Análise Arkade: World of Final Fantasy celebra os 30 anos da franquia com muita fofura e nostalgia
Este ano, a série Final Fantasy está completando 30 anos. Para celebrar, a SquareEnix lançou World of Final Fantasy, um delicioso e nostálgico passeio pela história da série! Monte em seu chocobo e venha conferir nossa análise completa do game!
É novo, mas tem um gostinho de nostalgia
World of Final Fantasy é um jogo completamente novo da franquia. Ele tem sua própria história e seus próprios protagonistas. Porém, ele também é uma grande homenagem aos 30 anos da série, e, justamente por isso, está recheado de conteúdo que irá fazer os fãs de longa data da série se emocionarem.
Os protagonistas do game são os gêmeos Lann e Reynn. Em um belo dia, eles acordam desmemoriados, e encontram sua cidade deserta, fantasmagórica. Logo aparece uma garota/entidade que esclarece as coisas para eles. Basicamente, os dois já foram heróis em um outro mundo — Grymoire — e agora este mundo precisa da ajuda deles mais uma vez para dar fim a um conglomerado maligno que está usando indiscriminadamente a energia Mako e o poder dos Black Mages.
Por mais louco que isso seja, o tal mundo de Grymoire é um mundo novo, mas com elementos de vários mundos pelos quais já passamos em jogos da série. E é justamente por isso que encontraremos tantos lugares e personagens emblemáticos da série por lá. Porém, neste mundo os personagens que você já conhece são Lilikins — pequeninos, cabeçudinhos e fofinhos. Aliás, os gêmeos podem mudar da forma humana (Jiant) para a forma pequenina e cabeçudinha (Lilikin) a hora que quiserem, e isso afeta um pouco o andamento das batalhas (logo falo mais sobre isso).
Ainda que a história lide com elementos extremamente clichês do tipo “heróis desmemoriados” e “os escolhidos de uma antiga profecia”, ela se apoia no carisma dos personagens para se desenvolver de maneira divertida, até descompromissada eu diria. Não é exatamente uma história épica, mas é cativante, e é louvável o esforço dos roteiristas em amarrar de forma coesa tantos personagens de jogos e universos diferentes em uma única trama.
É Final Fantasy, mas tem uma pitada de Pokémon
Pois é, até Final Fantasy se rendeu à febre dos monstrinhos “colecionáveis”. Desde o início do jogo, a sua party será formada por Lann e Reynn, mas também pelas criaturas que você captura em batalha e recruta para o seu time. Existem centenas de inimigos que você pode capturar usando os Prismariuns, que são essencialmente Pokébolas de luz. E você pode inclusive “recrutar” inimigos bem famosos do universo Final Fantasy, como Cactuars, Bombs, Malboros, Tonberrys, Behemoths e muitos outros!
Sempre que um combate com um novo tipo de inimigo se inicia, uma notificação aparece, deixando claro que você pode capturá-lo. Porém, não basta usar o comando Imprism e pronto. Você precisa criar uma “janela de oportunidade” para poder usar sua “pokébola”, e isso varia de um inimigo para outro: em muitos casos basta dar porrada e diminuir o HP, mas certas criaturas demandam alterações de status, ataques elementais… e em alguns casos você até precisar curar o inimigo (?!) para poder capturá-lo!
Essa mecânica meio Pokémon do game abre inúmeras possibilidades de gameplay, afinal, você pode carregar 10 monstrinhos simultaneamente, e para mudar de um para o outro, basta acessar o menu. Cada monstrinho possui sua própria árvore de habilidades, e a maioria deles pode até evoluir para versões maiores e mais poderosas.
O ideal é usar uma magia Libra para descobrir qual é a “exigência” de cada inimigo. Confira a batalha que gravei abaixo; uso uma Libra logo no começo da batalha para descobrir que preciso curar uma grande quantidade de HP da Phoenix para poder capturá-la. Nem uma magia de cura bastou, então precisei usar um Elixir nela. Quando um brilho prateado aparece ao redor do inimigo, é sinal de que ele está apto a ser capturado:
Acabei mostrando um vídeo de combate antes de falar do combate em si, e ele possui suas peculiaridades. Bom, então vamos falar logo sobre isso.
Empilhando seu time
Reparou como minha party estava “empilhada” na luta do vídeo? Pois é, essa é uma das novidades mais malucas — e interessantes — de World of Final Fantasy: Lann e Reynn podem estar acompanhados de até 2 monstros cada, e ao “empilhar” o grupo, você soma os atributos do time (inclusive o HP), mas em contrapartida, diminui o seu número de turnos.
