Análise Arkade: Mighty No. 9, um jogo de 1987 (ruim) com cara moderna

5 de julho de 2016

Análise Arkade: Mighty No. 9, um jogo de 1987 (ruim) com cara moderna

Foram três anos desde o Kickstarter do projeto até o seu lançamento. Mas nem os milhões de dólares arrecadados, muito menos o enorme tempo de desenvolvimento fez do renascimento de Keiji Inafune algo sem sal, sem graça e, sem querer cornetar muito, uma das maiores decepções dos últimos anos.

A decepção nem é quanto ao jogo em si, que, se fosse apenas um lançamento comum numa Steam da vida, seria classificado apenas como “mais um jogo nota 5”. Apesar dos aspectos que iremos detalhar melhor nesta análise, o problema maior foi em relação ao caminhão de promessas que foi oferecida, especialmente para aqueles que acreditaram no projeto a ponto de investir dinheiro no Kickstarter. Fica a lição para os próximos projetos que desejarem recursos deste tipo.

Lembraram de todos

Análise Arkade: Mighty No. 9, um jogo de 1987 (ruim) com cara moderna

Bom, a primeira coisa a se destacar aqui, foi o interesse de Mighty No. 9 aparecer em todos os consoles possíveis, o que inclui o Wii U, o Playstation 3 e o Xbox 360. Tudo bem que, para um projeto de 2013, é natural que estes consoles, que ainda recebiam jogos de maneira ativa (Gran Turismo 5 e Assassin’s Creed: Rogue são dois exemplos), mas é legal ver os veteranos consoles sendo lembrados. Sim, o foco da indústria no momento está no PS4 e no Xbox One, porém os seus irmãos mais velhos contam com uma presença firme até hoje, com jogadores curtindo ambos os consoles.

Porém, aqui já temos um problema: a versão de PS Vita. Seu estranho atraso (esta versão ainda não está disponível) já mostra um pouco de toda a bagunça que o projeto está apresentando, e também é triste ver uma oportunidade de fechar com chave de ouro uma era tão importante dos games sendo jogada no lixo.

Poderia oferecer um visual surpreendente…

Análise Arkade: Mighty No. 9, um jogo de 1987 (ruim) com cara moderna

Mega Man, o “antecessor espiritual” fez sucesso, entre outros fatores, devido aos ricos detalhes dos seus jogos, guardada as limitações de Nintendos e Super Nintendos. De exemplo, podemos citar a primeira fase de Mega Man X, que é histórica e além de ser bem construída, ainda insere o jogador ao clima de caos que envolve a trama. Isso só para mencionar um.

E é aí que mora uma das decepções: o visual do jogo é cru, vazio, sem vida. Mighty No. 9 se apresenta como um destes jogos dispensáveis da Steam, e se você ver o jogo apenas pelas imagens de screenshots, a grande tendência será a de virar o nariz e partir para procurar algo melhor. Copiando da pior maneira possível o universo Mega Man, a sensação é daquelas cópias que aprendemos a fazer na escola, quando a gente coloca um papel vegetal por cima de uma ilustração, copia com um lápis e passa para outro papel depois. E tudo isso feito por pessoas que só se importaram com isso, sem levar um mínimo de carisma para ninguém, do protagonista aos chefes de fase. Sim, eles contam com bom design, mas não chegam nem perto do carisma dos vilões menos carismáticos do jogo que o inspirou.

Apesar da crítica, é triste ter que falar assim, pois nunca no mundo dos games temos a disposição vários e vários jogos com direções artísticas surpreendentes. Dos gráficos ultra-realistas, até trabalhos como Limbo ou Child of Light, a preguiça visual de Mighty No. 9 acaba sendo uma aula do que não se fazer para futuros trabalhos.

Nada de novo, nada de melhor

Análise Arkade: Mighty No. 9, um jogo de 1987 (ruim) com cara moderna

O gameplay, creio eu, era um dos itens mais aguardados pelos jogadores. Talvez gráficos e sons abaixo da média fosse o suficiente, caso o gameplay chamasse a atenção, oferecendo o “Mega Man” que há tanto tempo aguardamos. Mas infelizmente, a Capcom não demontra interesse no robozinho azul, e a chance de oferecer algo revolucionário passou longe de Mighty No. 9.

Alguém, por exemplo, achou que ainda estávamos em 1987, ao exagerar nas mortes instantâneas. Claro que um desafio hardcore não faz mal para ninguém, porém o design das fases seguem o mesmo princípio da arte visual, que se amplia aos recursos sonoros: é cópia da cópia e só isso. E talvez, para não ficar tão descarado assim, Beck não carrega seus tiros.

E os chefes, embora são bem feitos e caprichados, de longe oferecem a tensão e o drama dos combates de tempos passados, e aqui, não digo apenas de Mega Man, e sim de qualquer jogo de sua época. Os embates com os chefes era algo muito interessante, pois eram seres maiores e mais fortes do que você, e exigiam muito de seu tempo e paciência. Aqui eles aparecem como um outdoor com seus pontos fracos e de maneira robótica, é possível ir vencendo eles, sem muita emoção.

Melhor pegar seu NES e jogar Mega Man lá

Análise Arkade: Mighty No. 9, um jogo de 1987 (ruim) com cara moderna

Embora boa parte da Internet adore fazer isso, particularmente eu não gosto de “descer a lenha” em jogo nenhum, ao mesmo tempo de que precisamos ser justos e oferecer uma crítica honesta e sincera. Não é legal falar mal por falar, mas Mighty No. 9 não ajuda. Sua proposta e esperanças, movidas por uma personalidade do mundo dos games, se tornaram um simples clone, sem alma e sem sal.

O jogo não é de todo ruim, mas a grande carga de confiança que foi colocada nele nos traz uma decepção enorme. Talvez se o jogo fosse oferecido sem Kickstarter, sem promessas de Inafune, nem nada desse tipo, sua receptividade teria sido muito melhor, porém não deixa de ser um jogo mediano, com cara de “mais um”, semelhante aquela avalanche de clones de jogos de luta que apareciam nos 16-bit tentando pegar carona nos Street Fighters da vida…

Mega Man fez o sucesso que fez por oferecer muitas coisas bacanas, que conseguem fazer de sua franquia algo legal de se jogar hoje, e o novo game de Inafune tinha tudo para oferecer elementos interessantes e suficientes para fazer dele um legítimo sucessor espiritual, mas infelizmente, o caminho escolhido foi o da cópia simples, trocando personagens e fazendo algo muito genérico. Vai divertir, claro, porém não irá somar em nada no universo gamer, sendo colocado em um futuro próximo, em várias listas de “grandes fracassos dos games”, ou “piores negócios do Kickstarter“. E falando no financiamento coletivo, mais atenção para os projetos os quais você quer depositar seu rico dinheirinho, hein?

Junior Candido

Conto a história dos videogames e da velocidade de ontem e de hoje por aqui! Siga-me em instagram.com/juniorcandido ou x.com/junior_candido

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