South of the Circle é interessante point and click com narrativa poderosa
O Apple Arcade tem se tornado, game a game, como uma interessante plataforma para excelentes games independentes. Seu preço de R$ 9,90, atrai muitos jogadores, que conseguem ter acesso a centenas de games, de forma semelhante ao Game Pass. Com o fato de que é possível curtir os games entre os mais variados dispositivos da Apple: comece jogando na TV, no Apple TV, continuando a jogatina na rua, em um iPhone, e terminando na qualidade visual de seu Macbook.
A plataforma, assim, traz a oportunidade de conhecer diversos bons games, que passariam batido no que podemos chamar de “radar do hype”. E, entre eles, temos o ótimo South of the Circle, da State of Play, a mesma responsável por Lumino City. Fortemente focado na narrativa, o jogo te coloca em uma Antártida dos anos 60, na pele de Peter, um acadêmico inglês que junto a um amigo, precisa encontrar uma maneira de escapar de um acidente de um pequeno avião, ao passo que questões envolvendo a Guerra Fria e os soviéticos podem dificultar as coisas.
Em meio a isso, em sua jornada solitária em busca de ajuda, as memórias de Peter vão levando-o a vários momentos de sua vida: sua infância, com sérias questões envolvendo seu pai, ou já em sua vida adulta, seu relacionamento com Clara, uma jovem estudante que aos poucos, conquista seu coração. Conforme o jogo se desenvolve, os laços de passado e presente vão se fundindo ainda mais, trazendo com isso, um enredo que te prende e que te faz querer saber o que continua acontecendo por lá.
Isso tudo acontece em meio a gráficos estilizados, que lembram os visuais mal definidos dos primeiros games 3D do início dos anos 90, mas que encaixam perfeitamente na proposta retrô de sua história. Somamos também a boa trilha sonora e o excelente trabalho de vozes, que traz ainda mais qualidade à trama. Entre os atores que participaram do jogo com suas vozes estão: Gwilym Lee (“Bohemian Rhapsody”), Olivia Vinall (“The Woman in White”), Richard Goulding (“Belgravia”), Anton Lesser (“Game of Thrones”), Adrian Rawlins (“Chernobyl”) e Michael Fox (“Downton Abbey”).
O gameplay, por sua vez, é bem simples. Basta apenas apontar o local aonde o personagem tem que ir, interagir, vez ou outra com algum elemento, e responder às conversas com opções que vão das respostas mais tristes ou temerosas, as mais alegres e confiantes. Conversas estas, que vão ditando o ritmo do jogo.
Mas, no final, o que realmente importa, para quem gosta do gênero, é a história, e a forma a qual ela é contada. E isso é realmente impressionante. Os produtores buscaram, em todos os detalhes, oferecer um enredo introspectivo e o mais próximo do real. Peter não é nenhum super-herói, e nem “salva o mundo” atirando em tudo o que vê pela frente. Pelo contrário, é um acadêmico, sem grandes aptidões físicas, mas que precisa remar um barco, mesmo lembrando que, quando criança, seu pai dizia que era um imprestável para esse tipo de coisa.
A jornada introspectiva e isolada de Peter, em meio a lembranças e questionamentos, conseguem sim fazer o jogador pensar em muitas coisas. Andando por cenários com temperaturas abaixo de zero, e com a ameaça soviética por perto, muita coisa passa pela cabeça de quem não tem quase nenhum preparo para sobreviver naquele lugar. Mas, como é preciso, de fato, sobreviver, chega a hora de esquecer alguns fantasmas do passado, para salvar seu colega e a si mesmo.
Inclusive, para a ambientação, Luke Whittaker, designer e co-criador da State of Play, disse ao CNet que viajou à Antártida, para oferecer aos jogadores a melhor sensação possível de estar naquele lugar. Ele não queria, no fim, que as pessoas tivessem a sensação que o continente gelado do game fosse fruto “apenas de uma pesquisa no Google Maps”.
Já John Lau, designer criativo, e também filósofo, afirma, na mesma oportunidade, que “nem todo mundo vai responder [a uma situação] da maneira que gostariam. E, na verdade, ao tentar viver de acordo com um mito específico do herói, você está sujeito a fazer mais mal do que bem”.
E neste contexto, mesmo de forma linear, apenas guiando o jogo através das conversas, e construindo o enredo através da ligação de passado e presente do game, temos um point and click de qualidade. Que, mesmo sem enigmas para resolver, e extremamente linear, consegue prender por sua narrativa, e pela conexão sabiamente competente do jogador com o protagonista Peter. Como um livro interativo, é uma história que os fãs de boas histórias devem conhecer.
South of the Circle está, no momento, disponível apenas no Apple Arcade. O que significa que é possível jogá-lo, inclusive em várias plataformas ao mesmo tempo, através de save no iCloud, em computadores Mac, iPhone, iPad, e Apple TV, compatíveis com o serviço. A plataforma de games da Apple também oferece um mês de graça para testes, além de somar este serviço a vários outros da companhia no Apple One.