Análise Arkade: manipulando o tempo em Quantum Break
Hora de manipular o tempo e se meter em tiroteios frenéticos e grandes conspirações: é nossa análise de Quantum Break que está no ar — antes do lançamento — para você saber tudo sobre este ambicioso game!
A história é uma viagem (no tempo)
Quantum Break é um jogo bem contemporâneo. Sua história começa em 2016, na cidade de Riverport. O protagonista do game é Jack Joyce, sujeito que estava viajando pelo mundo até ser procurado por um velho amigo, Paul Serene, que dizia precisar muito da ajuda dele.
Empresário de sucesso, Paul é o cabeça de uma mega corporação de tecnologia chamada Monarch Solutions. Ele trabalhou por muito tempo com o irmão de Jack, Will, um cientista genial que fez descobertas revolucionárias na área da física quântica. Porém, Will é tão estranho e temperamental quanto inteligente, e depois de alguns desentendimentos, ele se afastou de seus experimentos.
Paul não fez o mesmo, e não demora para Jack descobrir que o convite de seu velho amigo envolve seu maior projeto: uma máquina do tempo. Paul não pode operar a máquina sozinho, e é por isso que precisa de alguém que seja de confiança para lhe ajudar (sim, o Jack). Infelizmente, a primeira experiência com a máquina do tempo dá muito errado, o que gera falhas e rupturas no próprio tempo que podem ter consequências catastróficas para o universo.
Quem estava por perto acaba “infectado” pelo Cronum — elemento-chave para o funcionamento da máquina — e com isso, adquire “superpoderes” baseados em tempo e manipulação temporal. Porém, Jack e Paul têm perspectivas diferentes de como estes poderes devem ser usados, e isso é o estopim de uma treta que vai envolver muitas viagens no tempo, conspirações, tiroteios, decisões difíceis e muita ação.
Manipulando o tempo
Quantum Break é um shooter de ação em terceira pessoa bem tradicional. Você usa o gatilho esquerdo para mirar e o direito para atirar e, sempre que está em uma situação de combate, Jack assume automaticamente um postura agachada, para que você possa buscar cobertura atrás de móveis, muretas e outros elementos do cenário.
Há pouca variedade de armas no game, e quase todas são basicamente variações de pistolas, submetralhadoras e escopetas. Porém, é nos poderes de Jack que o gameplay brilha: você pode desacelerar o tempo, criar barreiras capazes de reter tiros, executar corridas e esquivas em velocidade sobre-humana, criar barreiras de vácuo que retém projéteis por um tempinho e então disparam todos ao mesmo tempo, lançar explosões temporais, ver inimigos e itens de interesse através de paredes e muito mais.
Utilizar os poderes temporais de Jack durante os tiroteios não apenas deixa tudo mais divertido, mas também se torna obrigatório para o progresso, pois a tecnologia da Monarch equipa os inimigos com trajes e dispositivos capazes de emular — ou mesmo anular — os seus poderes. Ser criativo na hora de usar e combinar seus poderes é a chave do sucesso!
Ainda que seja um jogo com cenários bastante lineares, Quantum Break também vai lhe obrigar a utilizar seus poderes para “improvisar” caminhos e rotas alternativas. Nestes casos, existem tanto obstáculos quanto objetos específicos do cenário que devem ser manipulados individualmente para liberar um caminho.
Por exemplo, em determinado momento você precisa subir em um telhado, mas não há escada nem nada que facilite sua vida. Porém, ali perto há a estrutura desmontada de um andaime que foi usado para grafitar o prédio. Dando um “rewind” nesta parte do cenário, o andaime se monta novamente, e fica montado pelo tempo suficiente de você chegar aonde precisa. São situações simples, mas bem pensadas para a utilização dos poderes de Jack.
Agora, legais mesmo são os “lapsos”: em vários momentos do jogo, lapsos temporais vão acontecer, congelando o mundo em um momento que nunca termina. Por seu contato com o Cronum, Jack é imune a estes lapsos, e fica livre para explorar as belas composições resultantes dos lapsos, com balas singrando o ar, pássaros congelados em pleno voo, carros capotando e fragmentos explodindo em todas as direções. É lindo de se ver.
99% jogo, mas aquele 1% é seriado
Quem acompanha nosso site sabe que uma das principais novidades de Quantum Break está na forma como sua trama se desenrola: a história foi dividida entre o game (e suas cutscenes) e um seriado live action. Ao final de cada Capítulo do game, você assiste a um episódio da série, e fica por dentro do que anda rolando “do outro lado” da história.
