Análise Arkade: Silent Hill 2 Remake é uma carta de amor ao clássico
Quando foi anunciado, o remake de Silent Hill 2 levantou muitas preocupações graças a seus trailers iniciais e ao envolvimento da Bloober Team, de Layers of Fear e The Medium. Mas devagar, o estúdio foi conquistando a confiança dos jogadores e no fim entregou um game que é uma verdadeira homenagem a um dos clássicos absolutos dos Survival Horrors!
Então, chegou a hora de explorar a névoa incessante e o terrível Outro Mundo para enfrentar os mais terríveis traumas concebíveis… e conferir nossa análise completa do remake!
“Nos meus sonhos agitados, eu vejo aquela cidade. Silent Hill”
Quando a Bloober Team foi anunciada como a desenvolvedora do remake de Silent Hill 2, muitos jogadores ficaram preocupados com duas coisas: A primeira era se a qualidade do game seria alta, em se tratando de gameplay e funcionamento geral. E a segunda preocupação era se o remake respeitaria o original. Isso após circularem rumores de que o remake diminuiria o terror e a dificuldade dos inimigos, e apresentaria uma história diferente para o icônico Pyramid Head.
Demorou bastante para a Bloober Team conquistar a confiança dos jogadores, especialmente pelo fato de que os trailer para o remake eram lançados de forma muito esparsa. Mas enfim o game foi lançado, e os medos dos jogadores não se concretizaram, com essa nova versão de Silent Hill 2 sendo uma verdadeira carta de amor aos jogadores, mantendo tudo o que fez o original a lenda que é hoje, adicionando algumas mudanças bem vindas e muitas referências ao game original.
Silent Hill 2 acompanha James Sunderland, um homem que após perder a esposa misteriosamente recebe uma carta escrita pela mesma, que diz que ela o está esperando no “lugar especial” deles, em algum lugar da cidade de Silent Hill. Mesmo sabendo que sua esposa não está mais vida, James viaja até a cidade com uma vã esperança de, talvez, encontrar sua esposa.
E não demora muito até que ele se depare com os horrores escondidos na névoa incessante da cidade, com suas ruas ruas destruídas e bloqueadas, estranhos puzzles em locais inesperados e as horrendas criaturas que habitam a cidade e anunciam sua proximidade com o som de estática de rádio.
Eu nunca joguei o game original. Dessa forma, não consigo fazer uma comparação aprofundada das diferenças presentes no remake, mas conheço o suficiente do game para reconhecer os elementos que foram mantidos. A história manteve-se a mesma, com os mesmos personagens e diálogos. Aqui encontramos Maria, uma mulher estranhamente idêntica à esposa falecida de James, Mary, provocando-o a todo momento. Eddie, com seu jeito distraído e perturbador, quase ignorando os terrores a sua volta. Angela, com seus terríveis traumas entrelaçando-se com os próprios horrores de James, e é claro a pequena Laura, que anda por Silent Hill sem qualquer preocupação e deixando James cada vez mais desconfortável por suas falas em relação a Mary.
Diferenças em relação ao original
Silent Hill 2 Remake possui várias diferenças com o original, a começar por sua câmera, não mais numa perspectiva fixa posicionada acima de James, mas sim no estilo câmera de ombro de Resident Evil 4, o que é ao mesmo tempo uma inovação muito boa, mas que apresenta seus problemas, que falarei mais adiante.
O mapa de Silent Hill permanece em sua maior parte inalterado, mas o remake apresenta algumas diferenças significativas em sua trajetória. Por exemplo, o game original apresentava um túnel escuro que o jogador entrava logo no início do game. No remake, este túnel permanece lá, mas está bloqueado, com o jogador tendo que usar outro caminho para chegar até as ruas da cidade.
Esse é um dos exemplos de locais do mapa que não mais servem suas funções originais. Mas algo bem legal é que você pode encontrar esses lugares enquanto joga. E ao interagir com eles uma pequena cena com estática de televisão ocorre. Esses lugares agora são easter eggs, que com certeza vão tirar sorrisos dos rostos dos fãs do original.
