Análise Arkade: Eternal Strands, um RPG que é vítima de suas grandes ambições
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Eternal Strands é o primeiro jogo do Yellow Brick Games, estúdio indie formado por veteranos da indústria que buscaram inspiração em clássicos de ontem e hoje para criar um mundo de fantasia repleto de mistérios e perigos. Como será que este jogo de estreia se saiu? Descubra em nossa análise completa!
A ponta, os tecelões e o Enclave
Claramente houve muito trabalho na criação do mundo de Eternal Strands. Digo isso porque o jogo é cheio de lore, e mesmo que a campanha passe por um lugar muito específico deste mundo — chamado de Enclave –, vamos receber muitas outras informações sobre o mundo como um todo, os povos e criaturas que nele vivem. A construção do mundo é detalhada nos cenários, em registros espalhados pelo mapa e nos diálogos que temos com NPCs.
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A trama do game acompanha Brynn, uma jovem que acaba de assumir uma posição importante no clã dos Tecelões do qual faz parte: ela se tornou a Ponta, uma espécie de batedora mágica que explora áreas remotas em busca de recursos que vão contribuir com a subsistência do grupo. Em paralelo a isso, Brynn também almeja restaurar as terras e o legado perdido de seu povo.
Embora a narrativa não seja particularmente inspirada, ela ganha força pelo carisma dos personagens. O bando que acompanha Brynn é uma verdadeira família, e a sinergia que os une torna cada retorno ao acampamento uma experiência calorosa e aconchegante.
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É muito legal ver como todos se ajudam e se preocupam uns com os outros, e há muitos diálogos com diferentes opções de resposta, que estreitam (ou não) nossos laços com cada membro do grupo.
Exploração, mobilidade e magia
Eternal Strands não é um RPG de mundo aberto tradicional. Na verdade, sua estrutura é mais similar ao que vemos na série Monster Hunter: vamos pegar missões no acampamento, e ganhar aceso às áreas específicas em que essas missões ocorrem. Conforme exploramos estas áreas, vamos liberando Porteares — portais mágicos que funcionam como pontos de fast travel.
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Estas áreas são mapas nem muito grandes, nem muito pequenos, repletos de criaturas selvagens, ruínas, cavernas, pântanos e lagos. Ainda que um mini mapa faça falta, há muitos segredos que incentivam a exploração, que é tanto horizontal quanto vertical: tal qual Zelda Breath of the Wild, Brynn é capaz de escalar praticamente qualquer superfície, o que concede muita liberdade ao jogador — desde que ele tenha stamina para chegar longe, claro. O fato de que praticamente qualquer coisa no cenário ser destrutível também pode render boas surpresas ao jogador curioso.
Aí entra um outro elemento familiar de Zelda: o mundo passa por mudanças climáticas, e as habilidades mágicas de Brynn são úteis também na exploração. Por exemplo: a magia de gelo que congela os inimigos também pode ser usada para criar uma ponte de gelo — muito útil para superar abismos e obstáculos.
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Esta responsividade do mundo pode ser “manipulada” para favorecer (ou não) o jogador em diversas circunstâncias. Com uma mistura de fogo e telecinese, por exemplo, você pode transformar um simples tronco de árvore em um enorme projétil flamejante. E, enquanto ambientes congelados favorecem poderes elementais de gelo, uma magia de fogo mal calculada pode transformar um belo campo verdejante em um amontoado estéril de cinzas.
Combates e chefes
O ponto mais ambicioso de Eternal Strands talvez esteja nos seus combates contra chefes — seres colossais e majestosos que podem ser desde dragões voadores que cospem fogo até grandes estátuas humanoides e outras criaturas extravagantes.
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É aqui que o jogo escancara algumas de suas principais referências, pois além da estrutura de missões estilo Monster Hunter e da interatividade de Zelda, as boss battles remetem a dois jogos muito queridos: Shadow of the Colossus e Dragon’s Dogma.
Na maioria dos casos, derrubar um chefe gigante envolve escalá-lo e encontrar pontos fracos que vão lhe causar mais dano. Mas isso nem sempre é fácil, pois o bicho vai se debater e tentar te pegar, testando os limites da sua stamina. E quando você escala uma criatura alada, ela pode sair voando com você no lombo, o que torna tudo mais emocionante — e imprevisível.
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As magias, claro, também desempenham um papel importante nestes confrontos. Você pode, por exemplo, congelar o pé do bicho no chão para impedi-lo de se mover, ou mesmo encher um dragão de gelo em pleno ar para que o peso faça ele cair. Novamente, a forma como os poderes elementais afetam o mundo e as criaturas que nele vivem é fascinante.
