Análise Arkade: Shiny é um simpático e desafiador jogo de plataforma brasileiro
Olha o jogo brasileiro aí, gente! Shiny é um simpático e desafiador jogo de plataforma independente brasileiro que foi lançado recentemente, e a Arkade experimentou e te conta tudo sobre ele agora!
Só para constar…
A Arkade já tinha experimentado uma demo antecipada do jogo, em junho. Se quiser ler nosso preview do game, basta clicar aqui.
Agora sim, vamos ao review!
Shiny foi desenvolvido pela desenvolvedora indie Garage 227 Studios e lançado para PC no último dia 31. O jogo começa muito bem, mostrando uma cutscene onde um grupo de robôs trabalha em uma usina que alimenta uma nave espacial. Dentre eles está o protagonista, que parece muito uma mistura de Wall – E com Big Daddy. O nome dele é Kramer 227, essa informação não é dada no jogo, e sim na página da Steam. O interessante é que Kramer é o nome de uma garagem que fica na Holanda, e como Garage 227 é o nome da produtora, tudo meio que se encaixa.
Um problema acontece nesta usina e Kramer começa a investigar. Logo ele encontra um colega “destruído” e o ressuscita injetando energia nele. Esta será sua missão primordial em Shiny: encontrar seus companheiros robóticos, “ressuscitá-los” dando-lhes um pouco da sua própria energia, e dar o fora dali antes que tudo vá pelos ares.
Os checkpoints
Logo se descobre o melhor elemento do game: seu criativo sistema de checkpoints. Elaborando: Kramer perde energia como um personagem humano perderia oxigênio por estar mergulhando, quando uma função é utilizada, a perda é maior. Se a energia acaba, ele morre. Para recuperar essa energia é necessário encontrar “carregadores” ao longo da fase que reabastecem o robô, quando se usa um deles, o contador adquire uma função de checkpoint.
Porém, não é só isso: cada vez que você morre e retorna a este carregadror de bateria o número no mostrador desce um ponto. Quando zera, é como se fosse um game over, que te obriga a reiniciar a fase completamente. Ou seja, Shiny não é a moleza de vidas infinitas, energia que recupera sozinha e checkpoints automáticos que é moda nos últimos anos.
Gameplay
Shiny não possui combates, a principal ideia é que o jogador trace estratégias para superar obstáculos, o que traz muitos elementos a serem ressaltados. A física do jogo tem mais baixos do que altos, mas esses baixos são problemas comuns de games de plataforma.
Começando pela parte boa, o sistema de pulo é excelente, faz muita diferença se o jogador pega impulso ou não para atingir certo local. Além disso, esse não é um daqueles jogos que permitem “mudar a direção do salto” enquanto já se está no ar, o que te obriga a ser extra cauteloso em cada salto.
No entanto, existem aqueles problemas básicos de ficar à beira do abismo se segurando apenas com a ponta do pé, além de algumas inclinações que o protagonista deveria escorregar para baixo, mas não escorrega. Enfim, é preciso montar estratégias para navegar pelo cenário, como por exemplo saltar para uma plataforma, dar uma pequena deslocada na posição do protagonista e saltar de volta para a plataforma anterior no âmbito de pegar uma bateria.
O jogo também tem uma função de câmera que é muito útil: com as teclas direcionais se pode controlar a viewport, recurso indispensável para seguir adiante ou procurar robôs que precisam ser ressuscitados, caminhos secretos ou mesmo baterias que estejam fora do enquadramento.
Power ups e dificuldade
Também é possível adquirir e utilizar três power ups: uma bolha que protege de pedras, uma armadura contra fogo e um jet pack. O único que apresentou problemas foi a bolha, quando é adquirida, surge um minitutorial com uma pedra caindo. Se por algum motivo a bolha não alcançar a pedra, Kramer morre porque este é um power up que suga MUITA energia, e quando o jogador retorna ao último check point, as setas esquerda e direita param de funcionar e é preciso reiniciar toda a fase.
O power up da bolha mostra o nível de dificuldade do game, que possui um característica também comum de games de plataforma: O balanceamento inconstante. Muito provavelmente os membros da Garage 227 jogaram muito o primeiro Crash Bandicoot para Playstation, um jogo que também cobrava estratégias de plataforma dado o seu nível muito alto de dificuldade.
Pois então, Shiny tem o mesmo balanceamento. Existem 21 fases ao todo, sendo que a segunda é muito mais difícil do que a décima primeira, por exemplo. Além disso, fica o aviso de que o nível de dificuldade do jogo é alto, também incluindo estratégias as quais fazem parte o jogador morrer para conseguir uma bateria ou ressuscitar um robô (algo como aquelas moedas inalcançáveis de Donkey Kong).
