Análise Arkade: INSIDE, a nova obra-prima dos criadores de LIMBO
Os criadores de LIMBO acabam de entregar uma nova pérola indie: INSIDE é uma jornada incrível e assustadora por um laboratório sinistro que mais parece um campo de concentração. Confira nossa análise deste game surpreendente!
Fuja. Simplesmente fuja
Você já jogou LIMBO? Se sim, sabe que ele não tem uma história propriamente dita; você simplesmente acorda naquele mundo sombrio e precisa seguir em frente, aprendendo na prática a lidar com os desafios e obstáculos do game.
INSIDE segue essa mesma linha. O jogo não tem uma linha de diálogo sequer; você assume o controle de um garotinho sendo perseguido pela floresta e logo fica claro que seu objetivo é sumir daquele lugar, evitando ser visto e passando despercebido sempre que necessário.
O que é “aquele lugar”? Não fica claro. É um misto de laboratório e campo de concentração bizarro, onde há pessoas enjauladas, “cobaias” andando em fila para lá e para cá, máquinas de ar ameaçador para todo canto e criaturinhas cabeludas sinistras que vivem na água. Não sei exatamente o que é o lugar ou o que fazem lá, mas definitivamente não deve ser nada bom. No lugar do garotinho, eu também iria querer fugir dali, e aposto que você também.
Explorando e sobrevivendo
A jogabilidade de INSIDE é super simples (como a de LIMBO), e caberia até em um controle de NES: o personagem pode basicamente andar e correr, assumindo diferentes velocidades e posturas (se escondendo atrás de objetos, por exemplo) automaticamente de acordo com a situação. Temos um botão de pulo (A) e outro para empurrar/arrastar coisas e interagir com portas e painéis (X). Você também pode nadar, mergulhar e se dependurar em cordas.
Ali pela metade do jogo também descolamos um mini submarino que nos permite explorar vários ambientes subaquáticos, e você pode controlar outras “pessoas” — as cobaias inertes — e fazer com que elas realizem ações para você. Usando um capacete com algum tipo de dispositivo neural embutido. Mesmo estas novidades são super intuitivas e fáceis de usar.
A simplicidade porém, fica limitada ao controle, pois o level design do jogo é primoroso, e entrega puzzles muito bem sacados e integrados de maneira muito natural aos cenários. Nenhum puzzle parece deslocado ou fora de contexto, tudo envolve acionamento de mecanismos, elevadores e portas para que você consiga cumprir sua missão que é sair dali.
No geral, os puzzles não são necessariamente difíceis, simplesmente demandam um pouco de atenção aos elementos do cenário e ao timing, pois você deve sempre passar despercebido e evitar holofotes e sentinelas. Ah e também tem cachorros. Tome muito cuidado com eles, pois são extremamente rápidos e letais!
Ambientação impecável
INSIDE possui uma fluidez incrível: não existem “fases”, nem divisórias ou loadings, o mapa é uma rede de níveis e subníveis que se espalha continuamente, de modo que você está sempre progredindo. O ritmo do jogo — aliado ao clima de tensão constante — torna-o perfeito para jogar “de uma sentada só”, ainda que sua jornada possa durar cerca de 5 horas.
Apesar de ter um visual quase “bonitinho”, INSIDE tem uma atmosfera bem pesada. Como LIMBO, ele não é exatamente um jogo de terror, mas tem requintes de crueldade nas mortes e flerta com o gore e com o bizarro o tempo todo. A última meia hora de gameplay é um freak show realmente perturbador e diferente de tudo que já vi em um game, e o final abrupto e inesperado sem dúvida vai te deixar (no mínimo) chocado.
INSIDE é mais colorido do que LIMBO, mas mantém tons escuros na maior parte do tempo, o que cria uma sensação constante de perigo e abandono. O game possui belíssimos efeitos de iluminação e água, detalhes singelos que dão um pouco de vida àquele mundo lúgubre. A própria câmera fica em ângulos meio tortos as vezes, acredito que para causar um desconforto, uma sensação de “algo está errado”.
O mundo de INSIDE é hostil e opressor, mas também é muito envolvente e imersivo. Eu realmente queria saber mais sobre aquele complexo laboratório/campo de concentração e sobre as experiências bizarras que são realizadas ali. Se tivesse que acrescentar algo, seriam audiologs ou bilhetes (como encontramos em Bioshock ou The Last of Us) que mostrassem um pouco do que aconteceu ali, da vida de quem passou por ali. Não é essencial, mas acho que se tivesse, enriqueceria ainda mais o jogo como um todo. Mas, mesmo sem isso, o nível de imersão que temos aqui é incrível.
Boa parte desta imersão se deve ao departamento sonoro do jogo, que é simplesmente incrível, e ajuda a criar essa atmosfera de tensão constante, realmente te levando para dentro do ambiente. Pouquíssimas músicas, nenhum diálogo, somente sons ambientes ultrarrealistas. Recomendo fortemente o uso de um bom par de fones de ouvido para quem deseja sentir essa atmosfera que a Playdead se esmerou para criar.
Conclusão
Eu queria falar mais — MUITO mais — sobre INSIDE, mas esse é o tipo de jogo que merece ser vivenciado da forma mais crua possível. Quanto menos você souber, melhor vai ser sua experiência. Acho que a própria Playdead pensa assim, pois o game teve pouquíssimos trailers, e seu site oficial é super vazio e minimalista.
INSIDE é fácil de jogar e difícil de largar. Ele é envolvente e perturbador, cativante de um jeito bizarro e imersivo até demais. Nem curto nem comprido, ele me pareceu na medida certa para um mergulho contínuo e envolvente. Terminei o jogo em uma tarde, e acho que esta é a melhor forma de vivenciá-lo, sem “sair” daquele mundo sinistro.
Difícil dizer se ele é melhor ou pior que LIMBO, mas sem dúvida é tão coeso e caprichado quanto. Mesmo com apenas 2 jogos em seu currículo, a Playdead mostrou (mais uma vez) que sabe o que faz. Se você curte jogos que, mesmo sendo mecanicamente simples, pensam “fora da caixa” e saem do lugar comum para te chocar e te surpreender, não deixe de jogar INSIDE. Você não vai se arrepender.
INSIDE foi lançado no dia 29 de junho para Xbox One. Ele chegará ao Steam na semana que vem, dia 7 de julho.