Como assim? Te explico: conforme te falei lá em cima, Jack e seu amigo Paul foram afetados pela experiência com a máquina do tempo. Na ocasião, ambos adquiriram poderes, mas cada um pensa de um jeito, e Paul tem a megacorporação Monarch para administrar. Assim, ao final de cada Capítulo jogamos um pouquinho com o Paul, tomamos uma decisão e na sequência acompanhamos o que anda rolando “nos bastidores” da Monarch em forma de seriado.
Não pense que aqui temos algo como The Order: 1886, onde você mais assiste do que joga. Aqui a divisão é bem mais digna: cada capítulo do jogo pode levar mais de 2 horas para ser concluído, ao passo que cada episódio da série dura cerca de 25 minutos, ou seja a proporção gameplay x seriado está num bom nível.
Ah, e ainda que você tenha tanto cutscenes quanto a série para ver, prepare-se para ler muito: as minúcias da trama de Quantum Break estão espalhadas em dezenas de documentos, mensagens de texto e trocas de emails que você pode acessar enquanto explora os cenários. Há muita coisa para ler (muita coisa MESMO), mas faça um esforço e acompanhe tudo para não ficar boiando, pois há muita coisa relevante acontecendo “nas entrelinhas”.
Bifurcando o futuro
Antes de cada episódio da série acompanhamos Paul Serene em pequenos trechos chamados Bifurcações. Uma das habilidades de Paul consiste em vislumbrar o futuro, com base nas consequências de suas decisões. E é que entram estas Bifurcações, que são escolhas que você (no papel de Paul) deve tomar, e que afetam diretamente os rumos da narrativa.
Por exemplo: em determinado momento, a treta que rola na Monarch chega a tal ponto que Paul deve decidir se confia no personagem X ou no personagem Y. E é você quem decide em quem confiar. Você pode vislumbrar um pouco das consequências futuras da sua decisão para ter uma “prévia” do que vai acontecer, mas decisão feita, não dá para voltar atrás.
Logo após uma Bifurcação, começa o episódio da série live action, e ele muda de acordo com a sua decisão: se você escolheu confiar no personagem X, a história toma um rumo; se optou pelo personagem Y, outras coisas vão acontecer. Isso encoraja o jogador a fazer mais de uma jogatina para ver as diferentes possibilidades de narrativa que ocorrem após cada decisão.
Como recebemos o jogo com bastante antecedência (agradecimentos à assessoria da Microsoft por isso), pude jogar a campanha 2 vezes, fazendo escolhas totalmente diferentes nas duas partidas. Ainda que a história mantenha essencialmente a mesma estrutura, vários detalhes mudam (especialmente no seriado live action), então é bacana jogar mais de uma vez e experimentar diferentes combinações de decisões.
Apesar disso, não vá esperando nada com as possibilidades de um Beyond Two Souls: o núcleo da história se mantém sólido, as escolhas são bem pontuais e afetam mais o seriado do que o gameplay em si. Acredito que faltou um pouquinho de ousadia aqui, mas entendo que a complexidade do tema sem dúvida tornaria complicada a elaboração de uma história realmente aberta e construída sob medida para cada jogador.
Audiovisual
Ainda que tenha gerado polêmica por rodar em 720p e 30fps no Xbox One, não se preocupe: Quantum Break é um jogo visualmente incrível, que tem “cara” de next gen e utiliza com maestria efeitos de iluminação dinâmica para criar um clima cinematográfico, estiloso e cheio de belos cenários e momentos impactantes.
Verdade seja dita, o visual do jogo beira o fotorrealista em vários momentos. Seja em casas abandonadas:
Laboratórios futuristas:
Ou simplesmente em cenários urbanos “genéricos”:
Os designers da Remedy conseguiram amarrar todos os aspectos do jogo no conceito de manipulação temporal: quando rola um lapso, podemos ver rastros de movimento (de tiros, lanternas de veículos) que dão um charme surreal à cena. Tudo assume um tom mais azulado durante estes momentos, e alguns elementos do cenário ficam meio “bugados” (propositalmente) para deixar claro que algo está errado ali.
