Uma análise dos preços de Xbox Series S e Series X
Enfim, preços anunciados. Os consoles da próxima geração da Xbox tem data e preço para chegar. Como já falamos, o Series S chegará por US$ 299, enquanto o Series X chega por US$ 499. Mas o que isso significa? Vem comigo conversar, para discutirmos juntos sobre os preços dos consoles. Lembrando, claro, que a conversa é sobre o preço em dólares, e o mercado global como um todo. Quando saírem os preços em reais, aí podemos conversar sob uma ótica mais próxima, da nossa realidade.
Mas quinhentos dólares é um bom preço, se tratando do Xbox Series X? Bom, vamos voltar no tempo, e ver os preços de lançamentos de outros consoles. É um bom começo. O Xbox One, em 2013, foi lançado pelos mesmos 499 dólares (vale lembrar: no começo, o Kinect, que encarecia o produto, vinha obrigatoriamente). Já em 2005, o Xbox 360 chegou, de maneira parecida com a geração atual, com duas versões: uma de US$ 399, e outra, de entrada, de US$ 299. E o Xbox original, em 2001, chegou por US$ 299.
No mundo dos games, mesmo nos tempos mais antigos, os preços flutuam entre US$ 199, e US$ 499. Isso significa uma coisa: consoles de lançamento sempre tem preços mais salgados. Isso porque, nos anos 80, 199 dólares era uma boa grana para um NES. Apenas o Neo Geo, e o 3DO, com seus mais de 600 dólares, e isso nos anos 90, que passaram desta “média”. Isso quer dizer que sim, o preço do Xbox Series X está dentro do esperado. Ainda mais com tanta questão econômica extraordinária que o mundo viveu em 2020, com a pandemia do novo coronavírus.
Ainda mais dentro do que a Microsoft oferece no pacote: geralmente, videogames não são feitos para serem lançados como as máquinas mais potentes de sua época. O NES foi lançado com 8-bits, mas já havia a possibilidade de lançar algo com 16-bits na época. Os consoles da Sony nunca quiseram ser os “mais potentes” de todos. E a Nintendo, do Wii ao Switch, está confortável com seu “hardware inferior”. O Series X vai na contramão. Pelo menos no conceito de videogame.
Impulsionada pelo “monstro” Xbox One X, a companhia viu que há público querendo a máxima potência, e trouxe configurações parrudas para o dispositivo. Quem comprar o Series X terá acesso à games que podem ter Ray Tracing, 4K a 120 FPS, os celebrados 12 Teraflops em sua GPU, entre muitas outras coisas, como o Smart Delivery, compatibilidade com games das gerações passadas, e seus serviços, como o Game Pass e o vindouro xCloud.
Há quem reclame da situação do Series S. Alguns desenvolvedores questionam que as limitações do console de entrada atrapalhariam o desenvolvimento dos jogos desta geração. Mas, em um contexto geral: desde sempre houve esse problema, e muitos jogos que adoramos são fruto da criatividade de desenvolvedores que extrapolaram os limites dos consoles em que trabalharam. Assim, se no passado tivemos Metal Gear Solid, Donkey Kong Country, Super Mario Bros. 3 e Perfect Dark, nessa geração também dá pra ter coisas boas. Basta sair da zona de conforto “gamer”, dos jogos que mantém o mesmo padrão há mais de uma década, que as boas ideias chegarão.
O console que se inspira no mundo dos smartphones
Mas e o Series S? Bom, pra mim, o “alvo” da Microsoft para este console é um só: aquela pessoa que “só quer jogar”. Provavelmente, esta pessoa nunca vai nem ler este artigo. Trata-se daquela pessoa que curte videogame, mas que não tem ligação com o universo gamer. Para ela, 4K, exclusivos, Ray Tracing, teraflops e tantas outras coisas que conversamos em sites, fóruns e redes sociais, não são tão importantes assim. Ou nem sabem o que significa tudo isso.
Essas pessoas querem apenas ligar o seu console, colocar um Call of Duty, FIFA ou GTA qualquer, e aproveitar um momento de lazer. E sim, há muita gente assim, pelo mundo. Estas pessoas não pagariam US$ 499 em um console, pois para elas, não existe “hype” para essas coisas. Mas US$ 299? Parece um bom preço. Este modelo de negócios da Microsoft é muito parecido com o mercado de smartphones. Com fabricantes que lançam o modelo top, cheio de recursos, e modelos de entrada, que oferecem os mesmos recursos básicos, mas com limitações em hardware e software.