Salvando robôs
As já mencionadas baterias e robôs tem funções conceituais comuns de jogo de plataforma. A primeira é como as caixas que devem ser destruídas nos jogos do Crash, estão espalhadas pelas fases e se deve encontrar todas. Destas, algumas podem recuperar um pouco a energia, mas são até raras. No final da fase, a quantidade de baterias encontradas restauram a energia da nave. Os robôs são como as letras K O N G dos jogos do Donkey Kong, maioria das fases tem quatro, mas podem haver pequenas exceções.
Quando salvos, eles retribuem dando uma bateria branca que serve para carregar a barra de especial do Kramer. Ao preencher esta barra, se torna possível usar esta opção, que é como a estrela dos jogos do Mario. No final da fase, os robôs servem para integrar a tripulação da nave, mas fica a impressão que eles podiam ter mais funções narrativas ou conceituais.
Por exemplo: existem robôs que são pequenos e outros que são grandes. Poderia ter sido feito à partir daí trechos bloqueados que o robô grande desbloqueia em gratidão ao jogador, ou mesmo portas que só podem ser abertas pelos demais robôs (algo como HeadLander fez recentemente), mas a produtora preferiu não dar muita utilidade a eles.
O jogo dá suas escorregadas
Como já mencionado, a ideia do jogo é que se façam estratégias para superar obstáculos, mas esses obstáculos se tornam repetitivos. O pessoal do Garage 227 deve ter produzido Shiny debaixo de muito calor, e os ventiladores necessários devem ter inspirado as centenas de hélices que existem no jogo. Tem fases com hélices em todo o canto. O mesmo acontece com pedras, fornalhas e plataformas que caem se o jogador fica sobre elas por muito tempo. Fica a impressão que houve muito reaproveitamento de material.
Existem também nas fases de alta temperatura barras que deveriam causar variação de temperatura em Kramer, só que ele permanece normal. Se era pra ser assim, então não era necessário colocarem barras de calor, mas sim barras normais. Aliás, não é sempre que o robô encosta na chama emitida por uma fornalha que o fogo realmente causa dano, há um pequeno problema de colisão aí.
Por fim, acho válido ressaltar um problema que houve durante nossos testes: o jogo simplesmente sumiu com nosso save já perto do final, obrigando-nos a jogar tudo novamente para fazer esta crítica. Além disso, foi disponibilizada uma atualização de 3,5 GB que não devolveu nossos saves e aparentemente só tirou a taxa de quadros que era mostrada na tela, o que é estranho considerando que é um arquivo de 70% do tamanho total do jogo. Claro que jogamos antes do lançamento oficial, o que justifica um pouco os problemas, mas é bom avisar, né?
Audiovisual
Por usar o motor Unreal 4, os gráficos de Shiny são excelentes, muito provavelmente estão entre os melhores já feitos em um game brasileiro, se não forem de fato os melhores. Os detalhes das pedras, o cenário ao fundo, tudo está muito bonito, lembrando de alguma forma os cenários da franquia Bioshock. O jogo foi jogado na configuração máxima e jamais apresentou problema de lentidão, com exceção de uma fase onde cai neve. Obviamente a configuração do computador estava apta a rodar Shiny no máximo.
Os cenários são tão bonitos e atmosféricos que dá vontade de explorar cada cantinho das fases. Claro que rolam umas gafes — existe mais pro final um andaime que conduz o jogador ao longo de várias fases, é estranho ver vigas deste andaime passando “por dentro” dos cenários, mas este é um problema estético que não afeta a experiência em si, e no geral o visual de Shiny realmente impressiona.
A trilha sonora é competente: não existem músicas ruins, mas também não há nada memorável, que fique na cabeça. A única exceção é o curto riff que toca quando obtemos um power up, mas infelizmente é por pouquíssimo tempo. Em geral os sons de efeitos estão ok, quando o robô usa a energia para ressuscitar outros robôs, sons de pulo, hélices… Não há do que reclamar.
Conclusão
Nada mais justo do que perguntar se vale ou não a pena comprar Shiny, certo? Amigo, você pagou mais ou menos o mesmo preço para assistir Batman Vs Superman e Esquadrão Suicida no cinema, e deve ter saído bem frustrado da sala de projeção. Então, é claro que vale a pena comprar Shiny, pois ele é um game que oferece excelentes gráficos, história e trilha sonora competentes e é ótimo para quem gosta de dificuldade alta.
Shiny não é um jogo perfeito, mas sem dúvida acerta mais do que erra, e o fato de termos um produto com este nível técnico produzido em solo brasileiro já é motivo para comemorar. Se você curte jogos de plataforma difíceis, e quer ver o que os estúdios brasileiros andam produzindo com a Unreal Engine 4, não deixe de experimentar! Sem dúvida o custo x benefício vai lhe render mais diversão do que ir ao cinema ver certos filmes.
Shiny foi lançado em 31 de agosto no Steam. Em breve, o game também chegará ao Xbox One.