Análise Arkade: destruindo tudo com o imenso poder de Battlefield 4 (PC, PS3, PS4, X360, XOne)
Neste final de ano, Battlefield 4 surgiu para trazer todo o poder destrutivo de seu novo motor gráfico, Frostbite 3. Confira se o caos no campo de batalha realmente vale a pena em nossa análise do jogo!
Desde que a série Battlefield chegou ao mercado, a DICE sempre focou em imensas batalhas travadas na terra, no mar e nos ares em uma sinfonia de destruição e caos, além de oferecer um pouco de estratégia e, acima de tudo, muita diversão.
Battlefield começou ambientado na Segunda Guerra Mundial e foi evoluindo gradativamente para os tempos atuais, indo de submetralhadoras alemãs como a MP40 e as carabinas americanas M1 Garand para as metralhadoras M4A1 acopladas com inúmeros equipamentos, rifles de longo alcance que conseguem acertar um inimigo a mais de 1000 metros de distância, lançadores de mísseis teleguiados e veículos de artilharia para trazer suporte nas horas que nossos soldados em campo mais necessitam.
Porém, uma grande preocupação começou a aparecer para os fãs da série logo que Battlefield 4 foi anunciado, um terror imenso da franquia seguir os passos duvidosos de sua concorrente, Call of Duty, começando a receber jogos anuais e a eventual saturação se desenvolver a cada lançamento.
Afinal, há apenas dois anos Battlefield 3 era lançado para o PC e aos consoles da geração PS3 e Xbox 360, e pouco mais de um ano antes dele tivemos Bad Company 2 sob os holofotes. Para piorar tudo, sua distribuidora, a EA Games, estava em maus lençóis diante da opinião dos gamers, recebendo olhares de desconfiança por cada ação feita com suas maiores franquias.
Fãs podem suspeitar de Battlefield 4 e todas as suas tentativas de trazer algo novo para a franquia, e subsequentemente para o gênero FPS como um todo, mas eu posso dizer que a DICE conseguiu desenvolver todas estas novas mudanças e acertar em cheio, injetando vida nova em um gênero que está começando a entrar em uma precoce crise de meia idade.
Battlefield 4 foca em duas porcões, o modo campanha que leva o jogador em sete missões cheia de adrenalina e uma história supostamente complexa com um certo toque de drama em volta dos protagonistas, e o multiplayer massivo, onde até 64 jogadores em um único imenso mapa para causar todo tipo de desordem, destruição com diversas armas, veículos, equipamentos e até desastres naturais, sendo que na maioria das vezes também podem ser desencadeadas pelo próprio jogador.
Toda esta experiência vem casada com o novo motor gráfico Frostbite 3, que proporciona mais detalhes em texturas e suporta imensos eventos de pura destruição que praticamente mudam o campo de batalha por completo.
Mas primeiro vamos focar no modo Campanha de Battlefield 4. Com certeza não é o maior motivo deste jogo ser tão famoso, porém desta vez a história que a DICE queria contar recebeu um grande foco do departamento de marketing, querendo demonstrar uma história dramática em volta destes quatro protagonistas em um cenário de guerra envolvendo as grandes duas superpotências, China e Estados Unidos.
Infelizmente, tudo que a DICE conseguiu foi trazer – novamente – um modo campanha que parece mais um tutorial de como agir no multiplayer, ao invés de uma história envolvente.
A primeira missão do jogo começa muito bem e não demora muito para o jogador conseguir se familiarizar, sendo até possível ganhar uma certa simpatia com os personagens. Em momentos mais adiante os protagonistas vão sendo mais bem desenvolvidos e ganhando personalidade, porém todas elas podem ser consideradas clichês que já foram apresentadas em vários filmes e jogos que utilizam a guerra como cenário de fundo.
Temos o soldado de bom coração que coloca o bem-estar dos inocentes acima de suas ordens, o soldado mais consciente e que sempre ouve a voz da razão, um personagem misterioso que nunca sabemos se as intenções dele são verdadeiras, o agente com tendências rebeldes e revolucionárias; a lista continua para todos que são apresentados para o jogador.
Porém, talvez o pior problema seja o fato do jogador tomar o papel do protagonista silencioso, você simplesmente seguirá ordens e ouvirá o que os outros tem a dizer, mesmo sendo o líder do esquadrão.
A ideia de um protagonista silencioso consegue dar certo em alguns jogos. A ideia é para você, o jogador, para a trama em vez de ser um mero telespectador. Mas nos últimos anos este arquétipo vai desaparecendo cada vez mais para dar lugar a protagonistas que expressam suas opiniões a respeito de algum assunto. Esta mudança surge porque existe uma grande diversidade de jogadores, além do fato de ser mais prático no momento que os desenvolvedores criam uma história completa com as motivações do protagonista já definidas.
