O dia em que a EA organizou um “protesto” contra o seu próprio game, o Dante’s Inferno
Dante’s Inferno foi mais um exemplo de como a indústria dos games funciona, quando estúdios observam jogos de sucesso e criam suas próprias versões destes games. Aconteceu com GTA, aconteceu com Guitar Hero e, também, com God of War. Inspirados na saga de Kratos, este game trocou a mitologia grega pelo “Inferno de Dante”, mas mantendo a mesma essência de gameplay.
O game agradou na época, contando com versões para PlayStation 3, PSP e Xbox 360 (onde é retrocompatível e pode ser jogado nos consoles atuais). Trata-se de uma boa opção do gênero e nos Xbox mais atuais, fica ainda melhor, graças as melhorias que os consoles aplicam em jogos clássicos.
Mas não vamos falar do jogo em si hoje. E sim da sua “brilhante” campanha de marketing, realizada durante a E3 2009.
Vamos lembrar que, em 2009, antes de pandemia, directs e tudo o que faz a E3 ficar em xeque todo ano atualmente, o evento era o “Natal” do videogame. Muita, mas muita expectativa era gerada pelos anúncios e novidades do jogo, além de grande presença de público, de todos os cantos do mundo. Logo, era natural que estúdios buscassem chamar atenção do público presente no Los Angeles Convention Center.
E alguém da EA, sabe-se lá por qual causa, motivo, razão ou circunstância, achou que era uma boa ideia explorar a “blasfêmia” como forma de divulgar o seu game para os visitantes. Na Comic-Con, que aconteceu em julho daquele ano, a companhia trouxe o inacreditável concurso “Sin to Win”, tradução para “Peque para Ganhar”, onde era encorajado que os interessados cometessem o “pecado da luxúria” com as booth babes do evento, aquelas garotas uniformizadas que ficam próximas aos estandes, atendendo o público e tirando fotos.
O “concurso” que valia um jantar grátis com tudo pago, com direito a muita “luxúria”. Mas esqueceram de um detalhe: se a ideia do “concurso”, de acordo com a EA, era só a de “fazer os visitantes tirarem fotos com as mulheres”, na verdade toda a ideia da campanha acabou fazendo com que muitas situações desagradáveis acontecessem dentro do evento, gerando muita irritação por parte de muita gente, o que rendeu um pedido de desculpas por parte da EA.
Mas na E3, a ideia foi diferente. Pois, ao invés de incentivar o “jogador a pecar”, eles acabaram fazendo “o oposto”: pagaram 20 pessoas para irem na “porta da E3” protestar contra o seu próprio jogo. Dante’s Inferno, que tem Inferno no nome, é um jogo o qual o personagem vai direto nas profundezas do lugar de “pranto e ranger de dentes”, cujo projeto foi inspirado na Divina Comédia de Dante Alighieri.
E também sabemos que nos EUA há um grupo de pessoas extremamente conservadoras, que vivem questionando os games, dizendo que eles “estimulam a violência”, “que fazem os jovens adorarem o Satanás”, entre outras acusações. E a EA resolveu fazer o que nenhum destes grupos conservadores teve interesse de fazer: foi lá e protestou contra o seu próprio game.
A ideia é óbvia: “falar mal para falarem de mim”. Um plano que a Rockstar já havia feito de maneira brilhante, nos tempos do primeiro GTA. Mas ao invés de contratar um Relações Públicas para falar mal de seu próprio jogo, a EA pagou pessoas para segurarem placas com frases como “Apenas diga Infer-NO”, dizendo às pessoas a falarem “não” para o game, ou “Troque seu PlayStation por um PrayStation”, fazendo um trocadilho com a palavra “pray”, que significa oração em inglês.
Teve quem acreditou no protesto, achando que era mais um grupo religioso e conservador que defendia “a moral e os bons costumes”, protestando contra aquilo que era considerado “uma blasfêmia”. Eles chegaram até a entregar panfletos.
Mas a EA confessou, ainda na própria E3, que tudo aquilo não passava de “pegadinha”. A empresa contou com uma agência de marketing de guerrilha, cuja tarefa era chamar atenção para o game, mesmo que de “forma negativa”. Como “falar mal” alavanca o assunto e funciona de forma oposta, não hesitaram em colocar o plano em prática.
Mas, no final, os religiosos acabaram ficando revoltados com a EA. Mas não por causa do jogo, e sim por causa do protesto falso. Acontece que grupos religiosos não gostaram muito da ideia de serem representados por atores, e foram criticados por grupos como o Inside Catholic, cuja representante disse que “cristãos também jogam videogame”, e que nem todos são puritanos, alegando que nem todos “perseguem” jogos como estes, e que alguns inclusive jogariam tal jogo.
No fim, o jogo foi lançado e foi motivo de outra polêmica, essa sim motivada por uma associação: foi por causa do troféu/conquista Bad Nanny, onde era preciso matar 20 almas de bebês “não batizados”. A Associação Internacional das Babás (INA) protestou contra o game, porém o jogo foi lançado com a conquista intacta, e pode ser adquirida até hoje.