Vale lembrar, também, que, apenas falando de Brasil, uma pesquisa mostra que 66% dos brasileiros encontram entretenimento em videogames, sejam eles quais forem. Agora projete este número para um padrão global. Será que todos estes estão realmente preocupados com gráficos foto-realistas, som digital e tudo o mais? Não, só querem ligar o console no fim do dia (ou no fim de semana) e se divertir.
E tá tudo bem. A maioria das pessoas que comprarem o Series S, vão perguntar para o vendedor se “tem Mario pra ele”. Há, fora da nossa “bolha gamer”, um grande número de pessoas que curtem videogame, mas que não se inteiram do tema. Não visitam sites especializados, não seguem youtubers e nem acompanham streams. Para eles, um bom produto, com um bom preço, é o suficiente. E a Microsoft tem, além do preço, uma outra arma, para este público: o Game Pass.
Ao meu ver, o Series S é não apenas a porta de entrada da Microsoft, mas a tentativa de “roubar” boa parte dos 100 milhões dos que compraram o Playstation 4. Lembre-se: nem todos que tem um PS4 em casa, se importam com os famosos “exclusivos”, sendo que a média de vendas destes games, nos lados da Sony, é na base dos 10%-20% da base instalada (o que é ótimo e faz com que a Sony invista neste público. Falaremos mais sobre isso quando o preço do Playstation 5 foi anunciado).
O restante, vai para o lado que oferecer melhores benefícios. E a Microsoft tem suas armas: um console com preço mais acessível, e a possibilidade do Game Pass. Nos EUA, por exemplo, o Game Pass Ultimate custa US$ 14,99 por mês, muito abaixo dos preços dos lançamentos, que são um tanto salgados por lá também.
E, em um mundo que já está acostumado com assinaturas, é a hora ideal para a Microsoft apostar. Em um processo que lembra, mesmo que de forma um pouco distante, a política de negócios da Amazon: oferecendo produtos mais baratos, para conquistar, através de assinaturas, mais receita. A Apple, nos últimos anos, também virou uma “prestadora de serviços”, para quem tem iPhone: ela oferece serviços pagos de música, séries, espaço em nuvem, e até um cartão de crédito.
E a própria Microsoft já apostou de maneira semelhante, com sucesso, na era do 360: sua opção mais básica, feita para “quem quer só jogar”, vendeu bem.
Mas e aí, os preços estão legais?
A Microsoft mostra, com as suas Series S e X, que está antenada com o modelo de negócios atual: não está focada em ser a “campeã”, e sim em primeiro, valorizar a sua base, com serviços e jogos focados neles. Enquanto tenta, em seguida, abocanhar um universo flutuante de pessoas que gostam de videogame, mas não tem preferências, nem lados. Só querem “jogar”. Consegue, ao mesmo tempo, prometer um console potente, sem cobrar um preço totalmente proibitivo, nos padrões estrangeiros, e ainda oferece uma opção de entrada. Poderia, ao invés disso, manter o Xbox One S como este console de entrada? Sim, mas aproveitou para embarcar mais tecnologia na sua versão “starter”.
A Sony ainda não apresentou todas as suas apostas para o Playstation 5, então não tem como comparar. Mas baseado no que temos hoje, no mundo do videogame, a Microsoft segue com o melhor custo benefício. Mesmo em reais, que já imaginamos preços mais salgados, a possibilidade do Game Pass já ajuda, e muito, a dar acesso a bons games, incluindo os hits da empresa, como Halo, Gears, e Forza. Isso sem mencionar que comprando um dos novos consoles, você tem um “tudo em um”, devido à retrocompatibilidade. Que já existia no 360, e no Xbox One, deu um salto interessante de qualidade, respeitando a biblioteca de jogos comprados de seus consumidores.
Não vou entrar no mérito de “quem vai ganhar a geração” ou “qual é o melhor”, até pela simples razão de que a própria indústria não tem mais essa obsessão, lembrando também que o conceito global de “melhor”, num mundo plural como o nosso, nem dá mais pra mensurar por médias. Mas, avaliando preço, conjunto, biblioteca, e possibilidades, o Xbox Series S/X chega prometendo um ótimo custo-benefício, já oferecido atualmente na “família” One. Resta, então, ver o console em funcionamento, e todos os recursos funcionando em sua plenitude em ambos os consoles. E, claro, a recepção do console, para aí sim, através de números, observarmos se, de fato, a estratégia da Microsoft foi certeira.