Em Battlefield 4, você parece mais um peão que somente se move e atira, enquanto vê todos os personagens reagindo aos eventos que ocorrem no jogo. O segundo motivo que traz esta sensação é o fato de você precisar se forçar a entrar na estória do jogo e sentir imersivo. Com certeza, ouvir todas as explosões e sons de tiros a sua volta enquanto você corre pela vida é algo emocionantes, mas não sobra nada quando a batalha termina e você precisar esperar os outros personagens completarem alguma ação para continuar o jogo.
Se você anda muito para frente seu esquadrão irá parar em alguma hora, se ficar muito para atrás eles simplesmente ficam te esperando. Sem falar dos momentos nos quais um inimigo está do lado deles e ninguém move sequer um dedo para fazer algo a respeito, deixando para o jogador atirar naquele soldado que está com seu nome marcado para matar.
Mas não devo apontar somente os erros da campanha, uma das coisas mais impressionantes é a dublagem feita no jogo, tanto na campanha quanto no multiplayer. Além de ser um português totalmente “abrasileirado”, utilizando gírias, palavrões e tornando tudo mais natural, a atuação feita pelos dubladores para estes personagens é excepcional, dando grande parte do mérito para os atores André Ramiro, o eterno Mathias de Tropa de Elite, e Dan Stulbach no elenco.
Nota-se que André, assim como todos os dubladores, se dedicaram de verdade ao trabalho. Capturando momentos verdadeiramente cinemáticos e memoráveis, seja uma perseguição em alta velocidade, fugindo do perigo iminente ou uma simples conversa entre dois personagens.
A campanha toma algumas horas para se completar, sendo possível terminar em poucos dias ou até em uma tarde se você estiver realmente disposto. Outra vantagem que a campanha traz é o fato de conseguir desbloquear algumas armas especiais para o multiplayer, fazendo que seja uma experiência que vale a pena jogar mesmo que muitas vezes ela acabe tropeçando em si mesma.
Mas chega de falar sobre a campanha e vamos para o prato principal, o multiplayer de Battlefield 4!
Assim como seu predecessor, Battlefield 4 foca em batalhas épicas envolvendo o maior número de jogadores para trazer momentos memoráveis e ele consegue fazer isso em todas as partidas.
Para começar, Battlefield 4 traz uma nova variedade armas, modificações, veículos abrangendo terra, ares e mar, além de novas formas de criar estratégias e o fator Levolution para adicionar um ponto caótico à receita completa.
Quatro classes podem ser utilizadas pelo jogador, além do modo Comandante. Temos a classe de Assalto focada em rifles e equipamentos médicos, como o kit de cura e o desfibrilador, o versátil Engenheiro para lidar com os combates mais fechados, além de destruir/reparar veículos de diversas formas, o Suporte que trabalha com metralhadoras pesadas e pacotes de munição, e por ultimo temos o Batedor, com armas de longo alcance e equipamentos exclusivos para dar um suporte ao marcar inimigos no campo de batalha graças a sua “visão além do alcance”.
E, por fim, temos o Comandante, que pode ser escolhido assim que se chega ao nível 10. Ele dá uma nova perspectiva ao jogador, com nuances de um jogo de estratégia em tempo real, onde ele poderá enviar suporte de veículos para os soldados que estão no chão, mandar misseis, suporte aéreo e ajudar a equipe de diferentes formas.
É um modo inventivo e uma adição muito bem vinda para trazer novas mudanças ao multiplayer, porém o Comandante consegue ser bem melhor quando a partida está com mais jogadores, já que a oportunidade de ajudar aumenta cada vez mais.
Um bom Comandante consegue adquirir uma grande quantidade de pontos, além de ser um suporte conveniente em momentos de aperto para quem está lá no campo de batalha. Battlefield 4 também coloca um modo telespectador para ver os demais jogadores tanto em primeira quanto em terceira pessoa, além de um mapa de testes feito para entrar e praticar todas as armas e veículos sem se preocupar com inimigos.
Este mapa de testes é uma das melhores adições já feitas na série, sendo que qualquer um, tanto o jogador quanto seus aliados, sabe a frustração de pilotar um helicóptero pela primeira vez no campo de batalha para simplesmente deixa-lo de cabeça para baixo nos primeiros dois minutos. E nem me deixe começar a falar sobre os aviões e seu impacto nos controles para os novatos.