As áreas internas foram completamente remodeladas. Um exemplo é o Hospital Brookhaven, que está bem maior, com mais corredores e principalmente com muitos pontos para os monstros pegarem o jogador de surpresa. Em remakes, especialmente de games de terror, algo que eu, pessoalmente, gosto de ver é o mapa mantendo a mesma forma do game original, mas adicionando locais extras para adicionar um novo senso de descobrimento aos jogadores. O exemplo perfeito disso é o remake do primeiro Resident Evil, que expande a Mansão Spencer de uma forma incrível.
Silent Hill 2 Remake, ainda que mudando drasticamente os mapas de áreas internas, consegue resgatar essa sensação, pois não se trata, por exemplo, do que a Capcom fez coma torre do relógio no remake de Resident Evil 3, mas sim o que ela fez com a delegacia de polícia. É o mesmo lugar. Muitas salas continuam como eram antes, mas tudo está diferente, fazendo o jogador redescobrir locais que conhecia como a palma da mão.
E, é claro, há algumas diferenças em cutscenes, com diálogos ligeiramente diferentes, cenas novas e algumas cenas menores que foram cortadas. Sem entrar em spoilers, mas a cena da pista de boliche agora tornou-se um Easter Egg bem legal. Mas, mesmo com cortes de algumas cenas, o clima de tensão e a progressão da história não foi afetada, levando o jogador passo a passo pela loucura e horror da cidade e do Outro Mundo, até suas terríveis revelações finais.
Falando em finais, todos os finais originais estão aqui, e agora é mais fácil entender o que fazer para pegar cada um desses finais. Obviamente o game não oferece nenhum guia, mas ficou bem mais fácil saber o que exatamente o jogador deve fazer ao pesquisar na internet. Temos aqui os quatro finais originais mais o final Dog e o final UFO, além de dois novos finais criados pela Bloober Team! Ao todo, Silent Hill 2 Remake tem oito finais diferentes, além de um modo New Game+, estendendo e muito seu fator replay!
Há ainda a adição de um novo tipo de colecionável, na forma de estranhas fotos polaroid escondidas por todo o mapa. Essas fotos juntas escodem um segredo, que é ao mesmo tempo um easter egg, como alguma dica de que talvez a Bloober Team ainda tenha mais coisas a lançar para esse remake!
Entrando em um gameplay moderno
Como já mencionado, Silent Hill 2 Remake utiliza um gameplay semelhante ao dos games recentes de Resident Evil, com câmera de ombro seguindo James. Esse estilo de controle já é familiar para praticamente qualquer jogador hoje em dia, não oferecendo qualquer dificuldade de aprendizado.
O game segue o estilo de shooters atuais, um botão para mirar, outro para atirar e a possibilidade de andar e mirar ao mesmo tempo. O cano de ferro continua presente, sendo, sem dúvidas, a arma mais confiável de todas, bastando apertar o botão de atirar sem usar a mira para atacar.
Uma grande diferença é que agora há um botão de esquiva, que é extremamente útil. Basta apertar um botão e James irá desviar para qualquer direção que o jogador apontar. Com isso, você não precisa mais correr ao redor de um inimigo para evitar dano, principalmente pela perspectiva da câmera não lhe oferecer uma visão ampla dos seus arredores.
Essa é talvez a grande controvérsia do estilo de gameplay e câmera modernos. Você não tem um ponto de visão que te mostra tudo o que está ao seu redor. Para contornar isso, há um botão de quick turn, que permite que James gire em 180º de forma bem rápida e olhe para o que está atrás dele. Por outro lado, apesar da câmera torna mais difícil ver o que está atrás de você, ela torna os combates mais precisos.
Você pode mirar em qualquer parte dos monstros, por exemplo atirar em suas pernas para derrubá-los, ou mirar na cabeça (se o inimigo tiver uma cabeça) para causar dano crítico. Além disso, você pode emendar ataques com esquiva, e deverá fazer isso sempre que necessário, pois os monstros não vão simplesmente ficar apanhando ou levando tiros sem reagir, eles também se esquivam e tentam pegar James quando ele está desprevenido.
