela boca). Mas então por que não há retrocompatibilidade no Switch? Bom, a Nintendo não está interessada nisso.
Nas palavras do próprio Miyamoto: “A força da Nintendo está em criar novas experiências com games, então quando nós lançarmos um novo hardware no futuro, nós gostaríamos de mostrar os video games únicos que nós não pudemos criar em um hardware pré-existente.”
Ou seja, o foco da Nintendo está em criar novos games, não em relançar games antigos. Isso, superficialmente, é uma resposta inteligente e compreensível, afinal, o dinheiro e o avanço vem mesmo do que é novo. O problema é que é a Nintendo que está dizendo isso, a mesma Nintendo que, quando se trata de preservação e disponibilização de suas obras antigas, cria muitas complicações desnecessárias.
O maior exemplo disso é o Expansion Pack do Nintendo Switch Online, que disponibiliza games antigos para serem jogados apenas mediante essa assinatura, sendo impossível comprá-los separadamente ou, se você já possui o game em consoles mais antigos, de acessá-los no Switch.
Isso sem mencionar na coletânea Super Mario 3D All-Starts, que continha Super Mario 64, Super Mario Sunshine e Super Mario Galaxy. Essa coletânea foi vendida por pouco tempo e então completamente removida das lojas, impossibilitando que esses games pudessem ser jogados no Switch para quem não tinha essa coletânea.
E, acima de tudo, no início do ano a Nintendo anunciou o fechamento da eShop do 3DS e do WiiU para 2023, o que resultará em um enorme número de games exclusivos desses consoles tornando-se totalmente indisponíveis. O próprio anuncio dessa desativação continha um trecho dedicado a falar sobre o papel da Nintendo em preservar e disponibilizar seus antigos games, com a empresa comentando que, em sua visão, a melhor forma de preservar seus games é mediante uma assinatura paga. Essa resposta foi posteriormente apagada da página de anúncio da desativação.
O próprio Miyamoto comenta que no passado a decisão sobre adicionar um game no Virtual Console ou não estava primariamente relacionada aos direitos autorais da obra. Ou seja, a Nintendo só re-disponibilizaria um game se conseguisse readquirir ou renovar os seus direitos autorais.
No fim, a Nintendo detém sim os direitos de suas próprias obras, ela pode disponibilizá-las facilmente no Switch, mas não tem interesse nisso. O problema, fora a recusa em si, é que desculpa não cola muito bem, já que estamos falando de uma empresa que literalmente faz uma caça às bruxas contra toda e qualquer pessoa que disponibilize ROMs de seus games online (Ele está errada? Não. Mas ela também não se ajuda ao tornar seus próprios games acessíveis).
Sendo assim, se você tinha esperanças de ver algum clássico ressurgindo no Switch de forma legal e acessível, bom, a esperança ainda existe dentro do limitadíssimo Expansion Pack, mas não espere por algo mais dedicado do que isso. Afinal, quando se trata de preservação de video games, a indústria (com algumas exceções como a Microsoft e a Embracer Group), gosta de colocar mais e mais barreiras nessa ideia, para dificultar algo que é trivialmente fácil para eles próprios (exceto se você pagar muito mais por um port/remaster mal feito, aí a preservação é “importante”).
(Via: VG24/7)