Agora uma das épicas mecânicas adicionadas para Battlefield 4 toma o nome de Levolution, feito para mudar o funcionamento de um campo de batalha em questão de minutos. Em certos mapas o Levolution irá criar novos caminhos, em outros, ele fechará por completo para trazer novos desafios e aberturas diferentes que podem ser utilizadas contra e a favor do jogador.
Todos os dez mapas jogáveis na versão normal de Battlefield 4 têm seu próprio momento de Levolution. Em Lancang Dam o jogador pode destruir uma represa situada e criar uma batalha naval na parte inundada; em Siege of Shangai, o imenso arranha-céu no meio do mapa pode deixar de existir e cercar o ponto de controle por escombros; e em Paracel Storm temos um dos momentos mais impressionantes graças ao Frostbite 3, quando uma tormenta chega às lhas de uma forma tão agressiva que o trabalho de Batedor se torna impossível, e para piorar tudo, um gigantesco navio Destroyer acaba invadindo e desmoronando tudo no ponto central do mapa.
É extremamente divertido e impressionante como Levolution pode funcionar tanto para te ajudar como te prejudicar, além de criar alguns momentos memoráveis nos mapas onde é melhor implementado.
Na verdade, memorável é uma boa palavra para demonstrar como Battlefield 4 funciona: praticamente todas as classes disponíveis conseguem ter seus pequenos e grandes momentos durante a batalha, seja um Batedor acertando seu tiro bem na testa do inimigo a milhares de metros de distância ao conseguir calcular uma trajetória perfeita e medindo todos os obstáculos que ele pode encontrar, um Engenheiro conseguindo desativar um tanque que estava acabando com seu time em um dos pontos de controle, o soldado com a classe de Assalto correndo em meio à destruição e caos somente para salvar seu amigo com o kit médico ou trazê-lo de volta a vida, e até o Suporte conseguindo acabar com vários inimigos de uma vez graças a sua metralhadora.
Além disso, os melhores momentos também podem ocorrer dentro de um veículo, seja com um rápido jet ski cortando as ondas mais fortes para se esquivar de uma metralhadora estacionaria, uma perigosa batalha de jatos onde somente um sairá vitorioso, a satisfação em pilotar um helicóptero com o esquadrão inteiro comandando as armas mais pesadas para distribuir morte e destruição pelos céus e claro, não podemos esquecer do poder de destruição que um tanque consegue fazer em um soldado, prédio ou veiculo inimigo.
Todos estes momentos formam o que Battlefield 4 realmente é, uma sinfonia quase perfeita de destruição, caos, estratégia e diversão.
O único problema é o ato da partida começar, sendo extremamente difícil no momento entrar em servidores sem que ocorra algum tipo de problema envolvendo o jogo, o servidor ou a bizarra combinação de sistemas como o Origin e o Battlelog.
Infelizmente Battlefield 4 traz um dos maiores empecilhos já feitos na série inteira, o fato de funcionar tão poucas vezes ao ponto de ser quase impossível ver uma partida realmente chegando ao fim antes de algum problema acabe com a felicidade dos jogadores.
A DICE está com um grande problema relacionado a servidores em suas mãos, tanto para a versão do PC, dos consoles da antiga geração e dos recém chegados PS4 e Xbox One; todas versões estão experienciando problemas em seu lançamento, criando grandes frustrações para todos os fãs que querem simplesmente usufruir de seu produto.
É realmente inaceitável a forma com que seu lançamento está repleto de problemas, especialmente em um jogo onde seu foco é o multiplayer competitivo. Eu não consigo contar todas as vezes que fui desconectado no meio de uma ótima partida e perdi todos os pontos de experiência que havia arrecadado.
Pelo menos a própria DICE está fazendo de tudo para consertar os problemas, mas infelizmente é um alarmante ponto negativo que Battlefield 4 recebe, tirando o que era quase perfeito.
No fim Battlefield 4 consegue satisfazer fãs antigos e trazer novos jogadores a cada minuto, graças ao seu multiplayer extremamente divertido e uma campanha mediana apresentada para nós.
O que poderia ser um dos melhores jogos de tiro deste ano acaba sendo uma decepção pelos incessantes problemas técnicos com servidores e pela funcionalidade instável do multiplayer, até que consigam consertar todos estes “bugs”.
Quando funciona, Battlefield 4 consegue ser divertido, desafiador, inteligente e oferecer momentos de cair o queixo graças aos seus visuais, sua maestria ao criar um campo de batalha e o poder para criar momentos realmente memoráveis em cada partida.