Um ponto negativo desse formato de câmera é ao entrar em locais apertados, como apartamentos. Muitas vezes a câmera fica espremida entre James e as paredes, e as vezes James acaba ficando preso em elementos dos cenários, exigindo que o jogado consiga posicionar a câmera para ver o que está prendendo-o e forçar movimentos para se soltar, o que é um ponto bem negativo, pois acontece em vários momentos do game, especialmente em bordas de buracos ou precipícios.
Por outro lado, se você assistir vídeos de gameplay da versão original de Silent Hill 2, verá que ao dobrar corredores ou tentar girar a câmera em locais apertados as coisas também eram difíceis. Assim, o novo sistema de câmera e gameplay deixa tudo muito mais fácil de se controlar, apesar de ainda sofrer com travadas ocasionais.
Terror Psicológico de primeira qualidade
E quanto ao terror, o remake se sai bem? Felizmente, sim! Silent Hill 2 Remake, como já dito, mantém a história original sem alterações. Então todo o terror psicológico envolvendo os personagens segue presente, em especial a história de James e os traumas de Angela. Com o game abordando temas pesados de forma bastante poderosa.
E então temos a balança entre o terror atmosférico e os Jumpscares. A atmosfera de Silent Hill 2 é incrivelmente pesada. Com nenhum lugar transmitindo sensação de segurança, com exceção, é claro, das Save Rooms, com seus icônicos quadrados vermelhos. E há muitos jumpscares pela cidade, causados principalmente pelos Manequins, que adoram pegar o jogador de surpresa. Essa combinação de atmosfera incrivelmente opressora e vários sustos deixa toda a experiência excelente!
A parte audiovisual do game contribui muito para construir o seu terror. A cidade de Silent Hill está incrivelmente detalhada, desde ranhuras no asfalto, a umidade geral da cidade, a onipresente ferrugem e decadência e, é claro, a neblina. Enquanto nos primeiros games da série a neblina era, além de um recurso estético, uma forma de limitar a visão do jogador de forma a preservar recursos de hardware, no remake a neblina existe como um “personagem” em si, continuando densa e movendo-se ao redor do jogador e da cidade, escondendo seus terríveis monstros.
E quando enfim visitamos o Outro Mundo, a versão infernal da cidade, tudo fica 100 vezes pior, com os cenários exibindo diversos sinais decadência dos mais variados tipos, com ferrugem em todo lugar, manchas de podridão em objetos, sangue por todo o lado e grades de ferro enferrujadas nas paredes, chão ou teto. Explorar a cidade em sua versão envolta em névoa já é ruim, mas em sua versão escura tudo é incrivelmente pior.
Os monstros estão incrivelmente realistas e grotescos. Assim como no game original, a variação de inimigos é pequena: Temos as Lying Figures, monstros sem braços que vomitam ácido; os Manequins, monstros formados apenas por pernas que são excelentes para causar jumpscares; os insetos, que não oferecem perigo real, mas adoram causar som de estática; as icônicas enfermeiras, recriações exatas do game original; todos os outros monstros que aparecem somente nas partes finais do game, incluindo seus chefões; e por fim, o todo poderoso Pyramid Head.
Todos esses monstros estão excelentes. Eles se movem de forma cambaleante e muito realista, arrastam-se no chão deixando traços de sangue, e perseguem o jogador de forma implacável, podendo até mesmo atravessar portas para caçá-lo. Já o Pyramid Head agora possui uma presença mais “cinematográfica”. Ele ainda aparece nos mesmos momentos em que aparecia no game original, mas esses momentos agora são um pouco mais “scriptados”, em cenas de intenso terror e urgência.
As animações dos personagens em sua maioria são excelentes, principalmente em suas expressões faciais em diálogos, conseguindo transmitir com muita veracidade os sentimentos que estão sentindo. Todos os personagens são modelados de forma excelente, e as atuações de seus atores é simplesmente magnífica.
