Voice Chat Arkade: Precisamos conversar sobre o famigerado Clickbait
“Você não vai acreditar no que esse game fez. O resultado é surpreendente”. “Esse personagem de um game famoso foi escolhido para participar de algo incrível. Entenda”. “Franquia surpreende e terá algo novo em breve”.
Você já leu chamadas para matérias assim, e várias vezes não é? Isso é algo que praticamente todo mundo já sabe o que é, mas que parece estar se proliferando a níveis alarmantes atualmente, e nós precisamos conversar com vocês leitores sobre isso. E caso você seja novo na internet, nós vamos conversar agora sobre o clickbait, uma das piores e mais comuns práticas adotadas por muitos na internet.
Clickbait é a prática de obrigar o leitor a clicar numa matéria para saber do que ela se trata, usando títulos e chamadas desinformativas ou ate mesmo sensacionalistas para gerar mais cliques. O próprio nome já deixa isso claro, clickbait = isca de cliques. São aquelas práticas que normalmente supervalorizam certas informações que podem ou não ser interessantes para os leitores. Mas isso é só a ponta do iceberg.
Um exemplo para ilustrar bem o caso: há alguns dias, lançamos a notícia sobre o game Drawn to Death, que será lançado gratuitamente para o PS4 pelo serviço PS Plus. No título dessa notícia, informamos ao leitor exatamente isso, Drawn to Death será gratuito na PS Plus.
Mas como seria essa notícia em forma de clickbait? Talvez algo mais ou menos assim:
“Novo jogo dos produtores de God of War estará DE GRAÇA em uma plataforma atual!“. Talvez com uma imagem do Kratos junto à manchete, só para chamar mais a atenção.
Vamos analisar essa chamada de mentirinha. O que ela revela ao leitor? Absolutamente nada. Ela até desinforma, distorcendo certos detalhes para forçar o leitor a clicar na matéria para saber do que se trata. Vamos por partes: o título anuncia que um game (não sabemos qual) estará de graça em algum lugar (não sabemos onde). E menciona a série God of War, dando a impressão de que algum game da série é que será gratuito.
A verdade no entanto é outra. Drawn to Death, game criado por David Jaffe, diretor dos dois primeiros games da série God of War será lançado gratuitamente na PS Plus, no Playstation 4. Viu a diferença? Um título que transmite uma informação “falsa” ou incompleta te força a clicar na postagem para saber do que se trata, pois cria expectativa, e te induz a pensar algo totalmente diferente.
Um popular site de games e tecnologia brasileiro costuma usar chamadas do tipo “[Insira um jogo famoso aqui] e outros games de sucesso ficam mais baratos ou GRÁTIS esta semana”. Aí o leitor vai sedento ver do que se trata e vê que é apenas um beta teste, um fim de semana, ou uma promoção nem tão boa assim. O título está mentindo? Não necessariamente. Mas também não está dizendo te dizendo a verdade.
Neste mesmo site, flagramos uma postagem mais ou menos assim: “personagem brasileira de Street Fighter V pode ser substituída, entenda”… e ao abrir a notícia, vimos que era apenas uma matéria falando de um mod que troca o visual da Laura, deixando-a parecida com a Sombra, de Overwatch. Só isso. Nada de polêmico, só mais uma clickbait para angariar cliques.
O fenômeno (ou seria praga?) do clickbait já existe há muitos anos, e a razão de sua existência está envolvida em um outro problema: Leitores superficiais, que não passam do título. É fato que existe uma grande audiência que não quer ler, interpretar e abstrair informações de textos mais longos. São leitores que pegam apenas o título como um todo e, baseados apenas nisso, disseminam inverdades, o que acaba virando uma bola de neve. Uma forma de tentar evitar esse tipo de coisa foi justamente o clickbait: títulos que não revelam nada para fazer o leitor clicar e acessar a postagem.
Eu até poderia dizer que existe um “clickbait do bem”, inocente, usado para tentar contornar essa situação infeliz. Mas isso não estaria totalmente correto. A criação de um título para uma matéria, análise ou uma pequena notícia é algo que, para nós, da Arkade, precisa ser tratada com cuidado. Títulos chamativos são muito importantes, desde que sejam verdadeiros. E não raramente um título pode acabar sem querer parecendo um clickbait (acredite, isso também acontece). Um título é uma pequena frase, um conjunto de poucas palavras que tem por objetivo criar a atração inicial ao leitor para que continue sua leitura. Dessa forma, um título precisa ser ao mesmo tempo curto e chamativo, o que por si só é um desafio. Um título não tem espaço para revelar tudo, mas deve revelar o suficiente.