Funciona assim: os personagens possuem 3 tamanhos: Pequeno, Médio e Grande. Eles ficam “empilhados” sempre com o menor no topo e o maior na base. Porém, como Lann e Reynn podem assumir 2 formas diferentes, eles podem ser tanto a base (na forma Jiant) quanto o meio da “pilha” (na forma Lilikin). Tipo assim, ó:
Felizmente, você pode deixar grupos previamente formados tanto com eles na forma Jiant (normal) quanto na forma Lilikin (cabeçudinho). Assim, é como se você mantivesse 4 grupos prontos para a batalha o tempo inteiro. Os gêmeos entram em batalha na forma que estiverem na exploração, então se você está explorando o mapa com Lann em versão Jiant e Reynn em versão Lilikin, será assim que eles estarão em batalha. Felizmente, quando está fora de batalha, você pode alternar entre as 2 formas ao pressionar de um botão.
Empilhar seus personagens rende algumas vantagens: certas monstrinhos podem ganhar ataques combinados quando colocados juntos. E se você coloca, por exemplo, 2 monstrinhos de fogo que tenham a magia “fire”, automaticamente ela evolui para uma “fira”. Isso também vale para a resistência a danos elementais. Claro que, se tomar muita porrada sua “pilha” acaba se desequilibrando e pode cair, mas há magias e itens para remediar isso. E, claro, você sempre pode desfazer ou refazer sua pilha, se necessário.
No geral, o combate aqui não flerta com a ação direta; ele segue o bom e velho estilo por turnos com barra de ATB — Active Time Battle. Porém, você pode escolher se quer ele com um pouco mais de ação (a barra de ATB continua rolando enquanto você faz suas escolhas no seu turno) ou se prefere que o tempo pare enquanto você administra o seu turno.
Heróis e lugares clássicos
Se você acha que vai poder controlar Cloud, Squall, Tifa, Lightning e tantos outros personagens famosos que aparecem aqui, pode ir tirando seu cavalinho da chuva. Eles são coadjuvantes aqui, os protagonistas são Lann e Reynn, e, embora a pouca idade deles abra espaço para umas patetadas meio bobinhas, no geral eles são personagens interessantes e carismáticos, ainda que um pouco rasos, unidimensionais.
Os diversos personagens que você já conhece de outros games são coadjuvantes, NPCs que irão interagir com os gêmeos em situações variadas. Em muitos casos você vai encontrá-los em lugares igualmente clássicos: Sarah é a princesa de Cornelia, Edgar estará no Castelo de Figaro, Tifa estará nos arredores de Nibelheim, e por aí vai. Como eu já disse lá em cima, Grymoire tem muitas áreas próprias, mas também abriga locais que marcaram os 30 anos de Final Fantasy.
Isso não quer dizer que você não vai ter um gostinho dos heróis clássicos em batalha. Praticamente todos eles possuem “Champion Medals“, assumindo a função que outrora era dos Summons: ao usar uma medalha em batalha, você conjura um personagem, que realiza uma ação — que pode ser de atraque ou suporte — , e geralmente é uma releitura de algum golpe especial clássico daquele personagem.
Nem só heróis, aliás. Veja abaixo o todo poderoso Sephiroth (em versão fofinha) sendo evocado ver em uma batalha:
(Sephiroth é um bônus de pré-venda, mas possivelmente será possível comprá-lo “avulso” logo mais).
Quer ver mais? Ok, gravei o golpe da Lightning também, confira:
O triste é que você só pode manter 3 Champion Medals equipadas simultaneamente, o que torna a troca essencial para quem quer ver toda essa galera old school em ação.
Conteúdo extra e acessibilidade
A campanha de World of Final Fantasy por si só pode durar cerca de 40 horas, e certamente vai render momentos de muita diversão e nostalgia para quem vem acompanhando a série desde a década de 80. Fora isso, você ainda tem sidequests das mais variadas para completar, Champions para ajudar e até um Coliseu onde você pode encarar batalhas titânicas contra monstros dos mais variados. Boatos que ali rolam até batalhas online contra outros jogadores, mas eu ainda não vi na prática como isso funciona.
Fora isso, embora seja um jogo bem old school, World of Final Fantasy se esforça para se tornar acessível para diferentes perfis de jogadores. Como já disse antes, você pode escolher como prefere o andamento das batalhas. Se está sem muita paciência, basta manter pressionado o R1 para usar um “fast forward” que apressa não só os turnos das batalhas, mas também cutscenes, diálogos e tudo mais.
Melhorar os personagens e monstrinhos também é super tranquilo. Não existem jobs, nem classes, e você não muda armaduras, equipamentos, nem nada, simplesmente troca os Special Points que ganha por melhorias e novas habilidades em árvores de evolução que lembram um pouco o Crystarium de Final Fantasy XIII. O MP também foi limado do jogo, magias e habilidades agora custam quantidades específicas de Ability Points (AP), que felizmente vai se regenerando no decorrer das batalhas.
