E o xCloud, qual é a dele? Testamos o serviço no Brasil
O próximo passo da Microsoft, em relação ao seu universo Xbox, é a nuvem. Após várias iniciativas, que buscam fazer streaming de games, como Google Stadia ou Nvidia Shield, o xCloud surge como forte candidato a dominar este setor, que dá seus primeiros passos.
A seu favor, há o ecossistema, que permite ofertar, logo de cara, franquias consagradas como Halo, Gears of Wars, ou Forza. Além disso, o que foi aprendido e adquirido com o Game Pass, como parcerias com estúdios de todo o mundo, além de aprendizado de comportamento de consumidor, também contam a favor.
Mas, observações de planejamento a parte, como funciona, de forma efetiva, o xCloud no Brasil? Testamos a nova plataforma, que ainda se encontra em caráter beta no Brasil, buscando compreender o que realmente é possível esperar deste novo serviço, focado nas necessidades e realidade da maioria dos brasileiros.
Vale deixar claro: o xCloud, de fato, foi lançado. Mas apenas em 22 países. O que temos no Brasil é o serviço beta, com limitações. E que ainda não foi incluído neste lançamento por ainda estar contando com dados a serem coletados. Quando o xCloud for lançado de fato no Brasil, faremos um novo teste.
Os testes principais foram feitos com um Lenovo Legion, smartphone gentilmente cedido pela Motorola do Brasil para testes, que também serviu para conhecermos da melhor forma possível, o xCloud.
Interface e funcionamento
A Interface é bem prática. Semelhante ao app de Xbox, os games disponíveis ficam acessíveis para serem escolhidos. As opções também são práticas, contando apenas com um feed, o gerenciamento da conta, e os games a serem escolhidos, que contam com opções como Forza Horizon 4, F1 2019, Resident Evil VII, Hitman e Gears 5, entre outros.
Tudo é bem simples: é só escolher o jogo e ativar a função jogar e pronto. Haverá apenas um aviso de que é necessário conectar o controle, ou a solicitação para ativar o controle de toque de tela, caso o game ofereça o suporte. O carregamento levou cerca de dez a trinta segundos, de acordo com o game em questão.
Uma vez o game conectado, as funções seguem simples: há três ícones acima: uma opção para ativar algumas funções, como o PiP, que permite jogar o game com uma pequena tela enquanto se usa outros aplicativos, o botão Xbox que, assim como nos consoles, mostra o painel, com amigos online e conquistas, e a opção de controles, para ajustar o game.
Tudo no xCloud transpira simplicidade. Escolher o game para jogar é uma tarefa extremamente simples, o painel é bem minimalista e a experiência de navegação agrada.
Desempenho e games disponíveis
O desempenho é algo bem variado, mas compartilhando minha experiência, acredito que possa ajudar pessoas que querem se aventurar neste ambiente. Antes de mais nada, vou compartilhar com você o que usei para realizar os testes:
- Smartphone: LeNovo Legion / Motorola MotoG60
- Internet: Fibra Ótica com velocidade registrada de 336 Mbps de download, 102 Mbps de upload e Ping de 2ms.
- Roteador: Intelbras Action Rg 1200
- Controle: Xbox Series S
Agora, vamos falar dos games. Todos os games abriram, mas alguns trouxeram desempenhos específicos. F1 2019, por exemplo, rodou de maneira extremamente lisa e macia. Nem parecia que estava sendo jogado por streaming. Gears 5, por outro lado, embora tenha apresentado uma experiência satisfatória, apresentou, vez ou outra, algum engasgo.
Vou deixar, abaixo, o desempenho de games que joguei:
Um elemento muito interessante para se compartilhar é a compatibilidade de controle na tela para alguns games. Gears 5, como já era de se esperar, apresenta um gameplay confuso, mas isso acontece por ser um jogo desenvolvido para controles, e mesmo assim, a resposta e possibilidades, incluindo a mira pelo giroscópio, são dignas de elogios.
Hellblade, por sua vez, parece que é um legítimo game de celular. Tudo funciona incrivelmente bem, e por ser um game de gameplay menos frenético, se compararmos ao Gears, ainda contou com opções de controles bem interessantes.
Um ponto a se considerar é o dispositivo para se usar. Testei, por exemplo, com a mesma Internet citada acima, o xCloud com um tablet antigo que tenho aqui, e uso só pra ver vídeos ocasionalmente. Como o Wi-Fi do aparelho é limitado, e mesmo acusando 30 Mbps nos testes, a experiência foi muito ruim. Então é importante ver qual aparelho você vai querer testar, quando disponível, antes de jogar.
Para quem serviria o xCloud? Destaco algumas utilidades do serviço. Jogadores que não podem ter um dispositivo como os atuais (e caros) consoles, poderiam assinar o serviço e, com as configurações adequadas, curtir bons games. Donos de consoles também podem contar com uma opção móvel, em caso de smartphones, para seguir determinados games em viagens.
E jogadores de Xbox Series X|S, que contam com espaços limitados (salvo quem já conta com ajuda de HD externo para jogos de gerações anteriores) podem curtir determinados games sem nem mantê-los instalados em seus consoles.
Mas a nuvem será a próxima revolução dos games? e o xCloud?
Na minha opinião, será, pelo menos neste começo, o próximo nicho, não a próxima revolução. Entendo que o mundo dos games, mais do que nunca, abriu um leque gigante. E aquela conversa de “fulano vai engolir ciclano”, tal como era nos anos 90 e nas competições dos “campeões de geração”, não cabem mais.
Só para citar alguns exemplos, temos hoje os games para smartphones, o nicho criado pela Nintendo com seu Switch, o nicho de quem quer games no extremo com o PC, o público de Playstation que gosta de seus exclusivos e os fãs de jogos, que podem ser de série ou de gênero. E os games em nuvem terão, com certeza, seu público-alvo.
O serviço da Microsoft, em comparação com outros projetos, tem algumas vantagens: conta com o know-how do Xbox, uma comunidade já pronta para usufruir dos serviços, seus jogos exclusivos, que contam com uma grande comunidade e fãs por todo o mundo, e o suporte da Azure, que permitiu que durante os testes, minha experiência fosse sempre acima do aceitável.
Com o passar dos anos, as velocidades de Internet estarão cada vez maiores, e os dispositivos terão maior compatibilidade. Mas ainda assim, ao contrário dos “profetas do fim”, que adoram fazer conteúdo sobre “será que tal coisa vai acabar?”, o mercado dos games pode sim mudar, mas não creio que a nuvem vá engolir os consoles.
Eles podem até diminuir a demanda, se tornarem em dispositivos com configurações ainda melhores, e mesclar serviços com a nuvem. Mas ainda teremos, por um bom tempo, jogadores dispostos a curtir os games em seus dispositivos, com o máximo possível de qualidade.
Enquanto isso, a nuvem poderá ser a porta de entrada para muita gente. Pessoas que não podem, ou não querem, contar com um dispositivo dedicado a jogos, ou um super computador, podem encontrar na nuvem a opção de gameplay que tanto procuram. E, de acordo com a demanda, podemos ainda ver, tanto em opções como em serviços, coisas boas chegando.
Hoje, ainda mais no Brasil, é complicado afirmarmos algo sobre gameplay em nuvem. Mas dá sim, baseado no que temos, nas possibilidades de custos, e de serviços, acreditarmos que a nuvem, e o xCloud, tem tudo para serem boas opções para a indústria dos videogames no futuro.