Análise Arkade: A Tale of Paper tem papel, origami e uma história tocante

2 de novembro de 2020
Análise Arkade: A Tale of Paper tem papel, origami e uma história tocante

Nos últimos anos, instaurou-se no mundo dos games um tipo de jogo que muito me agrada: jogos mais curtos, focados em uma breve jornada, feita sob medida para despertar sentimentos e emoções. Considerando meus problemas para zerar jogos muito grandes, games mais curtos são sempre bem-vindos por aqui.

Alguns desses jogos enveredam pelo terror — como Inside ou Little Nightmares, por exemplo –, outros inovam ao apostar em mecânicas diferenciadas e até coop (como Unravel), e há ainda aqueles que preferem se manter focados em uma experiência mais contemplativa e relaxante. Caso de Journey, por exemplo, talvez um dos games mais famosos desse tipo.

Um Conto de Papel

A Tale of Paper é mais um jogo que segue esta linha de game design: ele conta uma simpática história de coragem e superação, e faz isso sem que nenhuma palavra seja dita.

Análise Arkade: A Tale of Paper tem papel, origami e uma história tocante
O início da aventura

O game acompanha uma criaturinha feita de papel, que deseja simplesmente cumprir o último desejo de seu criador. Que desejo é esse?Você vai ter que jogar para descobrir, mas como este é um jogo bastante subjetivo, não espere que tudo seja “jogado na sua cara”. Tudo o que vemos é lúdico e até um pouco metafórico, uma alegoria utilizada para passar uma mensagem.

Em uma primeira olhada, é fácil perceber que o jogo se inspira em Unravel e Little Nightmares: em todos eles, temos um protagonista diminuto que precisa explorar um mundo “de gigantes”. Outro ponto em comum entre eles: somos frágeis e inofensivos, e precisamos usar a cabeça para evitar perigos e obstáculos.

Origami Power

O diferencial aqui está justamente na matéria-prima de que é feito o protagonista: papel. Se em Unravel o simpático Yarni pode usar a lã de seu próprio corpo para se dependurar e criar pontes, em A Tale of Paper, a criaturinha que controlamos usa o “poder do origami” para se transformar em animais e objetos mais úteis.

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O primeiro livro nos ensina a virar um sapo de origami

Ela não começa o jogo com nenhuma dessas habilidades, mas conforme encontra “manuais de instruções” espalhados estrategicamente pelo jogo, adquire estas habilidades. Então, quando precisar pular mais alto, você pode se transformar em um sapo de origami. Precisa planar por alguns segundos? Basta virar um aviãozinho e se jogar!

Cada “transformação” fica atrelada a um botão do controle, o que deixa tudo bem intuitivo e fácil de usar. Em seus melhores momentos, o jogo exige que a gente alterne rapidamente entre cada forma, aproveitando o potencial de cada uma delas para progredir. No vídeo abaixo, você pode ter uma noção de como isso funciona na prática (e sim, eu morri uma vez por não virar aviãozinho a tempo):

Talvez o maior diferencial de A Tale of Paper para jogos como Unravel e Little Nightmares é que ele não é 2.5D… ou pelo menos não tempo todo. O posicionamento da câmera meio que dá essa impressão, mas quase sempre podemos explorar “os fundos” dos cenários. O que nem sempre é uma coisa boa, pois a posição da câmera não dá uma visão muito boa, e a noção de perspectiva pode ficar meio confusa.

A jogabilidade como um todo parece meio “solta”, e quando o jogo decide exigir muita precisão em alguns saltos (com degraus faltando em uma escada, por exemplo), este problema acaba ficando mais evidente. Felizmente, porém, ele quase nunca exige muito dos controles (nem do jogador), evitando frustrações e permitindo uma jornada mais suave, sem muitos enroscos ou repetições.

Surpresas & Terrores

Um detalhe curioso é que A Tale of Paper tem um “falso final” ali pela metade. Você chega em um lugar emblemático, algo acontece, e os créditos até começam a subir… porém, de repente o jogo continua, e agora estamos controlando uma segunda criaturinha de papel, em uma nova jornada, que vai inclusive adquirir “poderes” diferentes, assumindo outras formas de dobraduras.

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Ainda assim, o jogo é curto, e não deve passar das 4 horas de duração. Porém, são 4 horas interessantes, lúdicas e divertidas, que fazem um bom uso da mecânica de origamis e dobraduras que foi criada para o jogo.

O jogo até tem momentos de perigo um tanto assustadores, quando Roombas (aqueles aspiradores inteligentes, sabe) começam a nos perseguir, ou quando invadimos acidentalmente o covil de uma aranha que não vai muito com a nossa cara. Aí temos perseguições que lembram os bons momentos de Crash Bandicoot, vendo a ação de frente e tendo que evitar obstáculos enquanto fugimos:

Ah, e embora eu tenha mencionado aspiradores e aranhas, como nosso protagonista é feito de papel, há um outro inimigo muito presente no jogo: a água! Evite poças se quiser sobreviver!

Audiovisual

Embora não seja um primor técnico, A Tale of Paper é um jogo bastante esforçado, e no geral entrega um visual que está longe da beleza fotorrealista de Unravel, por exemplo, mas cumpre seu papel, e ganha pontos pela diversidade: no decorrer do jogo, vamos passar por casas, telhados, esgotos, parquinhos e até por um planetário!

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Isso me lembrou o Pizza Planet XD

Sem vozes, o jogo entrega uma experiência bastante contemplativa, com uma trilha sonora que foi pensada para potencializar momentos emocionantes ou grandiosos, mas que se mantém bastante tímida no restante do tempo, permitindo que o jogador preste atenção nos sons ambientes, aumentando a imersão.

A Tale of Paper não recebeu localização para o nosso idioma, mas convenhamos: nem precisa. Tirando o menu inicial e os créditos, não há praticamente nada para ler por aqui, então a barreira idiomática é praticamente inexistente.

Conclusão

A Tale of Paper é um jogo simples, mas encantador, que escora-se em uma criativa mecânica de origami para criar todas as suas mecânicas, puzzles e desafios. Ele é consideravelmente mais simples do que Unravel e Little Nightmares, mas claramente inspirou-se neles — mas agregou algo novo, próprio –, sem se limitar a ser uma cópia.

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Não, não dá para virar uma X-Wing… 🙁

O preço dele talvez seja um pouco salgado (quase 80 reais na PSN BR), mas, se a proposta te agrada, sugiro que deixe o jogo na sua lista de desejos, no aguardo de uma promoção bacana para que possa experimentar a simpática jornada sem palavras que ele entrega.

A Tale of Paper está disponível exclusivamente para PS4.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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