“Sem querer querendo” traz o mundo pelos olhos de Chespirito, o eterno Chaves
Quem assiste a Chaves e Chapolin, por todos esses anos que seus episódios foram exibidos no SBT (e também no Cartoon Network, além do Multishow, lembrando também das plataformas de streaming) pode pensar bastante sobre a pessoa que estava por trás de seus personagens. Sua história, suas opiniões, sua trajetória e a razão pelo qual tais personagens fizeram tanto sucesso no México, América Latina e depois no Brasil.
Principalmente para nós, brasileiros, que não tivemos acesso à mais da vida de Roberto Gómez Bolaños, o eterno Chespirito, o livro “Sem Querer Querendo – Memórias” traz muito sobre o que fez o criador de Chaves e Chapolin ser tão querido entre milhares de pessoas em todos os cantos do mundo.
O livro, adaptado e publicado no Brasil em português em 2021 pela Estética Torta, foi escrito originalmente em 2006 e é, basicamente, um livro de memórias. Nele, Chespirito narra sua vida, desde a infância, até meados do tempo no qual publicou o livro. Conta seus eventos de infância, juventude, faculdade, e seus primeiros trabalhos no mundo da recém-criada televisão.
É apresentado seu início na televisão, após um período no mercado publicitário, onde escreveu roteiros para uma dupla humorística famosa em solo mexicano, “Capulina y Tintán”. Conta sobre o começo do seu legado pessoal, quando estrelou “Los Supergenios de la Mesa Cuadrada”, seu primeiro programa que já contava com pessoas como Rubén Aguirre (o Professor Girafales) e Maria Antonieta de Las Nieves (a Chiquinha), além de Ramón Valdez, o Seu Madruga.
Já sobre o fenômeno Chaves e Chapolin, ele conta sobre as origens de ambos os personagens, e como foram os dias envolvendo gravações, e os muitos shows que a equipe fez por toda a América Latina, em países como o Chile e Peru, além do público latino que vivia nos EUA. Por se tratar de uma memória do próprio criador, é um prato cheio para todo o fã da obra completa de Chespirito que, além de Chaves e Chapolin ainda contou com outros personagens, como o Dr. Chapatin, Vincente Chambón, de La Chicharra, e o Chompiras (Chaveco, no Brasil), que ganharia muito protagonismo entre os anos 80 e 90, no programa Chespirito.
Todos estes eventos são narrados com o já conhecido linguajar único de Chespirito, com seu humor ingênuo e inocente, mas que esconde uma certa dose de acidez, despejada na hora certa, e do jeito certo. Além de narrar sua própria vida, Bolaños fez questão de fazer um diário aberto em seu livro, narrando também, com seu ponto de vista, as muitas coisas que viu em vida, como as crises políticas mexicanas e os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo realizadas no país, onde Chespirito e todos os mexicanos aprenderam a admirar e idolatrar Pelé e Maradona, jogadores que se consagraram no Estádio Azteca.
Também são apresentadas curiosidades, como o fato de que Chespirito já teve, anos antes de estar na TV, um carro o qual havia apelidado de Chapolin, ou o fato de que Bolaños foi parente próximo de um presidente do México, o qual decidiu, por várias razões, não manter contato durante seu mandato. Além de falar de sua única visita ao Brasil, e quando Pelé o convidou para fazer um filme. Tudo apresentado com uma linguagem totalmente compreendida pelos fãs do ator, escritor, cartunista, publicitário e gênio.
O que deixa tudo melhor é a qualidade do material apresentado aos brasileiros. O livro, de 448 páginas, conta com um acabamento impecável, com capa e papel de alta qualidade, o que deixa a leitura muito mais agradável. Também tiveram o cuidado de, na tradução, adaptarem, assim como a Maga havia feito na dublagem durante os anos 80 e 90, nomes e expressões, para que o leitor possa assimilar melhor o que Chespirito quer dizer. Além de inúmeras fotos, escolhidas pelo próprio Bolaños, que ilustram seus vários momentos na vida.
E, para questões muito específicas, como eventos que aconteceram no México, além de personalidades locais, ou mesmo expressões em espanhol que não fariam sentido para nós brasileiros, o livro está repleto de notas, muito bem feitas, explicando muito bem cada uma destas questões. Havia entrevistado o pessoal da editora, no ano passado, onde qual haviam prometido esta atenção especial com o fã de Chespirito, além do cuidado de contar com apoio de fãs para um projeto feito com muito respeito.
Agora, ao ler o livro, pude comprovar todo este respeito apresentado, não só a Chespirito, mas a todo o fã, seja de Chaves e Chapolin, ou seja de toda a obra de Roberto Gómez Bolaños, onde, além de conhecer mais a trajetória desta grande mente do século XX, também podem aprender várias lições de sabedoria de uma pessoa que conseguiu construir um fenômeno atemporal, onde há mais de 50 anos consegue atrair e fazer rir crianças e adultos, de todas as idades.
“Sem Querer Querendo – Memórias” está à venda na Amazon, tanto em versão com capa dura e tratamento especial, quando para Kindle.
