Análise Arkade: o criativo Superliminal te coloca para pensar sob outra perspectiva

2 de dezembro de 2019
Análise Arkade: o criativo Superliminal te coloca para pensar sob outra perspectiva

Prepare-se para pensar fora da caixa e rever seus conceitos de perspectiva em Superliminal, um puzzle game criativo e bizarro que lembra um bocado games como Portal e The Stanley Parable!

Perdido no mundo dos sonhos

Tal qual os jogos supracitados, Superliminal parte da premissa de estarmos em um ambiente controlado bizarro, onde experimentos estranhos são feitos. O ambiente, no caso, é o Instituto Pierce, que está usando uma tecnologia inovadora chamada SomnaSculpt para realizar estudos do sono e terapia do sonho.

Claro que algo acaba não dando muito certo, e estamos na pele de um paciente que está perdido neste “mundo dos sonhos” que está sendo testado. Os cientistas simplesmente não sabem onde nosso personagem foi parar, e vão fazer questão de enviar arquivos de áudio para nos certificar disso. Há também uma IA estilo GlaDOS, que nos dá dicas de forma um tanto irônica enquanto tentamos escapar deste sonho maluco.

Análise Arkade: o criativo Superliminal te coloca para pensar sob outra perspectiva

Não é assim uma baita história, mas tem estilo e, principalmente, humor. O tom irônico e jocoso do game muito me agrada, e se eu nunca fiquei particularmente empolgado pela narrativa, os audiologs do cientista e da IA que encontramos durante o jogo sem dúvida mantiveram meu interesse e minha vontade em seguir em frente.

É tudo questão de perspectiva

Em Superliminal tudo é sobre perspectiva. Coisas grandes podem se tornar pequenas, coisas pequenas podem ficar gigantes. Tudo depende de como você olha, da perspectiva pela qual você olha. Este é um game linear do tipo “resolva puzzles para prosseguir”, e todos os puzzles brincam de desconstruir a lógica da perspectiva para testar a mente do jogador.

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Simples cubos e peças de xadrez podem ficar gigantes!

Por exemplo: em cima do tabuleiro, uma peça de xadrez é pequena. Porém, se pegamos ela e nos afastamos da mesa, mantendo o foco na peça, ela pode ficar tão grande quanto a mesa. E, ao soltarmos a peça, voilá, ela realmente ficou maior do que a mesa! É tudo questão de perspectiva.

Esta mecânica de Superliminal é difícil de explicar em palavras, o que faz dele aquele tipo de jogo que você só entende realmente como funciona jogando. É uma experiência curta — dura cerca de 3 horas, se você não empacar muito –, mas traz puzzles muito criativos e distorce seus próprios conceitos o tempo todo para nunca cair na mesmice.

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A lata de refrigerante pode ficar maior que a máquina da qual onde ela saiu!

Por exemplo: o jogo também coloca pinturas em lugares estratégicos, com elementos que “vazam” para diferentes objetos ou mesmo salas. Quando olhamos tudo aquilo do ângulo certo — pela perspectiva certa — “pop”, o objeto pintado torna-se real, e agora podemos manipulá-lo e utilizá-lo de alguma forma para prosseguir.

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Tipo assim: olhar pelo ângulo certo transforma aquilo ali num cubo “de verdade”

Mais tarde na campanha, encontraremos objetos com portas, que podemos “redimensionar” para levá-los para lá e para cá, e funcionam mais ou menos como os portais de Portal. Entre por uma porta, saia pela outra… o segredo é posicionar a porta “de saída” estrategicamente, para que ela lhe permita sair onde você quiser.

Superliminal nunca é óbvio, e está sempre testando o cérebro do jogador. Ele não demanda uma super “inteligência”, mas vai exigir muita criatividade e percepção espacial. É o tipo de jogo que faz a gente se sentir genial quando saca a solução de um puzzle depois de alguns minutos de tentativas e erros. A recompensa? O direito de avançar e encontrar um enigma ainda mais desafiador!

Audiovisual

Por ter esta vibe inovadora que brinca com perspectiva de formas bem pouco convencionais, Superliminal é puro game design: seus ambientes podem até simular corredores de hotel , quartos e salas de pesquisa genéricas, mas pode ter certeza que o posicionamento de cada elemento do cenário foi meticulosamente calculado para que a ilusão e a perspectiva funcionem como deveriam.

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Não se deixe enganar pelos cenários mundanos: nada aqui é muito normal

É muito legal como o jogo brinca com seus próprios conceitos. Estamos no ambiente controlado de um sonho, mas podemos encontrar saídas dali, ir para além da cortina, invadir os “bastidores” desta realidade simulada. Por trás dos cenários, podemos ver escadas, caixotes, pallets e empilhadeiras, deixando claro que nada daquilo é real.

Até o áudio corrobora com a construção dessa ilusão: enquanto estamos no sonho “controlado”, há uma simpática trilha sonora que dá um tom leve à exploração. Quando pisamos “nos bastidores”, porém, a trilha para, tudo fica quieto, quase assustador… como um silencioso lembrete de que estamos metendo o nariz onde não fomos chamados. É apenas um detalhe, mas é bem legal, e enriquece muito a atmosfera do jogo.

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Os “bastidores” do jogo

Por toda esta questão de perspectiva e imersão que Superliminal constrói com maestria, fiquei o tempo todo pensando como ele ficaria incrível em VR, colocando o jogador (ainda mais) dentro de seu mundo. O jogo não é compatível com VR, mas como “isso ficar ainda mais legal em VR” não é um pensamento muito comum de se ter, achei que valia a menção. Mesmo tendo sofrido um pouco de enjoo/cinetose enquanto jogava, eu adoraria revisitar o mundo do jogo em realidade virtual!

Ah, e vale ressaltar que Superliminal possui menus e legendas 100% em português! O jogo tem audiologs hilários, então isso é um baita ponto positivo, pois todo mundo vai poder entender as piadas — e, espero, que todos também sejam capazes de captar as ironias.

Conclusão

Jogos totalmente baseados em puzzles precisam ser muito bons para não se tornarem entendiantes. Nem todo game consegue isso, mas, felizmente, Superliminal consegue. Ele cria suas próprias regras, mas distorce-as o tempo todo, sempre se reinventando e conseguindo surpreender o jogador com novas ideias — todas atreladas à premissa básica de brincar com a perspectiva que o jogo propõe.

Análise Arkade: o criativo Superliminal te coloca para pensar sob outra perspectiva

Se você está atrás de algo bem humorado, criativo e diferente, este é um jogo que tem tudo para te agradar. Especialmente recomendado para quem é fã de Portal, The Stanley Parable e outros jogos “pirados” do tipo, Superliminal é mais uma pérola indie que esbanja criatividade.

Superliminal foi lançado em 12 de novembro, exclusivamente para PCs via Epic Games Store.

Rodrigo Pscheidt

Jornalista, baterista, gamer, trilheiro e fotógrafo digital (não necessariamente nesta ordem). Apaixonado por videogames desde os tempos do Atari 2600.

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