A trilha sonora segue a mesma linha, com músicas eletrônicas que acompanham a ação e parecem se moldar ao que acontece na tela, ficando lentas, distorcidas e cheias de ecos conforme Jack vai utilizando seus poderes. Os sons de gritos, tiros e explosões mantém a mesma pegada e também são afetados pelos poderes e lapsos temporais, o que cria uma atmosfera sci fi que casa perfeitamente com a proposta do game.
Praticamente todo o elenco principal do game — que é estrelado, e conta com Shawn Ashmore (ele é o Iceman do último filme dos X-Men), Dominic Monaghan (o Charlie, da série Lost) e Aidan Gillen (o Mindinho, da série Game of Thrones) — é visto também na série live action, e a riqueza de detalhes dos modelos poligonais dos atores impressiona, bem como a captura de movimentos e as expressões faciais.
O mais legal é que a série utiliza a mesma estética do game, com muitas luzes, efeitos especiais e tons contrastantes de azul e laranja, o que mantém a identidade visual firme nas duas mídias e não torna a transição de game para a série tão estranha.
Vale ressaltar ainda o capricho da Microsoft na localização de Quantum Break: tanto o game quanto a série estão 100% dublados em português — e muito bem dublados, diga-se de passagem –, mas você também pode manter o idioma original e habilitar legendas em português, se preferir. Nota 10 para a excelente localização do game!
Lapsos de qualidade
Apesar de todo esse primor, o jogo dá seus tropeços: não é raro vermos elementos do cenário com texturas em baixa resolução que melhoram gradualmente ou texturas “popando” na tela conforme você se aproxima. Também acontece muito da roupa do personagem carregar em baixa resolução após um loading, e demorar alguns segundos para ficar com seu aspecto final.
Fora isso, outra coisa que incomoda é o carregamento da série: ela rola via streaming (tipo Netflix), mas, ao contrário da Netflix, ela não é otimizada para se adequar à qualidade da sua conexão. Usando uma internet de 15MB (que me permite jogar The Division ou Street Fighter V online numa boa) tive incontáveis pausas de “conteúdo sendo carregado” e irritantes mensagens de erro como essa:
Você pode driblar este problema fazendo o download de toda a série para o seu HD, para que ela role “offline” e sem engasgos… se quiser fazer isso, porém, saiba que o download (e o espaço necessário) serão grandes, pois só a série vai ocupar mais de 70GB no seu disco rígido.
Vale ressaltar que nos últimos 2 dias esse problema com o streaming diminuiu bastante, e o game receberá um patch já no dia de seu lançamento que deve corrigir vários pequenos problemas. Porém, acho justo avisar que, embora seja primoroso na maior parte do tempo, durante minhas partidas o jogo deu umas escorregadas.
Conclusão
Quem acompanha o nosso podcast deve saber que há tempos eu esperava por Quantum Break: já falei dele no episódio de Jogos Mais Esperados de 2015 (?!), antes do jogo ser adiado. Eu sou um grande fã de obras que envolvem viagens no tempo, e justamente por isso, meu hype para este game estava nas alturas.
A pergunta que fica é: ele correspondeu às minhas expectativas? Na maior parte do tempo, sim. Porém, você precisa estar ciente do que vai encontrar aqui: um jogo de ação extremamente linear, com uma campanha “curta” (cerca de 10 horas) — e uma história densa, que se ramifica por gameplay, seriado e (toneladas) de documentos e emails para ler. Ele não é (e nem almeja ser, creio eu) o “Uncharted do Xbox One“. A pegada aqui é outra.
Ainda que seja bom termos um jogo de ação linear para variar um pouco — sem mundo aberto, equipamentos customizáveis e incontáveis side missions –, Quantum Break me pareceu mais curto do que deveria, simplesmente porque eu gostaria de jogar mais, explorar mais, conhecer mais daquele universo e, claro, tomar mais decisões.
E já que tem um livro ali em cima, acho que cabe aqui uma analogia: Quantum Break me pareceu um livro do Dan Brown (autor de O Código da Vinci, O Símbolo Perdido, Inferno): ele é frenético, mirabolante e empolgante, mas quando você terminá-lo, vai querer que ele tivesse durado mais. O que é exatamente o que acontece quando terminamos de ler um bom livro, não é?
Que a Remedy invista em um Quantum Break 2 — há um ótimo gancho para isso — pois desde já eu estou muito ansioso para voltar a esse universo que é fantástico e real ao mesmo tempo.
Quantum Break será lançado na próxima terça (5 de abril) para PC e Xbox One.