E, nada disso funcionaria de forma adequada se o departamento sonoro não fosse extremamente competente. Para aumentar o terror do game, diversos áudios acabam tocando em momentos aleatórios, sempre deixando o jogador tenso com a possibilidade de algo estar próximo. Sons de passos, sons de gritos. Um terrível som de respiração que vai ficando cada vez mais alto. Além de diferentes trechos de música que começam baixo e vão progressivamente ficando mais e mais fortes até estourarem num som alto e se encerrarem repentinamente. Tudo isso é usado para o jogador nunca sentir-se seguro.
A estática do rádio, elemento reaproveitado do primeiro game da série, que indica quando há monstros próximos, é usado com maestria aqui. Para essa análise, joguei o remake no Playstation 5, e os sons de estática saíam diretamente do controle Dual Sense, o que causava uma imersão incrível, e gerava em mim um nível de tensão que adoro sentir ao jogar games de terror.
E por fim, a trilha sonora segue magnífica. As músicas originais do game foram rearranjadas, com novas gravações que ficaram muito belas. A única música que sofreu alterações drásticas foi a música preferida do mundo todo, a “Theme of Laura”, que tornou-se mais melancólica e bela. Bem diferente do original, mas ainda sendo a mesma música.
É preciso, no entanto, apontar alguns problemas visuais que o game tem. Apesar de ser um game incrivelmente belo e bem feito, Silent Hill 2 Remake possui alguns glitches visuais aparentes. O game sofre para gerar reflexos, principalmente em poças de água no chão. Isso fica bem evidente na cutscene de abertura, com James saindo do banheiro na estrada, com as poças de água no chão com erros de textura.
Vez ou outra também ocorreram, pelo menos enquanto jogava, alguns flashes brancos de elementos do cenário desaparecendo e reaparecendo em uma fração de segundo. Esses glitches são mínimos, mas ocorreram uma quantidade de vezes suficiente para que fossem percebidos enquanto eu jogava.
Fora isso, o remake de SIlent Hill 2 é uma verdadeira obra de arte, criada com imenso cuidado, dedicação e, principalmente, respeito e admiração pela obra original.
Ah, e o game possui localização em português brasileiro em seus menus e e legendas! Com exceção de alguns textos de documentos encontrados nos cenários, cuja tradução acabou sendo feita de forma um pouco literal, alterando o significado correto do texto em inglês, o trabalho de localização num geral é excelente!
Conclusão
Eu nunca joguei a versão original de Silent Hill 2. Mas jogar esse remake me fez ter muita vontade de jogá-la. É estranho eu sentir nostalgia por algo que não experienciei no passado, mas esse remake me transmite essa sensação com imensa força. Meu contato com Silent Hill foi apenas com o primeiro game, jogando até a parte da escola, e com poucos minutos de The Room, jogando numa lan house. Assim, o básico de Silent Hill eu conheço, e esse remake me fez querer viver e experimentar tudo isso que deixei de lado em minha adolescência.
O medo de que o remake não seria muito bom por ter sido produzido pela Bloober Team, ainda que inicialmente válidos, dado o primeiro trailer do game e as informações divulgadas, no fim acabou se tornando em verdadeira admiração pelo estúdio, que recriou um clássico de forma excelente.
Se você é como eu, alguém que nunca jogou o game original, ou que nunca teve qualquer contato com a série, essa é a porta de entrada perfeita para isso. Silent Hill está linda, está horrorosa, e está tão assustadora quanto sempre foi. E assim como a cidade atraiu James na história do game, vale muito a pena deixar que a cidade o atraia para lá também. Com toda a certeza sua experiência ao jogar será marcante, possivelmente traumática, e assustadoramente inesquecível. E pra ser sincero, é isso o que eu quero quando jogo um game de terror. Eu quero sentir o desconforto e ter pesadelos a noite depois de jogar. Silent Hill 2 Remake só não me causou pesadelos, o resto, isso o game entregou.
Silent Hill 2 Remake foi lançado no dia 8 de outubro com versões para PC e Playstation 5.
E um grande agradecimento a nossos parceiros da Nuuvem que nos cederam uma cópia do game para fazermos esta análise!
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