Ainda que os bosses ofereçam batalhas bastante desafiadoras, eles não chegam a ser injustos e se você for criativo na utilização de seus poderes e souber usar o próprio ambiente a seu favor, vai se sair bem. No entanto, a dificuldade do jogo como um todo pode oscilar, com picos que contrastam com uma curva de aprendizado mais cadenciada.
Problemas de ritmo
Ainda que eu não ache Shadow of the Colossus a obra-prima que muitos pregam, eu respeito muito sua filosofia minimalista. O jogo é uma enorme boss rush, que não testa a paciência do jogador com sidemissions, colecionáveis, nem nada do tipo. É só você, seu cavalo e os colossi para matar — com uma frutinha aqui, um lagartinho ali, mas sem encheção de linguiça.
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Eternal Strands, infelizmente, vai no sentido oposto. Ele não quer ser só um bom jogo de caçadas e poderes elementais, ele quer ser um RPG. Com isso, chegam toneladas de atividades chatas e repetitivas, com destaque para o crafting e o sempre chato tempo perdido em menus comparando estatísticas de equipamentos.
Há uma infinidade de recursos diferentes para serem coletados, com diferentes graus de raridade e características que mudam bastante o visual e as propriedades dos equipamentos que criamos. E, como qualquer arco e flecha ou greva demanda cerca de 4 tipos de itens para ser confeccionado, o que não é obtido de forma natural vai demandar um bom tempo de grinding.
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E não para por aí: o manto de Brynn é o catalisador de seus poderes mágicos, e pode ser aprimorado com “fios” dos chefes que derrubamos. Além disso, os equipamentos que já temos podem ser reforjados ou aprimorados, e cada área do acampamento pode ser ampliada e melhorada, o que resulta em novos upgrades e serviços sendo desbloqueados.
Entende como isso tudo acaba deixando a gente sobrecarregado? Eternal Strands poderia ser um jogo de ação/boss rush acima da média se mantivesse seu foco no que há de bom: os chefões e sua intrincada teia de possibilidades de combate elemental.
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Mas são tantas camadas, tantas frentes para gerenciar, tanto conteúdo (nem tão) opcional para ser cumprido, que ele acaba cansando. Ao misturar tantas coisas, o jogo torna-se vítima de sua própria ambição, e acaba ficando cansativo, arrastado.
Audiovisual
Eternal Strands não é de maneira nenhuma um jogo feio, mas confesso que já estou bem saturado dessa estética Fortnite que ele adota. A direção de arte é boa, com belas paisagens e um bom design de monstros e criaturas. Porém, os cenários e personagens — a protagonista, especificamente — tem essa cara de Fortnite.
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Também é curioso como o jogo tem uma certa crise de identidade estética. Nos díalogos, os personagens são apresentados na forma de belas ilustrações 2D semi-estáticas. Porém, suas (poucas) cutscenes são apresentadas na forma de animações 2D que têm uma estética totalmente diferente. E o jogo em si, os modelos dos personagens, traz esse 3D com vibe de Fortnite. Falta coesão entre todas essas linguagens.
Há uma boa variação de ambientes — bosques, ruínas, pântanos, cavernas — e a presença dos “Nós” (uma espécie de névoa colorida) concede um tom etéreo às paisagens. Jogando antes do lançamento no PS5, identifiquei quedas de desempenho ocasionais, mas nada que tenha comprometido gravemente a experiência.
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A trilha sonora é um grande ponto de destaque: assinadas por Austin Wintory — compositor de Journey e The Banner Saga — as músicas são incríveis, orquestrações que vão do sutil ao épico, do melancólico ao triunfante, e ditam o tom da aventura. As dublagens (em inglês também são ótimas, e injetam uma boa dose de carisma e personalidade aos personagens.
Conclusão
Eternal Strands é um jogo ambicioso que, em muitos aspectos, é vítima de sua própria ambição. O problema de se mirar tão alto é que você vai acabar sendo comparado com quem lhe inspirou — mesmo que a comparação seja injusta. E, não tem como negar: seja por questões de escopo, experiência e (claro) orçamento, Eternal Strands simplesmente não está no mesmo patamar dos jogos que lhe serviram de inspiração.
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Apesar de seus tropeços, porém, é um título que pode agradar a um grupo de jogadores mais empolgado com o que ele entrega. Seu mundo é interessante, suas boss battles são muito legais, e a integração entre mecânicas de combate e exploração cria uma dinâmica muito única.
Infelizmente, porém, o excesso de coisas para fazer, recursos para coletar e frentes para gerenciar tira o jogador daquilo que o jogo tem de melhor: os confrontos, a estratégia para derrubar criaturas gigantes. É o tipo de jogo que vale esperar por uma promoção, desde que você chegue com as expectativas bem alinhadas.
Eternal Strands foi lançado ontem (28/01), com versões para PC, Playstation 5 (versão analisada) e Xbox Series X|S. O game possui dublagens em inglês, mas conta com menus e legendas em português brasileiro.