Os fast travels também existem em abundância: em cada área há um portal que te leva para Ninewood Hills (a cidade inicial, onde os gêmeos vivem) e de lá você pode acessar qualquer dungeon, cidade ou vila pela qual já tenha passado. Salvo uma outra dungeon mais longa e pentelha (o Cemitério de Trens é especialmente chato), no geral o jogo é bem particionado e distribuído para que a exploração nunca se torne maçante.
Um ponto negativo é que o game não possui nenhum suporte ao nosso idioma. As dublagens podem ser em japonês ou inglês, mas os menus e legendas estão todos em inglês. Como estamos falando de um JRPG cheio de menus, diálogos e informações escritas, ter um bom conhecimento do idioma é fundamental.
Audiovisual fofinho
Você já deve ter reparado pelos vídeos e imagens que ilustram esta matéria que World of Final Fantasy é um jogo de visual extremamente fofinho, né? Tetsuya Nomura e Yasuhisa Izumizawa uniram forças para desconstruir o design clássico de dezenas de personagens, e mesmo inimigos emblemáticos e ferozes agora possuem um ar mais cartunesco e bonitinho. Lembra um bocado Kingdom Hearts, mas respeita a cartilha da série Final Fantasy.
A mistura dos gêmeos “normais” com outros personagens pequenos e cabeçudinhos parece estranha fora de contexto, mas depois que você embarca na história e “entra no mundinho”, percebe que a mistura funciona muito bem. Alguns cenários parecem genéricos em alguns casos, e certas texturas (do chão, e de paredes) também são meio simplórias, mas não é nada que estrague a ótima identida visual do game.
Ah e sabe mais uma coisa bem legal? As cutscenes do jogo são todas em estilo anime! A mistura de cutscenes de gameplay com o traço de anime é muito interessante. Confira abaixo a abertura do game, que mostra bem como esse mix funciona:
A dublagem em inglês também cumpre muito bem seu papel (ainda que a sincronia labial deixe um pouco a desejar), e é muito legal ouvirmos as vozes de personagens que não falavam em seus jogos originais, como Squall e Vivi.
Como estamos em um universo todo fofinho, o jogo tem bastante humor — as fichas de personagens e monstros abusam da metalinguagem e são hilárias –, mas as vezes exagera um pouco na dose, especialmente no lado “pateta” de Lann. Final Fantasy sempre teve seus momentos de humor meio “vergonha alheia” (como o emblemático treino de gargalhadas do Tidus, lembra?), mas aqui isso não acontece tanto. No geral o humor é meio bobinho, mas cativante dentro do contexto.
No vídeo abaixo, você pode ver um pouco desse humor “bobinho” em ação, no diálogo que rola quando Lann e Reynn encontram um bando de Moogles piratas, kupo:
A trilha sonora no geral mantém a qualidade que se espera da série. É orquestrada e bela, potencializando momentos de alegria, emoção e drama. As músicas dos combates acabam se tornando meio repetitivas (afinal, este é um jogo com batalhas aleatórias), mas o balango geral é muito positivo. Rolaram uns “pulinhos” no áudio em algumas ocasiões, mas foram problemas bem pontuais. No PS4 o jogo roda suave e possui loadings super rápidos (não testamos a versão PS Vita).
Uma bela homenagem à uma grande franquia
World of Final Fantasy é uma bela declaração de amor da Square à franquia que tirou a empresa do buraco na década de 80 e acabou se tornando uma das franquias mais importantes da indústria dos games. O jogo é um JRPG competente por si só, mas é óbvio que quem é realmente fã de Final Fantasy vai curtir muito mais a experiência, pois o fan service (no bom sentido) e a nostalgia incutidas aqui são simplesmente deliciosas.
Mesmo não sendo numerado ou canônico, ouso dizer que World of Final Fantasy é o melhor jogo da franquia que saiu na última década (lembrando que Final Fantasy XII é de 2006). E boa parte disso é justamente por ele trazer de volta a essência da série — os combates por turnos com barra de ATB, as dungeons –, que está perdendo um pouco de sua identidade para se tornar cada vez mais um “RPG de ação de mundo aberto”.
É difícil ser “imparcial” em uma análise comum, mas fica impossível quando estamos falando de uma série que a gente ama. Eu sou fã de Final Fantasy há mais de 15 anos, e o feeling nostálgico do que temos aqui é irresistível para quem é fã. É quase um Kingdom Hearts, só que ao invés de encontrarmos personagens da Disney, encontramos personagens de Final Fantasy.
Final Fantasy XV vem aí, e eu realmente espero que ele seja incrível. Mas, se por acaso ele deixe a desejar, 2016 já foi um bom ano para a franquia. World of Final Fantasy chegou de mansinho, como quem não quer nada, mas já ganhou um lugar especial no meu coração. E se você e fã dá saga, é bem provável que ele te conquiste também.
World of Final Fantasy foi lançado em 25 de outubro, com versões para PS4 e PS Vita (não é cross-buy). O jogo está todo em inglês (com opção de áudio em japonês).