Análise Arkade: NeoGeo Pocket Color Selection Vol. 1, o legado de bolso da SNK
A família NeoGeo nunca fez muito sucesso aqui no Brasil. Nos fliperamas, o hardware até marcou presença — por conta dos ótimos fighting games da SNK — mas nos consoles domésticos a marca nunca vingou por aqui.
Também, pudera: o NeoGeo nasceu na mesma época em que Mega Drive e Super Nintendo dominavam o mercado. Era uma briga desleal. Eu nunca joguei um NeoGeo. Na verdade, acho que nunca nem vi um pessoalmente.
A sina do NeoGeo também vale para os portáteis: enquanto o NeoGeo Pocket e o Pocket Color lutavam por um lugar ao sol, a popularidade esmagadora do GameBoy — e até daqueles portáteis safados estilo “999 em 1” — não dava chance para a concorrência. Também nunca mexi num NeoGeo Pocket Color.
Por conta disso, sinto que perdi uma “fatia” considerável da história dos videogames. Felizmente, a SNK anda relançando parte da biblioteca de seu portátil no Nintendo Switch, de modo que eu estou conseguindo “tirar o atraso” de alguns games que marcaram época no ilustre desconhecido que é o NeoGeo Pocket Color.
Depois de lançar alguns jogos avulsos — como Samurai Shodown e Gals’ Fighters –, a empresa agora aposta em uma coletânea, que traz nada menos do que 10 jogos, lançados originalmente entre o final da década de 90 e o início dos anos 2000.
Ênfase na Pancadaria
Quem conhece a história da SNK sabe que a produtora fez o seu nome com jogos de luta. Fatal Fury, The King of Fighters e Samurai Shodown são apenas 3 exemplos do impressionante acervo de fighting games criados por ela.
Boa parte desses jogos receberam ports para o NeoGeo Pocket Color. Não por acaso, dos 10 jogos presentes nesta NeoGeo Pocket Color Selection Vol. 1, seis são de luta.
A lista completa de títulos é a seguinte:
- SNK GALS’ FIGHTERS
- SAMURAI SHODOWN 2
- KING OF FIGHTERS R-2
- THE LAST BLADE: Beyond the Destiny
- FATAL FURY FIRST CONTACT
- SNK VS. CAPCOM: THE MATCH OF THE MILLENNIUM
- METAL SLUG 1ST MISSION
- METAL SLUG 2ND MISSION
- DARK ARMS: Beast Buster 1999
- BIG TOURNAMENT GOLF
Como você pode ver, alguns dos maiores clássicos da empresa estão presentes aqui… Em versões Pocket, ou seja, simplificadas, mas com mecânicas surpreendentemente responsivas e um abordagem visual meio Chibi que é sem dúvida bastante simpática.
A escassez de botões do NeoGeo Pocket Color exigia que concessões fossem feitas, mas no geral os programadores conseguiram manter o feeling dos jogos. Em Samurai Shodown, por exemplo, temos basicamente um botão de espada, outro de chute, mas os comandos de magias e golpes especiais seguem o princípio básico “meia luta + golpe” típico de suas contrapartes mais maduras.
Isso vale para todos os jogos de luta do pacote que, no geral, parecem “demakes” dos títulos que estavam bombando nos fliperamas. É legal que SNK vs. Capcom esteja presente aqui: crossovers são uma parte importante dos fighting games, e simbolizam algumas parcerias bem inusitadas entre desenvolvedoras.
RPG & Esporte
Big Tournament Golf, obviamente, é um jogo do esporte homônimo. Confesso que não achei ele nada de mais. O jogo é demasiado simples mesmo para os padrões da plataforma. Mas, eu não sou um grande apreciador de golf (nem de jogos de esporte em geral), então acredito que o título seja mais atrativo para outras pessoas.