Existe uma (grande) parcela de pessoas que não passa do título, e existe muito site fazendo chover clickbait a torto e a direito. E onde ficam os leitores que realmente se interessam, leem e interpretam? No meio desse fogo cruzado. Tire um tempo para ver comentários em postagens com clickbait e você encontrará vários dos chamados “heróis sem capa”. Pessoas que evitam que outros desperdicem seus cliques com postagens desinformativas revelando seu real conteúdo para todos. Normalmente, informações simples e muitas vezes pequenas.
A questão é que se pessoas que não leem já são ruins, o clickbait é ainda pior. Estou falando disso justamente agora, nesse momento, pois em pleno início de 2017 estamos tendo uma verdadeira infestação de clickbait por toda a internet, e muitas pessoas estão amplamente descontentes. O recurso é usado de forma exagerada e fantasiosa, desrespeitando a inteligência dos leitores. isso acaba tendo o efeito oposto: a postagem mais afasta leitores valiosos do que contribui para discussões saudáveis.
Então como sair desse círculo vicioso? Primeiramente, devemos ter em mente o seguinte: os leitores pensam por si próprios, e é com vocês, leitores, que queremos conversar e debater com nossas postagens, notícias e análises. A inteligência do leitor deve ser respeitada acima de tudo; você deve ser atraído até o site de uma forma honesta, para que receba uma informação mais completa possível e a digira com bem entender, sabendo que recebeu uma informação direta e honesta, que não te “engana” nem te guia por um labirinto até chegar em seu objetivo.
Mas ainda assim, porque muitas pessoas ainda caem no Clickbait? Se isso é algo tão ruim, porque isso ainda gera audiência? O problema da leitura superficial é real, e muitas vezes uma pessoa não tem tempo (ou empenho) para digerir por completo informações muito grandes, e acabam se valendo de pequenos resumos. Isso não é nenhum problema, nem todos têm tempo de se aprofundar em tudo que lhes interessa, mas ainda podem se informar o suficiente. Mas ainda existem pessoas que não passam dos títulos, talvez por não serem atraídos à leitura. E o que pode — e deve — atrair esse tipo de pessoa é conteúdo, não título. Para que se crie o interesse e o gosto pela leitura, até porque não só de textos gigantes se faz uma notícia não é?!
Nós da Arkade também somos leitores ávidos, e nós nos incomodamos muito com o clickbait. Nos esforçamos sempre para trazer a nossos leitores informações completas e diretas. Sem apelar para o clickbait, ou agindo de forma ineducada e “enganosa”. Acreditamos que não é assim que se atrai o leitor. Devemos respeitar a inteligência dos leitores, e não vai ser um título que se esquiva da verdade que vai atraí-lo, não é verdade!?
Talvez o parágrafo acima tenha soado meio presunçoso, como se fôssemos “exemplos”, mas não nos entenda mal: não estamos fazendo nada além do nosso trabalho, da melhor maneira possível. Não somos “heróis sem capa”, somos pessoas que consomem muito conteúdo da internet, que também caem em clickbaits vez ou outra, e sabemos o quanto isso é pentelho. Produzimos o conteúdo do site (e de nossas redes sociais) em um formato que achamos que é agradável para ler: simples, direto e sem rodeios.
Portanto leitor, exija respeito de nós — e por nós, eu me refiro à mídia como um todo. Você é nosso público, e é a sua interação que importa. Seja crítico com o conteúdo que consome na internet, decida o que é ou não de seu interesse e não se deixe seduzir por clickbaits sensacionalistas safados. Você tem o direito à informação verdadeira e completa. Não se contente apenas com títulos e, se ver páginas fazendo esse tipo de coisa, reclame. Pode ser que não dê em nada, mas quanto mais pressão o público colocar, mais a mídia terá que ceder.
Já imaginou como seria a internet sem clickbaits? Você provavelmente não imagina, mas o resultado iria te surpreend… deixa pra lá.