Dark Arms, jogo do qual eu nunca tinha ouvido falar, é um RPG de ação com visão de cima, que lembra bastante os primórdios da série Zelda. Com movimentação livre, dungeons para explorar e monstros para matar, ele mostra um lado talvez pouco conhecido da SNK — um lado bastante promissor, eu diria.
Nos últimos anos, vimos a SNK se reerguer e reinventar algumas de suas maiores franquias. Eu realmente gostaria de ver a empresa saindo da zona de conforto e fazendo alguma coisa nova com Dark Arms. Curiosamente, descobri que o jogo é na verdade um spin off de um shooter on rails da empresa (Beast Busters), daqueles on rails com sensor de mira na tela, no estilo Virtua Cop e House of the Dead.
Metal Slug diferenciado
Agora, o que me surpreendeu mesmo, foram os dois Metal Slug que temos aqui. Eu joguei muito Metal Slug nos fliperamas e, posteriormente, nos consoles. Achava que os jogos sempre seguiam a mesma fórmula: tiroteios acelerados, chefes gigantes e um alto nível de desafio.
Na verdade, tudo isso está presente nesses jogos exclusivos do NeoGeo Pocket Color… porém, eles têm uma cadência muito própria, que é diferente de qualquer outro jogo da série que eu já joguei na vida.
Menos frenéticos, eles prezam mais pela exploração: é possível, por exemplo, entrar em determinados prédios. Além disso, os veículos são muito mais presentes aqui, e há fases “esquisitas” onde nosso objetivo é, basicamente, abrir o paraquedas na hora certa para não morrer. A progressão das fases também não faz muito sentido: jogamos a fase 1, depois a 7, em seguida a 3, e então a 4. Vai entender.
Os Metal Slug de NeoGeo Pocket Color fogem um bocado da fórmula que a gente já conhece. Não acho que são melhores, nem piores: são diferentes. É interessante ver esta abordagem menos frenética e mais cadenciada que eles entregam. E, como nunca foram lançados “avulsos”, essa coletânea talvez seja nossa única chance de jogá-los (legalmente), o que sem dúvida é um atrativo para os fãs.
O legado de bolso da SNK
Como alguém que nunca teve acesso a esses jogos em sua plataforma original, acho ótimo esse esforço da SNK em revirar seu baú e trazer esses clássicos portáteis “desconhecidos” para uma plataforma atual.
Não é de maneira nenhuma algo imperdível, especialmente porque os jogos são bastante simples e, em alguns casos, e qualidade deixam bastante a desejar: no Metal Slug 2 o jogo chega a dar uma travadinha sempre que o narrador anuncia (em uma qualidade de áudio péssima), que pegamos uma arma nova.
Não houve um trabalho de atualizar o conteúdo para 2021: as limitações da plataforma original continuam presentes, ou seja, o áudio é bem ruim e os jogos mal ocupam 1/3 da telinha do Switch (que já é pequena). Salvo pelos manuais digitai, pelas caixinhas 3D dos jogos e por umas skins diferentes para usar de moldura, não há grandes adendos aqui, nada que documente o legado desses jogos.
Acho que o tratamento dado ao conjunto da obra merecia um pouco mais de carinho. Algo como a Blizzard Arcade Collection que foi lançada recentemente. Mas, nmão espere nada além do básico: são os mesmos jogos de 20 anos atrás, rodando como rodavam há 20 anos, agrupados em um pacote nostálgico, que traz de “moderno” apenas recursos típicos de emuladores, como save state e rewind.
Contudo, essa simplicidade não tira o valor dessa coletânea, muito menos sua importância histórica. Se você é fã da SNK, e quer, como eu, preencher a lacuna que o NeoGeo deixou no seu “currículo gamer”, o que temos aqui sem dúvida vai te interessar. E o melhor: como esse é o Volume 1, fico ansioso para saber que outros clássicos desconhecidos poderei descobrir em um provável Volume 2. 🙂
A NeoGeo Pocket Color Selection Vol. 1 está disponível para Nintendo Switch.